Desenvolvendo Relações

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Demorei, tive alguns problemas de percurso, porém estou aqui.
Eu: esse capítulo vai ser menor
Eu tbm: vish, ficou maior.

Estou atendendo a pedidos nesse capítulo, então espero que gostem.

P.s.: comentários fazem seus autores voltarem mais rápido.

Boa leitura.

****************

O vento uivava lá fora, açoitando as janelas e anunciando a tempestade próxima, mas o quarto encontrava-se envolvido em uma temperatura agradável e o corpo de Ella pressionado ao seu proporcionava calor o suficiente para não ser necessário usar mais roupas apesar da nevasca. Alcina acariciou os cabelos da jovem, as chamas bruxuleantes tornaram as madeixas avermelhadas como o próprio fogo e Ella pareceu irresistível, como se o brilho quase sobrenatural lançado sobre sua figura a atraísse tal qual uma mariposa em direção à luz.

Ella tinha as costas coladas ao seu corpo e dormia pacificamente, parecia quase sorrir em seu sono tranquilo. Alcina também sorriu ao notar o hematoma que se formava em seu pescoço, talvez tenha sugado o lugar com muita força, mas não se arrependia e Ella não pareceu contra a ideia, dado a forma como gemeu e rebolou em seu colo.

Alcina tinha cada vez mais certeza de que aquela jovem havia entrado em sua vida para virar tudo de cabeça para baixo, inverter a ordem e o sentido das coisas ao seu redor sem a mínima intenção ou piedade para com seus sentimentos. A mistura irresistível entre uma mulher forte, guerreira, e uma jovem doce, de sorriso fácil, a tomara com tal força que só poderia ser explicada como bruxaria; fascinava-a assistir Ella vivendo no castelo, a forma como sorria mostrando as covinhas ao aprontar alguma ao lado de suas filhas, como seus olhos brilhavam a cada vez que Alcina lhe dispensava um gesto carinhoso ou mesmo como relaxava ao ler um livro; apesar dos obstáculos dolorosos que o destino tratou de colocar em seu caminho, a jovem caçadora não se permitiu ser parada por qualquer um deles e seguia devorando a vida com ainda mais intensidade. Precisava admitir: era como assistir um botão desabrochar em algo ainda mais belo; a evolução faria maravilhas à Ella e se já poderia ser considerada bonita, futuramente seria uma beldade.

A confissão da jovem acerca de seus sentimentos roubaram as palavras e o raciocínio de Alcina. Há tempos percebia como Ella a observava quando achava que estava distraída o bastante para não notar, em outros momentos perdia-se facilmente em pensamentos, hora parecia apreensiva hora sorria sozinha; todos os sinais, claros e fortes, estavam lá e Alcina os ignorou o quanto pode até que a própria Ella confessou os sentimentos que tentava sufocar no peito. As palavras saíram aos borbotões, sem que pudesse controlar, como se sentimentos tomassem o controle e buscassem pela libertação que tanto desejavam.

Elas não falaram sobre isso. Alcina não sabia o que dizer e Ella parecia feliz o suficiente em estar em seus braços, assim os dias se seguiram e o assunto foi esquecido, ainda que lhe causasse certa inquietação. Em sua longa vida, Alcina já havia tido a oportunidade de conhecer pessoas de todos os tipos; muitos ainda acabavam em seu castelo, perdidos ou tentando invadir, e há muito desistira da ponte levadiça ou qualquer outro meio de segurança; era o jeito mais fácil de conseguir comida afinal de contas, mas nunca atraíra ninguém como Ella, alguém disposta a amar um monstro. O pensamento a fez sorrir e acariciar o ponto atrás da orelha da jovem adormecida em seus braços, fazendo-a se mexer levemente; Ella ficaria tão brava se a ouvisse referindo-se a si mesma ou às filhas como monstros!

Acariciou seus cabelos novamente e dessa vez Ella abriu os olhos, levantou a cabeça e olhou ao redor do quarto envolto em penumbra, a única fonte de luz sendo das chamas bruxuleantes da lareira, e gemeu em forma de protesto.

- Está escuro e você deveria estar dormindo.

Ella resmungou ao se virar para ficar de defronte a Alcina e esconder o rosto em seus seios como adorava fazer; um braço foi jogado sobre sua cintura e a jovem tentou dizer-lhe algo que foi incompreensível.

- Não consigo entendê-la, draga mea - Alcina riu baixinho – Precisa se afastar e falar novamente.

Dessa vez conseguiu compreender algo que soou como “não, obrigada” e Ella voltou a se aconchegar junto ao seu corpo; não que Alcina desejasse reclamar da ação, adorava tê-la tão perto e sentir que se desmanchava sob seu toque; alguém como Ella, pura o bastante para ser capaz de amá-la, deveria ser intocável quanto às mazelas do mundo e Alcina ficaria feliz em fatiar qualquer um que tentasse machucá-la.

- Eu faria qualquer coisa por você, draga mea – Alcina sussurrou ao acariciar seus cabelos mais uma vez – Basta pedir.

Sua resposta não passou de um aceno; Ella se mexeu levemente e tentou puxar Alcina para mais perto como se seus corpos nus não estivessem próximos o bastante. Achava mais fácil declarar-se daquela forma, com Ella adormecida ao seu lado, ainda que isso lhe roubasse uma chance de resposta; embora não realmente necessitasse de uma, Ella havia feito o favor de declarar que a amava aos berros enquanto congelava do lado de fora e tentava salvar a vida ao amigo inútil. Essa era sua amada em sua totalidade, coragens absurdas em momentos de necessidade, medos bobos que a levavam aos braços de Alcina e sorriso fácil que contagiava todos ao seu redor; de fato, uma boa sobrevivente, apta a adaptar-se rapidamente ao meio em que estava inserida e a buscar as melhores chances de continuar viva, foi exatamente o que atraiu a Condessa para começar. Ella era uma figura rara, selvagem e bela, corajosa nas mesmas proporções em que agia como uma jovem tola com corpo de mulher que teria toda uma vida surpreendente para desbravar.

