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COMO SE ESTIVESSE SOB efeito de um feitiço, meus olhos não conseguiam desprender-se da última sentença. O som lúgubre das batidas do meu coração foi substituído pelo das gotas de chuva no telhado.

Não. Não era literal. Não podia ser. Hiero escreveu aquilo como uma figura de linguagem, tipo uma metáfora, ou uma hipérbole. Eu o conhecia, e tinha absoluta certeza de que nem dentro do pior dos pesadelos ele seria capaz de fazer uma coisa dessas.

"Naquela mesma noite, ele se suicidou", a voz de Bruno soou distorcida em meus ouvidos.

Não, ele não seria, ele não seria...! Asseverei repetidas vezes a mim mesma. Algo deve ter acontecido naquela noite; algo plausível, justificável, e eu tinha de descobri-lo.

Com as mãos trêmulas, virei a página. Senti um arrepio por todo meu corpo ao ler outra revelação.

"13/07/2001

Chegou uma hora em que era óbvio que o casamento deles havia acabado. Minha mãe estava esgotada de todas as formas, e não havia mais pelo o que lutar. Eu ficava me perguntando então por que continuávamos a viver naquele inferno.

Até que um dia, eu entendi.

Havia uma razão pela qual minha mãe não ia embora.

Eu estava fazendo a lição de casa encolhido ao lado do toca-discos, um dos meus lugares favoritos, quando meu pai veio com uma caixa de sapatos nas mãos. Eu tinha quase certeza que estava chapado, pela forma que me olhava. Como se estivesse abrindo um presente depois da ceia de Natal, tirou da caixa um revólver.

Um pânico tomou conta de mim. Queria fugir, mas minhas pernas não obedeciam. Ele colocou balas no cilindro giratório e ficou rodando aquilo como se fosse uma brincadeira super divertida. Então, apontou aquela merda pra mim, fingiu atirar e caiu em uma gargalhada.

Eu nunca havia parado para pensar na relevância das pessoas terem armas de fogo em casa, até porque era algo bem comum – parecia que todo mundo na vizinhança tinha uma. Mas, a partir daquele momento, eu sentia como se tivéssemos uma bomba-relógio em casa prestes a explodir.

Talvez a única valência fosse que, se soubesse o esconderijo dela, poderia usá-la em minha defesa, se necessário.

Acabei a encontrando no meio das tantas outras caixas no fundo do guarda-roupa deles.

Só tinha um problema.

Eu duvidava que teria coragem de ao menos segurá-la.

14/07/2001

Depois de um tempo, ele começou a ameaçar de se matar caso ela o deixasse. Ou, pior, de nos matar primeiro e depois se matar.

Era aterrorizante.

Segredos dele, Mentiras delaOnde histórias criam vida. Descubra agora