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HIERO ATENDEU A PORTA COM um olhar faminto. Assim que entrei em seu quarto, rodou a chave na fechadura. Olhei para ele assustada, mas não tive nem tempo de reagir: ele me puxou pelo braço e me levou para perto da cama. Com um sorriso diabólico nos lábios, empurrou meus ombros e caí sobre o colchão macio. Eu estava em estado de choque.

Então, pulou em cima de mim. Puxou sua camisa com as duas mãos até rasgá-la em dois, mostrando seus músculos torneados. Nesta hora comecei a gritar de horror e desespero, colocando as mãos sobre o meu corpo e tentando me proteger como podia...

Abanei a cabeça com veemência, fazendo aquele devaneio espocar como uma bolha de sabão. Eu só poderia estar ficando louca! Sim, uma semana sem dormir direito faz a gente começar a misturar a realidade com a fantasia, então eu não devia estar batendo muito bem da cabeça. Espere um pouco, a culpa não é só minha! Por que raios ele não escreveu logo o que queria no bilhete em vez de fazer todo esse suspense? As minhas suspeitas são de que ele no fundo estaria se divertindo com a minha angústia em antecipar o que viria. Ahg, aquele maldito...! Já não basta a humilhação que me fez passar bem no meio da rua?

Várias outras cenas se passaram na minha mente. Talvez eu não corresse tanto risco por não estarmos sozinhos em casa. Mamãe não trabalhava, pelo menos não formalmente. Ela costumava fazer alguns artesanatos e vender milhares de coisas por catálogos — como os da Hermes e da Avon. Então, mesmo que papai estava no trabalho e meus irmãos, estudando, eu tinha certeza de que haveria alguém por lá para me socorrer, embora ela passasse a maior parte do tempo vespertino fazendo sua máquina de costura zumbir.

Eu sentia as palmas das mãos molhadas e trêmulas quando cheguei em frente ao quarto. Por precaução, vesti meu longo macacão jeans com vários botões e coloquei no bolsão todo o resto da minha mesada. Não havia sobrado grandes coisas, mas tendo convivido com garotos a minha vida inteira, concluí que eles só se satisfazem com dinheiro.

Respirei fundo antes de bater com o dedo indicador na porta. Quando sua voz grave permitindo a minha entrada veio do outro lado, meu coração parecia um velho relógio cuco quebrado. Abri a porta vagarosamente, querendo adiar cada segundo possível.

Hiero se encontrava debruçado sobre a mesinha de centro. Seu foco de atenção eram seus livros e ele parecia muito ocupado anotando algo no caderno.

— Pode deixar a porta aberta — disse sem interromper o que estava fazendo.

Sentei-me na pose de lótus do outro lado da mesa. Ele prosseguia ocupado, procurando algumas palavras no dicionário Larousse Inglês/Português. Seu olhar não levantou e, passados alguns momentos, comecei a me sentir terrivelmente desconfortável.

Bufei e torci os lábios, retirando a quantia do bolso frontal do macacão. Quase como um tapa, coloquei abruptamente as cédulas bem no meio do seu caderno com a palma virada para baixo.

Segredos dele, Mentiras delaOnde histórias criam vida. Descubra agora