- Não estará mais sozinha – Alcina sussurrou para si mesma – Você tem uma família agora.

E era totalmente verdade; suas filhas adoravam Ella, até mesmo Cassandra, e a queriam sempre por perto. Como Alcina poderia resistir a alguém que adorava suas garotas e parecia disposta a fazer qualquer coisa por elas? Todas as travessuras, o empenho em tornar o inverno mais agradável e fácil de lidar, assim como cada vez que as encontrava abraçadas, servia para fazê-la ter certeza de que Ella pertencia ao castelo tanto quanto qualquer uma das mulheres Dimitrescu.

Alcina adormeceu com Ella em seus braços, entretanto, ao acordar, viu-se sozinha na cama e um olhar ao redor do quarto foi o suficiente para deixá-la saber que sua jovem amante estava longe de ser encontrada; não era comum que Ella acordasse tão cedo, mais incomum ainda que a deixasse sozinha na cama e partisse silenciosamente. Resolveu por levantar-se e preparar-se para o dia que viria, Alcina precisava comparecer a uma reunião com os outros lordes e Mãe Miranda; para manter sua posição como favorita da matriarca tornava-se indispensável ser pontual e perfeita nos mínimos detalhes, e isso incluía, logicamente, sua aparência.

Só depois de vestida e pronta para iniciar o dia é que Alcina notou o pedaço de papel dobrado sobre a mesa a qual Ella costumava usar para trabalhar e, ao ver seu nome escrito na bela letra da loira, abriu-o para descobrir seu conteúdo.

- Volto em breve – Alcina leu – Ótimo. Nenhuma ideia de onde está.

Em cima da mesa restavam o diário que Bela a presenteou no aniversário; a capa de couro permanecia trancada demonstrando que Ella não desejava que outras pessoas, - e isso incluía Alcina -, vissem seu conteúdo, a caneta tinteiro, o antigo bloco em que costumava desenhar, seus lápis e outras ferramentas de desenho; Ella gostava de ter a mesa bem organizada, então cada coisa possuía seu lugar. O que deixou a Condessa curiosa foi a presença do bloco, vez que, desde seu aniversário, a loira sempre era vista com seu novo diário. Passou a mão pelo papel grosso, sentiu suas ranhuras e imperfeições sob os dedos, e titubeou ao abri-lo, perguntando-se se deveria ou não olhar seu conteúdo; apesar de Alcina não haver tido muito tempo para contemplar os desenhos de sua jovem amante, Ella nunca se recusou a mostrá-los, logo, não havia motivos para não continuar em frente.

Abriu o bloco de desenhos e passou por alguns que já havia visto, prestou-lhes pouca atenção e parou no primeiro inédito, o qual mostrava duas crianças, um menino e uma menina; Alcina reconheceu Judith facilmente, o segundo devia ser o outro irmão de Ella, e embaixo, no canto inferior direito, algumas palavras tinham sido rabiscadas de forma apressada, o que era claro devido à caligrafia confusa “não fui rápida o bastante”. O próximo desenho também retratava os dois irmãos, dessa vez com os rostinhos sorridentes colados um ao outro, suas bochechas esmagadas juntas, e com sorrisos idênticos; a legenda, também rabiscada de modo apressado, como se Ella não mais conseguisse encará-los, dizia: "Ele morreu pelas mãos de quem devia protegê-lo. Ela morreu por culpa da mesma pessoa. Sinto muito não ter feito nada.". Tomar conhecimento de tais desenhos estava partindo o coração de Alcina, não por lamentar a morte de duas crianças que sequer conhecia, mas por entender a profundidade dos sentimentos de Ella e que aquela devia ser a forma encontrada por ela para lidar com a perda e o luto; compreendeu também que provavelmente aquele seria o tema principal a rondar os pesadelos de sua jovem amante, e que, vez após outra, devia falhar em salvar os irmãos mais novos de um destino fatal. Fez sentido a resposta extrema de Ella ao achar que seria expulsa do castelo; as lágrimas que imediatamente se acumularam nas íris azuis demonstraram o medo latente de perder a nova família, mas Alcina sabia bem que, embora a loira pudesse pensar que não sobreviveria a uma nova perda, ela sim conseguiria, pois fazia parte da sua natureza sobreviver ao que quer que surgisse em seu caminho.

Virou a página e surpreendeu-se agradavelmente ao deparar-se com uma representação sua, dormindo pacificamente com uma das mãos sob o travesseiro e a outra esticada sobre o colchão, como se procurasse por Ella. Desta vez, com uma caligrafia desenhada, como se tivesse tomado cuidado ao escrever, as palavras destacavam-se: “Acordada é uma força da natureza, mas ao adormecer torna-se pacífica. Sou uma das poucas pessoas a caminhar neste mundo a quem é permitido vê-la assim". Seu coração deu um pequeno salto no peito e, embora tenha percebido que se tratava de algo pessoal, não conseguiu impedir-se de virar a página e deparar-se novamente com uma imagem a retratando; dessa vez uma figura menor aninhava-se em seu peito e envolta em seus braços, exatamente como Ella gostava, e a legenda a fez suspirar, “Me sinto segura em seus braços. Sei que não deveria, ela mesma avisou-se de minha imprudência diversas vezes, mas não consigo evitar." Surpreendeu-a de forma agradável, ainda que soubesse muito bem que Elleanor era uma criatura capaz de amar ferozmente, até mesmo a alguém como Alcina.

