1.

2.5K 216 581
                                    

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


TODO MUNDO TEM UM SEGREDO. Ou melhor, um monte deles guardados no porão ou dentro de algum baú precioso, cuidadosamente trancado a sete chaves. Pode ser que sejam confidências obscuras e pesadas — talvez pecados vergonhosos demais para virem à tona — ou pode ser algo bobo, como aquela flatulência que todo mundo finge que não soltou.

É claro que eu, como qualquer outra adolescente, tenho vários deles e sou muito boa em guarda-los. Calma, há alguns que posso compartilhar com você. Primeiro, eu detesto cebolinha! Mas nunca falo nada quando minha mãe coloca esse capim fedido na comida porque, bem, porque ela ama cebolinha. E é muito sensível quanto a opiniões sobre sua culinária, já que demorou anos para dominar qualquer técnica.

Segundo, eu colocava lenços de papel no bojo do sutiã quando estava na sexta série. É, eu sei. Mas ao contrário da maioria das meninas da minha idade ao atravessarem o pandemônio da puberdade, eu ainda não havia descoberto as maravilhas do desenvolvimento das curvas. Sentia-me traída pela natureza ao ter as malditas cólicas todo santo mês, mas peito e bumbum que era bom, nada.

Ah... este daqui... Bom, acho que você vai rir de mim. Fico um pouco envergonhada de contar, mas... eu nunca me apaixonei. Nunquinha. Ah, está bem. Tirando aquelas paixonites com os membros do *NSYNC ou os sonhos bobocas com o amigo do meu irmão que já está na faculdade, eu nunca tive algo que chamasse de amor.

Já imaginei inúmeras vezes como seria o exato momento em que eu descobrisse estar amando e queria que fosse exatamente assim: uma cena digna de estar em algum romance best-seller, com sinos batendo, nuvens se abrindo e tudo o mais. Quando sentisse aquele desabrochar das borboletas no estômago, as pernas bambas e um calor intenso no peito, eu teria certeza... seria aquela hora.

É claro que isto está enterrado muito bem a sete palmos. Já pensou se tudo fosse parar nos ouvidos do meu irmão Bruno? Aposto que iria fazer troça de mim e dizer que estes não eram sinais de amor e sim de um ataque cardíaco. E aí eu não iria ter um segundo de paz até fazer uns... oitenta anos.

Tá bom, vai. Pode ser que ele tivesse razão e que isso seja uma verdadeira tolice. Mas é que, apesar dessa minha aparência It Girl – moderninha, cheia de charme, carisma e finesse – ainda trago dentro de mim uma garotinha romântica (e talvez, admito, um bocadinho ingênua) que acredita piamente no amor e sonha com o famigerado "e viveram felizes para sempre".

Ah, e por falar em aparência, chegamos ao principal dos meus segredos: aquele que você, ao conviver intimamente comigo, vai acabar percebendo mais cedo ou mais tarde. Para as pessoas de fora – e a isso, me refiro às minhas amigas, colegas de sala, professores, e até à vizinhança do bairro – eu sou a adorável Beatrice Cavalcanti, a delicada garota do sorriso meigo, do rosto sempre impecável e otimista, dos cabelos arrumados, das palavras doces e gentis, das roupas (ok, quase sempre de liquidação ou ponta de estoque, mas isso não vem ao caso) elegantes e arrumadas, do andar tão gracioso quanto uma pluma a dançar com o vento. Enfim: a representação da boa-moça-de-família educada e estudiosa. É assim que me veem. E foi dessa forma que conquistei o status de uma das garotas mais populares do colégio, da filha mais simpática do bairro e da nora que todas as amigas da minha mãe gostariam de ter.

Segredos dele, Mentiras delaOnde histórias criam vida. Descubra agora