O CAMINHO ESCOLHIDO POR HIERO levou-nos de volta ao pergolado. Sentado de frente para mim com as pernas cruzadas sobre o banco, o rapaz me observava tirar os curativos daquela sacolinha: algodão, água oxigenada, band-aids e emplastros. Eu mexia muito as mãos, procurando disfarçar o quanto elas tremiam.
— Deixe-me ver esse estrago — pedi, relutando em olhá-lo fixamente.
O jovem inclinou-se para frente, parando seu rosto a poucos centímetros do meu.
Naquele momento, enquanto tentava desvendar o que estaria por trás da sua expressão meio misteriosa, meio galante, várias possibilidades se passavam em minha cabeça – mas nenhuma fazia sentido. As peças não se encaixavam. Meu coração queria se apegar a um fiapo de esperança de que talvez, só talvez ele sentisse uma coisinha por mim; porém, onde entrava a Mima nessa equação? Será que tudo não passava de uma paranoia minha? Tipo, eu quem estava o interpretando mal e superlativando suas ações meramente amigáveis em uma paixonite aguda?
Quem sabe. Nunca tinha me sentido assim em toda a minha vida! Quando ficava perto dele, era como se entrasse em combustão e não conseguia raciocinar direito. Parecia que todos os meus neurônios entravam em uma debandada desesperada, gritando e trombando-se uns nos outros. As famosas borboletas resolviam bater as asas e dar piruetas ao mesmo tempo e meu coração explodia com a intensidade de milhares de fogos de artifício.
Não existia outro veredito: eu estava ficando mesmo maluca.
E ali, contemplando aquela obra-prima esculpida pela natureza, tentava conter essas intensas emoções com todas as forças. "Você é boa fingindo, Bea. Vamos, cara de paisagem!", pensei, respirando fundo.
Com o polegar e o indicador, segurei o queixo do rapaz e lentamente virei sua cabeça de um lado ao outro, observando alguns arranhões e focos de sujeira aqui e ali. Uma leve fragrância de espuma de barbear flutuou no ar, misturado ao perfume do seu shampoo. Percorri a sua testa ligeiramente curva, as bochechas magras, e passei pelo maxilar um pouco anguloso. Sua pele era tão firme, macia; e assim, bem de pertinho, consegui ver sardas muito clarinhas salpicando-lhe as maçãs do rosto e o nariz como uma delicada galáxia. Sorri. Aquele sinalzinho perto do queixo também era uma gracinha. Então, acabei parando em seus lábios... e me detive ali alguns segundos.
— Está muito feio? — Ele abriu um dos olhos e levantou as sobrancelhas em preocupação.
Na mesma hora, desviei o olhar e pigarrei. — N-não, só uns pequenos arranhões, e esse corte... Espero que não fique cicatriz.
Então, reparei numa mancha avermelhada saindo pela gola da camiseta, aparentemente vindo do peito em direção ao ombro.
— Oh! E isso aqui?
— O que tem? — Ele virou o pescoço e fez uma careta de dor. — Ah, pra isso que comprei o emplastro. — E puxou o pano para baixo, numa tentativa de verificar a extensão da ferida, revelando-me um pouco mais de pele do que estava acostumada a ver.
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Segredos dele, Mentiras dela
Ficção Adolescente[🎖️Destaque do mês de março/2023 no WattpadRomanceLP 🌸 FINALIZADA] Se existisse um concurso de Miss Dissimulada, Beatrice Cavalcanti com certeza ganharia em primeiro lugar. Ela é a personificação exata da adolescente perfeitinha: bonita, estudios...