O próximo desenho fez Alcina sorrir ao ver as três filhas juntas e com os rostos colados; Bela no meio, com Daniela à sua direita e Cassandra à esquerda; a legenda eram apenas três rosas desenhadas lado a lado e ainda assim bastava.

A página seguinte a surpreendeu ainda mais. Nela, viu-se sentada em sua cama usando nada mais que uma camisola curta e reveladora, a qual deixava muito do seu decote à mostra; Alcina sorriu. Então Ella a estava observando em outras ocasiões e vários outros desenhos seguiram na mesma linha, mostrando-a em lingeries ou apenas de forma provocante, com um olhar ou sorriso lascivo enfeitando o rosto. Virou a página e deparou-se com mais um desenho seu, desta vez completamente nua; seus pés estavam plantados na cama e as pernas abertas para dar total visibilidade da sua intimidade; no desenho, Alcina tocava-se com a mão direita enquanto a esquerda agarrava o próprio seio com força, sua cabeça jogada para trás e o rosto contorcia-se em uma expressão de prazer.

Saber que Ella a imaginava daquele jeito, provavelmente dedicando horas a retratar seu prazer, deixou Alcina excitada.

Outro desenho; desta vez Ella estava prostrada entre suas pernas, devorando-a; uma das mãos de Alcina permanecia segurando sua cabeça ao passo que a outra agarrava a cabeceira da cama; seus olhos estavam fechados e a boca aberta em uma expressão de prazer absoluto. Alcina perguntou-se se Ella a observava, se tentava aprender cada uma das suas expressões de prazer.

O desenho a seguir mostrava Ella deitada na cama com as pernas afastadas para acomodar Alcina entre elas; sua cabeça estava jogada de lado e os cabelos caíam sobre seu rosto; a Condessa percebeu que tinha os dedos profundamente penetrados na jovem, sua boca colada junto ao pescoço macio e convidativo...

Sua calcinha já se encontrava molhada, o incomodo entre suas pernas tornando-se cada vez mais perceptível, quando a porta do quarto foi aberta e Ella atravessou-a parecendo esbaforida e agitada.

- Desculpe pela demora, Daniela ficou presa...

Ella congelou ao vê-la com o bloco de desenhos em mãos. Seu rosto assumiu um tom perigoso de vermelho e pareceu prestes a desmaiar.

- N-não... O-onde... Como...? – Ella tentou começar diversas vezes sem, no entanto, obter sucesso. Respirou fundo algumas vezes e tentou controlar-se antes de continuar: - Isso é meu!

- Oh, eu sei disso, draga mea.

- É particular – Ella insistiu – Não devia mexer nas minhas coisas.

- É particular a maneira como me desenha? – Alcina provocou – Achei que tivéssemos passado dessa fase, aliás você teve muitas inspirações para me desenhar de tal forma.

Dessa vez o rosto de Ella pareceu assumir pelo menos três tons de vermelho diferentes.

- Não acredito que estava mexendo nas minhas coisas enquanto eu salvava a Daniela – a loira bufou e bateu o pé de forma impaciente, jogou as mãos para o alto e grunhiu – Não acredito mesmo nisso!

Alcina riu ao notar sua consternação e vergonha.

- Vamos, não fique assim. E o que aconteceu com Daniela afinal?

- Daniela, sua filha... – Ella frisou a última parte – Prendeu a cabeça no corrimão de uma escada no terceiro andar.

- O quê? Como ela prendeu a cabeça e por que simplesmente não saiu de lá? – perguntou confusa. Daniela podia muito bem se transformar em uma nuvem de insetos e se livrar. – O que aconteceu?

- Cassandra a provocou, ela ficou com raiva e perdeu o controle totalmente, daí não conseguiu se transformar ou sair e Bela me buscou. Precisei afastar a Cassandra e acalmar Daniela pra soltar a cabeça dela! – Ella cruzou os braços sobre o peito – Enquanto isso você mexia nas minhas coisas!

Alcina teve vontade de rir, mas sabia que não era o momento certo.

- Draga mea, você me desenhou e descobri seus desenhos – sorriu de forma quase predatória – Admito que adorei todos e espero poder reproduzir cada um deles.

Sem esperar por uma resposta, Alcina deixou bloco sobre a mesa e agarrou Ella, levantando-a em seus braços apenas para pressioná-la contra a parede e beijá-la com sofreguidão. Ella derreteu-se sob seu toque, entregando-se no mesmo instante, e devolveu o beijo com o mesmo ímpeto apaixonado; ao afastarem-se, Ella estava ofegante e manteve os olhos fechados como se ainda sentisse os lábios de Alcina sobre os dela.

- Isso foi... Uau.

- Tenho uma reunião importante em algumas horas – disse ao beijar seu rosto algumas vezes – Passaria algum tempo em minha companhia?

- Achei que íamos reproduzir os desenhos – Ella provocou – Mudou de ideia?

- Não – Alcina sussurrou em seu ouvido e mordiscou o pescoço macio fazendo a jovem estremecer – Mas preciso de tempo para apreciá-la, draga mea. Não desejo apressar nada.

- Esta noite? – Ella perguntou quase de forma ansiosa.

- Esta noite, draga mea.

[...]
Agatha equilibrou o bule de chá, a xícara e o açucareiro sobre a bandeja de prata junto a garrafa e a taça que já havia separado; precisava servir o chá para Lady Dimitrescu e Ella na biblioteca antes de preparar o almoço da amiga. Depois do desaparecimento justificado de Olívia, Agatha passou a servir pessoalmente a senhora do castelo.

Outra criada estava prestes a sair da cozinha carregando um balde e um esfregão, mas Agatha fez um gesto para que parasse.

- Lady Dimitrescu está na biblioteca, então é melhor limpar o salão de jantar primeiro.

