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TIVE A SENSAÇÃO DE SER SUGADA de dentro de um buraco negro por uma espécie de onda elétrica e gelada, a qual atingiu em cheio o meu rosto e escorreu pelo meu pescoço. Sentindo aquilo entrar em meu nariz e em minha boca, desatei a tossir. Ergui o tronco rapidamente sobre os lençóis e passei os dedos em minhas pálpebras espremidas, enxugando-as. Aquilo era... água?

A beirada do colchão afundou, uns dedos levantaram meu queixo e um pano grosso começou a percorrer minha cara. — Graças a Deus, Bea, já estava ficando assustado. — Bruno soou mais bravo que preocupado. — Ainda bem que a mãe não veio aqui e também não viu nada ontem, senão você estaria frita!

— Tá bem, chega! — Livrei-me das suas mãos e finalmente abri os olhos. Além do rosto sisudo de meu irmão, constatei, com certo espanto, que havia dormido com a mesma roupa que usei na festa: até as botas ainda estavam em meus pés. Um cheiro meio ácido emanou do tecido do meu casaquinho, um odor bem parecido com o meu hálito, na verdade. Franzi o nariz e tapei a boca.

Bruno levantou-se e jogou a toalhinha no lugar onde estava sentado. — É melhor colocar logo essa roupa para bater e escovar bem os dentes...

Se ele falou outras coisas, não ouvi. Minha mente estava ocupada demais rebobinando os acontecimentos da noite anterior, elucidando as cenas em ordem regressiva. Apertei os lados da cabeça. Parecia que ela estava rodando em um espremedor de laranjas. Apesar da dor latejante, tentei me concentrar. Luke, o ponche vermelho, Karina, a aglomeração e música, a ponte... Hiero.

Levantei-me da cama em um pulo e agarrei o pulso do meu irmão antes que ele deixasse o quarto.

— E Hiero?! — perguntei, os olhos do tamanho de dois pêssegos.

Bruno comprimiu os lábios. — Ele foi embora há alguns minutos.

— Como assim? Como ele... Por que você não me acordou?!

— O que acha que fiquei fazendo aqui até agora? O voo dele tem horário; ele não podia mais esperar.

"Tchau, Bea. A gente se vê... algum dia".

Minhas mãos afrouxaram e caíram ao lado do meu corpo. Como se soubesse de toda a história, Bruno puxou-me para um abraço fraternal e alisou os meus cabelos. Em seu peito, deixei-me levar pelas lágrimas.

— Ele me pediu para te entregar uma coisa... Vou buscar no meu quarto. — disse, em tom mais brando e afetuoso. Porém, logo se desprendeu de mim, fazendo uma careta. — Ai, não dá. Vai logo tirar esse cheiro de carniça, você tá parecendo um gambá bêbado.

Quando ele saiu, apressei-me em tomar um banho e esfregar minhas roupas com sabonete debaixo do chuveiro. Eu nem sabia como havia sido tão estúpida de acreditar que aquela bebida vermelha era um simples suco de frutas!

Bom... na real, eu sabia sim. É que, depois daquilo, não conseguia pensar direito – e, para ser sincera, nem queria pensar direito. Eu só queria estar envolvida por um vácuo e gritar a plenos pulmões.

Segredos dele, Mentiras delaOnde histórias criam vida. Descubra agora