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— COMO ASSIM, SUAS PASSAGENS estão compradas? — Tentei manter o tom de voz calmo, apesar de sentir como se uma faca estivesse entrando em minhas costas. — Pensei que isso só aconteceria após você fazer a prova de avanço de curso. E só se você passasse.

Hiero suspirou profundamente. Era a hora de tocar nesse assunto.

— Vamos entrar. — disse ele, abrindo o portão.

Caminhamos em silêncio pelo caminho de pedras até o pergolado e nos sentamos no banco estofado. Forcei um sorriso, mas não conseguia controlar a agitação das mãos cruzadas em meu colo.

Pensativo, o rapaz projetou o corpo para frente e apoiou os cotovelos sobre os joelhos. A luz fraca do crepúsculo conferia ao seu cabelo tons amendoados, os quais caíam e paravam um pouco acima dos seus olhos um tanto nublados.

— Eu sei, Bea. Também pensei que seria assim, mas eles estão tão confiantes da minha aprovação que já providenciaram tudo de antemão. Passagens, documentos, papelada, tudo mesmo. Meu padrasto me inscreveu na Universidade de Michigan e faltam apenas duas etapas para a minha admissão: o diploma de ensino médio e o teste de proficiência de inglês. O tabuleiro está todo montado para mim. Melhor dizendo... sempre esteve.

— Desde quando? — perguntei com dificuldade, minha voz parecendo um bagaço.

— Desde... — Ele umedeceu os lábios, hesitando. — Desde a minha chegada. Desde Fortaleza.

Fechei os olhos.

— E quantos anos é o seu curso?

— Quatro anos, no mínimo, mas se precisar arrastar a grade, pode durar até seis.

— Oh, meu Deus... — Massageei as têmporas e apertei o rosto com ambas as mãos em seguida.

— Bea...

Hiero tomou uma das minhas mãos com delicadeza. Seu olhar triste e desesperançado enfraqueceu a barreira que mantinha minhas lágrimas presas.

— E depois que você se formar? — Pisquei, tentando fazê-las voltar. — Planeja voltar? Ou vai continuar morando nos Estados Unidos?

— Meus pais não investiriam em meu futuro sem pensar no retorno. Eles querem que eu ajude a gerir os negócios de meu padrasto lá no Rio Grande do Sul. Mas há uma forte possibilidade de expandir para o exterior, e se isso acontecer, eles contam com a minha ajuda. Então... talvez eu acabe não voltando mais para o Brasil.

O quê... ? Disso eu não sabia! E eu? Onde eu entro nessa história? Vários questionamentos rodavam em minha mente como um ventilador enferrujado, mas não conseguiam passar pela minha boca. Estava com medo. No fundo, eu já sabia a resposta. Nesse brilhante futuro previamente arquitetado pela família dele, não havia espaço para mim. E, se Hiero tentasse me levar na bagagem, ela ficaria pesada demais e acabaria se tornando um estorvo.

Segredos dele, Mentiras delaOnde histórias criam vida. Descubra agora