- Obrigada, Agatha.

- De nada, Grace.

Agatha acenou e esperou a outra criada sair antes de pegar a bandeja para servir o chá. Depois de sobreviver tanto tempo no castelo, Agatha se tornou uma espécie de mentora para as criadas recém-chegadas e sempre tentava mantê-las tão seguras quanto possível; essa atividade se tornou mais fácil desde o desenvolvimento recente do seu... romance, por falta de palavra melhor. Pelo menos ela era capaz de manter Cassandra longe das outras criadas e impedir que as punisse por erros ínfimos, ou assim suas companheiras de trabalho pareciam acreditar, correndo em seu socorro quando necessário.

Carregou a bandeja com muito cuidado até a biblioteca. Dormindo com Cassandra ou não Agatha não queria instigar a fúria de Lady Dimitrescu. Ella estava sentada na poltrona ao lado da mulher mais alta, bem embaixo da claraboia; sua presença serviu para acalmar Agatha, mesmo quando sorriu e fez Lady Dimitrescu perfurá-la com o olhar.

Agatha não entendia como sua amiga não via o modo como Lady Dimitrescu a olhava, como se Ella fosse o próprio sol; em todo seu tempo no castelo só havia visto a senhora dispensar olhares carinhosos às filhas, mas Ella apareceu e mudou tudo, conquistou o coração da Condessa sem nem mesmo dar-se conta disso. Precisava ter uma conversa com a amiga o quanto antes e tentar fazê-la ver que, apesar de Lady Dimitrescu não verbalizar, seus sentimentos eram correspondidos e estava na hora de começar a aceitar isso.

Serviu o chá para Ella e o vinho para a senhora do castelo e, ao terminar, fez uma pequena mesura.

- Mais uma coisa, Agatha.

A forma como seu nome foi dito enviou um arrepio por sua espinha e não de um jeito bom, como quando Cassandra pressionava beijos em seu pescoço. As garotas podiam ser selvagens e até um tanto quanto insanas quando estavam muito animadas com a carne fresca que entrava no castelo, mas Lady Dimitrescu definitivamente era mais perigosa.

Agatha olhou para Ella em busca de alguma dica, mas a amiga apenas deu de ombros.

- Sim, senhora.

- Eu soube do recente, porém crescente, relacionamento entre você e minha filha. Não que ela tenha me contado algo, mas Cassandra não é das mais sutis.

O sangue pareceu escapar do corpo de Agatha e por um segundo achou que pudesse desmaiar ou correr, talvez fugir e desmaiar em um quarto qualquer; Ella sorriu em sua direção, embora seu olhar vagasse entre Agatha e Alcina.

- Sim, senhora...

- Minhas filhas podem ser difíceis, mas são minhas filhas e eu faria qualquer coisa por elas. Inclusive... – Lady Dimitrescu levou a taça aos lábios e sorriu como um predador, tal qual Ella havia descrito – Ferir de forma letal qualquer um que as machuque, seja fisicamente ou com um coração partido. 

- A-ah... – Agatha gaguejou – Isso é...

- Esteja avisada quanto a isso. Cassandra pode ser forte, mas se algo acontecer a ela serei a única a resolver essa situação.

Agatha engoliu em seco e procurou as palavras certas para responder, mas nenhuma parecia boa o bastante e só pode permanecer parada sem saber o que fazer.

- Alci – Ella chamou com a voz gentil – Você não pode assustar a Agatha desse jeito.

Lady Dimitrescu virou-se em direção a Ella e estreitou os olhos.

- Quem disse que você pode me dizer o que fazer?

- Olha só, eu sei que é difícil ver sua menininha apaixonada e, acredite em mim, Cass tem sentimentos profundos por Agatha. Assustá-la só vai fazer as duas afastarem-se e isso deixará Cass triste, e você não quer magoar sua filha – Ella estendeu a mão e segurou a da Condessa – Você a ama e só quer o bem dela, mas precisa fazer isso do jeito certo.

A expressão de Alcina deixou claro que não concordava em nada com isso, mas aquiesceu de qualquer forma.

- Você está certa.

Novamente, Agatha se perguntou como Ella não percebia que, além de ser capaz de fazer Lady Dimitrescu mudar de ideia como se partisse dela para começar, a Condessa parecia disposta a ouvi-la. Como sua amiga não percebia que aquela mulher estava completamente apaixonada por ela?

- Mas isso não significa que retiro o que disse – Lady Dimitrescu voltou-se em sua direção – Esteja avisada. Agora está dispensada.

- Sim, senhora.

Ao sair da biblioteca, Agatha notou que a Condessa puxou Ella para o seu colo e beijou-lhe o rosto. Seu relacionamento, ou o que quer que fosse, podia estar no começo, mas já passava da hora de aquelas duas reconhecerem o que acontecia entre elas.

Decidiu procurar por Cassandra e informá-la que sua mãe sabia sobre as duas, ainda que não tencionasse contar sobre a ameaça nada velada; apesar de lhe parecer estranho no início, passara a gostar de verdade de Cass e não queria procurar qualquer motivo para terminarem.

Sequer teve a chance de chamar por ela, a porta do quarto de Cassandra foi aberta com violência e uma mão agarrou seu pulso.

- Eu preciso de ajuda! – Cassandra guinchou – Um monstro! Mata! Mata!

Não era a primeira vez que passavam por isso, Agatha suspirou ao se dar conta do que estava acontecendo.

- Onde está?

- Lá! – Cassandra apontou para o canto ao lado da cômoda – Mata! Mata!

A aranha não passava de uma coisinha ridícula que poderia esmagar entre os dedos. Agatha resolveu o problema simplesmente pisando nela e, ao senti-la estalando sob seu pé, afastou-se para que Cassandra pudesse verificar e ficar tranquila.

