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A CHUVA FINALMENTE PAROU e tudo o que eu conseguia ouvir era o som agudo das gotinhas das calhas a beijarem as poças no chão. Ao longe, um galo começou a entoar seus lamentos. Eu também queria chorar, mas estava exausta demais para isso. Não havia pregado o olho nem por um segundo sequer: sempre que o fazia, aquelas cenas tenebrosas surgiam e me assombravam. Eu tremia, chorava, me acalmava e tudo começava outra vez. Depois de umas horas, não tinha mais forças nem para produzir lágrimas. Assim, fiquei apenas sentada no chão, encostada na cama, olhando perdidamente para aquele manto escuro cravejado de estrelas.

Era por volta das quatro e meia quando decidi me levantar e tomar um banho. Fitei a palha que era meu cabelo, os olhos lamacentos e a pele sem viço. Céus, estava parecendo um zumbi. Na verdade, eu meio que era como um zumbi – não apenas por estar deformada pelo cansaço. Parte do que eu acreditava sobre minha vida morreu naquela noite.

Olhei para a minha maletinha de maquiagem e fiquei com vontade de jogar tudo aquilo na privada. Só que... sentia uma algema invisível me prendendo a ela.

Xinguei mentalmente ao tremer o delineado pela terceira vez e quase tive um troço quando o rímel borrou. Joguei o bastão na pia com raiva. Por que diabos eu tinha de continuar com isso?

Porque essa é você, Bea: uma escrava de máscaras, uma falsidade ambulante.

Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto, fazendo com que a tinta preta borrasse ainda mais.

A contragosto, fiz os retoques necessários. Escovei os cabelos e vesti o uniforme do colégio. Coloquei um casaco bonito e calcei um par de botas. Ao abrir a gaveta para escolher uma boina, meu olhar encontrou o boné camuflado.

Senti a garganta apertada. Ainda não tinha criado coragem para devolvê-lo. Elevei o acessório ao rosto e senti o perfume característico do seu dono. Então, como se quisesse guardá-lo para sempre dentro de mim, apertei-o contra meu coração e fiquei assim por longos minutos.

 Então, como se quisesse guardá-lo para sempre dentro de mim, apertei-o contra meu coração e fiquei assim por longos minutos

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Acho que fui a primeira aluna a chegar ao colégio. Tudo estava escuro e silencioso. Fiquei zanzando pelos corredores vazios, até que vi a dona Célia, responsável pela secretaria, destrancando a sala dos professores.

Segredos dele, Mentiras delaOnde histórias criam vida. Descubra agora