- Minha heroína!

Cassandra se lançou em sua direção e a abraçou com força, como adorava fazer quando Agatha estava distraída.

- Não me importo em matar as maiores, mas você precisa cuidar das pequenas.

- Por quê? Eu tenho você pra isso – Cassandra escorregou as mãos até sua cintura e a apertou – Sem falar que isso nos dá mais tempo juntas.

Suas costas foram pressionadas contra a parede quando Cassandra a empurrou e colou o corpo junto ao seu. As íris amarelas passearam por seu rosto e se demoraram em sua boca antes que fosse tomada por um beijo apaixonado. Agatha gemeu na boca de Cassandra e agarrou um punhado dos cabelos escuros para impedir que se afastasse; era sempre assim entre elas, faminto e cheio de desejo, como se mal pudessem se tocar antes que a fagulha de desejo se acendesse.

As mãos de Cassandra desceram em direção aos seus quadris e rapidamente começaram a erguer seu vestido, ao que Agatha a impediu.

- Não – ofegou tentando normalizar a respiração – Eu preciso trabalhar.

- Prometo que serei rápida.

Tudo o que mais queria era ceder às provocações de Cassandra, mas a lembrança de Lady Dimitrescu a fez impedir a morena de se aproximar.

- Sua mãe...

- Está muito ocupada com a Ella, então temos tempo – Cassandra sorriu – Eu disse que serei rápida.

Agatha foi novamente pressionada contra a parede. Cassandra rapidamente levantou a saia do seu vestido e puxou sua perna para repousar na altura dos próprios quadris. Dedos atrevidos exploraram a extensão de pele macia das suas coxas enquanto Cassandra se ocupava em morder e chupar seu pescoço; Agatha provavelmente ficaria com uma marca ali, mas não se importou nem um pouco; um gemido escapou dos seus lábios quando os dedos esguios afastaram sua calcinha e alcançaram suas dobras molhadas e Cassandra tampou sua boca com a mão livre.

- Shh... Quietinha.

Dois dedos longos a penetraram e Agatha teria gemido alto não fosse pela mão pressionada em sua boca. Cassandra sorriu contra seu pescoço e voltou a morder, a picada de dor tornou tudo mais sexy e intenso para Agatha, que jogou a cabeça para trás e ofegou ao sentir os dedos que se moviam cada vez mais rápido dentro e fora dela; mexeu os quadris no mesmo ritmo, tentando encontrar mais atrito e saciar o desejo crescente.

Atingiu o orgasmo embaraçosamente rápido. Seu corpo estremeceu e Agatha vacilou, teria caído não fosse por Cassandra tê-la segurado com firmeza.

- Eu disse que seria rápida.

Cassandra destampou sua boca e a beijou, dessa vez de forma quase carinhosa e sem pressa; Agatha devolveu o gesto, incapaz de afastar-se completamente enquanto Cass a segurava com tanto cuidado.

- Droga, Cassandra, feche a maldita porta!

A voz horrorizada de Bela fez Cassandra se afastar e Agatha notou que não apenas a irmã mais velha estava parada junto à porta aberta, mas também Daniela que parecia dividida entre querer tirar sarro e estar com nojo do que via; o que fez Agatha notar que ainda tinha a perna esquerda apoiada no quadril de Cassandra e os dedos permaneciam dentro dela. Empurrou Cassandra e ajeitou as roupas rapidamente, sentindo as bochechas queimarem de vergonha.

- Vocês duas não tem mais nada pra fazer? – Cassandra reclamou – Precisam mesmo me interromper.

- Não sei o que é pior: encontrar você com a mão entre as pernas da Agatha – Daniela apontou em sua direção – Ou mãe com a Ella no colo e a mão sob a saia do vestido dela.

- O segundo é pior, era a nossa mãe – Bela fez uma careta – Elas estavam na biblioteca e tivemos que fingir que nada aconteceu.

Aquilo já era demais.

- Eu preciso ir – Agatha murmurou – Tenho cosias a fazer.

- Aposto que sim – Daniela sorriu de modo sugestivo.

Cassandra, por outro lado, parecia ter uma ideia bem diferente e segurou seu braço para impedi-la de se afastar.

- Te vejo à noite? Pode vir dormir comigo se quiser.

Apesar dos sons de provocação produzidos pelas duas irmãs, que assistiam a cena, Agatha concordou e ficou nas pontas dos pés para beijar o rosto de Cassandra.

- É claro – sorriu – Te vejo mais tarde.

Ao sair do quarto, descobriu que o orgasmo dado por Cassandra a deixou literalmente com as pernas bambas e mal conseguiu andar com alguma dignidade. Já no corredor, encontrou com Ella seguindo na mesma direção e a amiga aproximou-se sorrindo.

- Aí está você! Espero que Alcina não a tenha amedrontado. Você e Cass formam um casal lindo e podem contar comigo pra tudo... – Ella parou de falar e a olhou de forma curiosa – Você está andando de um jeito estranho... – então olhou em direção ao quarto de Cassandra e de volta para Agatha; sua expressão iluminou-se como se, de repente, houvesse entendido tudo – Ah, sei bem como é...

Agatha não duvidou nada que a amiga soubesse exatamente como era.

[...]

Ella suspirou e levou a mão ao peito. Já não sabia há quanto tempo encontrava-se postada junto à janela com o olhar perdido nos terrenos cada vez mais escuros conforme a noite estendia-se sobre o castelo e, com ela, uma das piores tempestades de neve que já vira em toda sua vida; como aquele era seu primeiro inverno deste lado da floresta, não tinha como saber se a localização do castelo possuía alguma influência quanto à percepção do clima, só sabia que estava muito ruim.

O que a incomodava era não ter notícias de Alcina desde que saíra horas atrás para o encontro com os outros lordes. Qual fosse o assunto devia ser importante o bastante para retê-los durante toda a tarde e parte da noite, isso se a Condessa não passasse alguns dias fora.

A presença de Alcina era forte e uma constante para Ella, logo, não a ter por perto durante tanto tempo parecia-lhe errado. Bela já havia comentado que em ocasiões anteriores a mãe já havia precisado ausentar-se por um ou dois dias inteiros, nunca revelando qual tipo de trabalho estava fazendo para Mãe Miranda.

Mesmo agora, Ella não fazia ideia se Alcina estava tentando voltar para casa apesar da nevasca ou se ainda se encontrava na companhia dos outros três lordes para concluir qualquer propósito que Mãe Miranda tivesse em mente. Definitivamente, até o momento, Ella não gostava nada da mulher e pensar nela só a fazia lembrar-se da expressão sombria e amedrontada de Daniela.

Uma batida soou na porta e Ella virou-se rapidamente, mesmo sabendo que Alcina jamais bateria antes de entrar nos próprios aposentos.

- Pode entrar.

Sorriu ao notar que se tratava de Bela, já usando um longo robe de seda preta por sobre suas roupas de dormir usuais.

- Mãe ainda não retornou, então pensei em lhe fazer companhia até lá.

- Eu agradeço e adoraria se ficasse.

Nada além da verdade, Ella adorava a filha mais velha de Alcina da mesma forma como as outras duas. Descobriu isso não muito tempo atrás, mas com Bela era ligeiramente diferente; talvez tal fato se devesse por terem se aproximado primeiro.

- Não se preocupe, mãe deve estar de volta logo – Bela afirmou como se precisasse tranquilizar a si mesma quanto à ausência da mãe – Devem estar discutindo algo importante. Assim que o inverno acabar o vinhedo voltará a ser cultivado e precisamos de trabalhadores.

Bela caminhou até a cama e Ella a seguiu. Deitaram-se juntas e a caçadora permitiu que a outra loira apoiasse a cabeça em seu ombro da mesma forma como Daniela sempre fazia; foi uma grande surpresa para ela que as três irmãs adoravam estar ao seu redor devido ao calor de seu corpo.

- Você é quente – Bela murmurou ao se aproximar tanto quanto podia – Muito agradável.

- Fico feliz em lhe servir, minha lady.

Riram como duas garotinhas, cúmplices em suas artimanhas. Ella envolveu a outra mulher em seus braços e acariciou os cabelos loiros, sorrindo quando Bela fechou os olhos e pareceu apreciar o toque.

- Então... – Ella começou a falar – O vinhedo?

- Isso, o vinho precisa ser produzido e exportado. Cada garrafa é única, mãe toma muito cuidado durante a fabricação do vinho e a vinícola Dimitrescu é famosa no mundo todo, principalmente entre os apreciadores de bons vinhos – Bela recitou – Palavras da mãe.

- E não duvido dela. Apenas uma dúvida: nunca vi trabalhadores homens no castelo, apenas mulheres... É assim no vinhedo também?

- Os trabalhadores do vinhedo são homens, mas mãe não os permite no castelo. Ela quase teve um ataque quando contei que Daniela beijou um deles. Mãe não precisou dizer nada para que eu notasse o brilho assassino em seus olhos.

- Daniela beijou um dos trabalhadores do vinhedo?

- E o matou em seguida – Bela riu – Essa é a Daniela. Garotas, garotos... Não importa, desde que atenda aos caprichos dela.

- Por caprichos você quer dizer matar?

- Isso.

Fazia sentido, Ella decidiu, bem a cara de Daniela.

Antes que pudesse responder, uma batida na porta as interrompeu.

- É Daniela!

Bela bufou.

- O que ela fez agora?!

- Não! Sou eu, a Daniela!

- O que você fez agora?!

- Pode entrar, Daniela! – Ella mandou – Mas feche a porta atrás de você, está frio.

Daniela entrou no quarto parecendo muito com uma criança em busca da mãe e, assim como a irmã mais velha, já parecia estar pronta para recolher-se à cama.

- O que você quer? – Bela perguntou.

- A tempestade me deixa nervosa e mãe ainda não voltou – Daniela coçou a nuca e olhou diretamente para Ella – Quando mãe não está você é a mãe.

Impossível não sorrir quando Daniela agia daquele jeito. Apesar de Bela ser a mais carinhosa das irmãs, e sempre procurando alguma demonstração de afeto por parte da mãe, Daniela era a mais agressiva em demonstrar seus sentimentos.

- Vem aqui – Ella chamou –Você pode ficar.

- Não assim, eu também quero ficar do seu lado! – Daniela bateu o pé – Não é justo você abraçar apenas a Bela.

A mais velha revirou os olhos.

- Sai fora, Daniela!

- Sai você!

- Parem de brigar!

Então ser a outra mãe também significava ter as crianças brigando por atenção. Ella se perguntou se Alcina passava por aquele mesmo tipo de coisa
.
- Eu posso ficar entre as duas.

Desvencilhou-se de Bela e as duas trocaram de lugar, de modo que Ella ficasse no meio da cama e Daniela pudesse deitar do seu lado direito.

- Felizes? – Perguntou e as duas assentiram freneticamente – Ótimo, agora só falta Cassandra.

- Cassandra está muito ocupada – disse Daniela com uma risadinha – Com a boca ocupada.

Ella riu junto às duas irmãs, mas ficava feliz por Cassandra estar passando algum tempo com Agatha. Elas eram fofas juntas.

As luzes piscaram duas vezes e se apagaram, mergulhando o quarto na escuridão. Daniela pulou e praticamente agarrou Ella; a única fonte de luz restante era a lareira, na qual as chamas ainda ardiam e davam uma sensação de aconchego ao quarto.

- Está tudo bem – Ella tranquilizou a ruiva – Só está escuro.

- Deve ser a tempestade – Bela ponderou – Às vezes isso acontece.

- Não gosto de tempestades, ainda mais quando mãe não está – Daniela resmungou – Você é legal, Ella, mas não é como ter mãe aqui.

- Eu entendo, também me sinto mais segura com sua mãe aqui – Ella admitiu – Mas podemos ter uma festa do pijama, só nós três, e na próxima Cassandra pode se juntar a nós.

A oportunidade de uma festa do pijama pareceu animar Daniela o suficiente para fazê-la esquecer da ausência da mãe; a ruiva comemorou e se sentou na cama como se tivesse uma ideia boa demais para conseguir se conter.

- Histórias de terror! Você conhece alguma?

- Algumas – Ella admitiu – O que acha, Bela? Estamos em um bom clima para histórias assustadoras?

- Acho que sim, se Dani não ficar morrendo de medo.

O comentário fez Daniela mostrar a língua para a irmã em forma de protesto. Ella sabia que a ruiva nunca admitiria estar com medo de algo, não se pudesse evitar. Por outro lado, não faria mal algum contar algumas histórias de terror no escuro.

- Pra sorte de vocês, eu adoro histórias de terror e costumava contá-las o tempo todo com alguns amigos; nós saíamos nas noites de lua cheia e caminhávamos até uma clareira enorme que tinha uma árvore bem no centro, e aquela árvore era tão grande que seus galhos se estendiam em todas as direções; às vezes passávamos horas lá, ao redor de uma fogueira, tentando contar a história mais assustadora.

Aquelas pessoas não eram exatamente suas amigas, pelo menos não como Klaus, e sua relação resumia-se a essas breves escapadas durante algumas noites de lua cheia, mas era difícil explicar isso para Daniela e Bela, que fariam dezenas de perguntas, portanto Ella preferiu evitar o assunto no momento.

E, uma vez que Ella sentou-se no centro da cama, Bela e Daniela aconchegaram-se nela e esperaram ansiosamente para que contasse a história.

- Havia um homem no meu vilarejo... apesar de jovem sua cabeça era tomada por cabelos brancos, seu olhar perdia-se no horizonte como se não conseguisse focar em nada por muito tempo; ele morava com o irmão mais novo, que era ferreiro, e passava os dias sentado na cadeira de balanço da varanda, o olhar perdido...

- Qual o nome dele? – Daniela perguntou.

- Ninguém sabia, era um mistério assim como sua própria existência, mas todos os chamavam de Velho Carrow, embora Carrow fosse o nome do irmão mais novo. – Ella baixou a voz como se conspirasse - Eu tinha uns dez anos, alguns garotos gostavam de desafiarem uns aos outros para ver quem se aproximaria mais; Sorin era meu amigo e resolvemos ir juntos, assim dava menos medo, nos aproximamos pé ante pé tomando muito cuidado para não fazer barulho, e assim que chegamos mais perto do que qualquer outra criança do vilarejo, fui além e toquei seu braço.

- E aí? – Bela perguntou interessada.

- Ele gritou, berrou, como se visse o próprio demônio à sua frente; nós corremos, mas mesmo bem longe ainda pudemos ouvi-lo gritar e chamar por Magnólia.

- Quem era Magnólia?

- Eu não sei, Dani. Alguns diziam que era sua esposa, que o Velho Carrow ficou louco após assistir sua família toda ser destroçada por lobos e apenas ele conseguiu fugir. Outros diziam que Magnólia era uma moça de outro vilarejo, dona de rara beleza, a quem conhecera em um baile e após dançarem juntos a noite toda levou-a para casa; encantando com sua beleza, procurou-a no dia seguinte apenas para descobrir o casebre praticamente vazio, ocupado apenas por uma velha senhora que dizia ser mãe de Magnólia e que sua filha estava morta há anos, somente aparecendo nas noites de baile à procura de um acompanhante.

Apreciou, durante alguns segundos, as expressões vazias das duas irmãs até que abriram as bocas e exclamaram em uníssono ao entenderem o que estava implícito em suas palavras.

- Ele dançou a noite toda com um fantasma?! – Daniela exclamou – O que aconteceu com ele depois?

- Amanheceu morto, mas isso foi depois que os fazendeiros perderam suas colheitas e a fome se espalhou pelo vilarejo, então vai saber o que realmente aconteceu.

Bela suspirou ao seu lado e Dani bateu palmas, parecendo animada com a história.

- Mais uma! – Daniela pediu – Por favor!

Ella aquiesceu e pensou em algo para contar. Há muito tempo não tinha a chance de compartilhar histórias assustadoras e precisou puxar na memória alguma que funcionasse; lobisomens e vampiros não assustariam as irmãs.

- Esse lugar parece cercado, separado do resto do mundo, como se estivéssemos isolados – falou em voz baixa – Há apenas mais um vilarejo ao norte, antes da cadeia montanhosa, e estamos longe de qualquer rota comercial; as pessoas nascem, crescem e morrem aqui, não existem forasteiros. Os anciões do meu vilarejo contam que as montanhas ao redor são infestadas por espíritos errantes, pessoas que morreram na batalha por estas terras, e que não deixam que ninguém entre ou saia. Um homem tentou sair, ele caminhou pelas montanhas durante o dia e quando a noite chegou, assim como o vento frio, buscou abrigo em um casebre abandonado e dormiu ali mesmo; a única coisa que o incomodou foram os quadros deixados pelos antigos moradores que pareciam encará-lo no escuro; no dia seguinte, com a luz do sol infiltrando-se na construção precária, percebeu que não havia quadros, apenas janelas.

Daniela ofegou audivelmente e cobriu a boca com as mãos, parecendo assustada ao entender na implicação da história, já Bela apenas encolheu-se minimamente e tentou manter a compostura.

- O que aconteceu com ele?

- Voltou ao vilarejo e não tentou partir novamente.

Contou mais algumas histórias de terror, alegrando-se ao fazer Daniela escolher-se cada vez mais. Mesmo com sua natureza selvagem, a caçula preferia livros de romance e seu quarto era cheio de ursinhos de pelúcia e, mesmo sem medo de lobisomens, vampiros ou bruxas, os fantasmas pareciam capazes de amedrontá-la. O fogo diminuía conforme o tempo passava, deixando o quarto mais escuro e fazendo-as puxar os cobertores para mais perto; Bela agarrou-se a Ella com a desculpa de se aquecer e Daniela logo fez o mesmo, até que estivessem quase disputando seu colo.

- Havia uma garota que ficou sozinha em casa, seus pais tentavam sair do vilarejo e ela permaneceu para cuidar dos animais; seu cachorro, o melhor amigo, estava sob sua cama, e sempre que ouvia algum barulho ela esticava a mão para que ele lambesse e indicasse que estava lá. Porém, na manhã seguinte, encontrou-o morto, todas as suas vísceras espalhadas pelo quarto, e na parede estava escrito “humanos também sabem lamber”.

O único som era o crepitar da lareira; um alfinete caindo no chão poderia ser facilmente ouvido, e Daniela a agarrou com um pouco mais de força como para impedir que Ella se afastasse, ainda que fosse a única a assustá-la daquele jeito.

A porta do quarto foi aberta e Daniela berrou, o que fez Bela gritar como que para salvar suas vidas e, consequentemente, as duas assustaram Ella, que gritou também. A figura alta e ameaçadora ergueu-se na escuridão, aproximando-se lentamente e fez com que Daniela gritasse novamente; seu aperto ao redor do pescoço de Ella aumentou consideravelmente e tornou-se difícil respirar. Ótimo! Iria morrer por causa de uma história de terror.

- O que está acontecendo aqui?

A voz de Alcina fez Ella relaxar de forma considerável, principalmente porque Daniela a soltou no mesmo instante.

- Mamãe!

Daniela gritou e pulou nos braços da mãe que a pegou por puro reflexo, a ruiva agarrou-a como um gato faria e pressionou o rosto junto ao de Alcina.

- Você voltou! – Daniela comemorou – Vou dormir com você e não quero mais um cachorrinho.

Alcina olhou para Ella em busca de explicações, mas a loira só conseguiu sorrir nervosamente.

- Ella estava contando histórias de terror – Bela explicou – É uma festa do pijama, mãe.

- Entendo... – Alcina as olhou novamente e tentou colocar Daniela na cama – Dani, eu preciso colocar lenha na lareira antes que vocês congelem e me trocar em seguida, prometo que volto logo.

Com alguma relutância Daniela soltou-se da mãe e voltou ao seu lugar na cama. As três observaram Alcina caminhar pelo quarto e alimentar o fogo, que voltou a queimar alto e forte; ficaram brevemente a sós, apenas o tempo de Alcina voltar usando uma camisola mais comportada que Ella já a havia visto usar, provavelmente em razão da presença de suas filhas na cama. Ao observar Alcina movendo-se pelo quarto com a graça usual, ainda que o ambiente estivesse envolto na escuridão, Ella perguntou-se se a Condessa seria capaz de enxergar no escuro ou se estava tão habituada ao ambiente que não lhe fazia diferença.

Alcina aproximou-se de Bela e beijou seu rosto, deu a volta na cama e deitou-se ao lado de Daniela que se apressou em abraçar a mãe; com alguma dificuldade devido a filha agarrada ao seu corpo, a Condessa inclinou-se e beijou Ella nos lábios, o que lhes rendeu um gemido de indignação vindo da caçula.

- Ei, eu estou aqui!

- É claro, querida – Alcina beijou a testa da filha e voltou a deitar-se ao seu lado – Eu chamaria Cassandra, mas...

- Ela está ocupada – Daniela interrompeu a mãe – Com a nova namorada.

- Imaginei.

Bela a abraçou por trás e pousou a cabeça em seu ombro. Ella jurou que a ouviu resmungar algo sobre estar quente e confortável e tentou não se sentir como uma bolsa de água quente; felizmente Alcina não sentia ciúmes da proximidade das filhas com Ella, principalmente porque Daniela fez de tudo para ficar próxima a Ella e para que a mãe as abraçasse; o tamanho da Condessa permitiu que ela esticasse o braço e pousasse a mão sobre Bela em um gesto de conforto.

Ella sabia que não deveria se sentir segura dormindo entre três vampiras, mas como nada em sua vida fazia muito sentido, estava feliz ali. Sentiu-se mais calma e segura com Alcina de volta ao castelo; Daniela tinha razão ao afirmar que sua mãe passava essa sensação, desde que ela se importasse com a pessoa, é claro.

Foi fácil cair do sono; a respiração quente de Bela fez cócegas em seu pescoço e Daniela aninhou-se um pouco mais junto ao seu corpo. Ella não podia se mexer mais do que alguns milímetros e não se importou nada com isso.

[...]

Cassandra sorriu ao notar que as chamas das velas faziam os cabelos de Agatha parecerem ainda mais vermelhos, como se fossem feitos de fogo. As chamas tremulantes dançavam pelo corpo nu e davam-lhe uma aparência quase etérea, como se pudesse desaparecer ao menor toque. Quando a luz acabou, Cassandra correu e acendeu as velas que tinha espalhadas ao redor do quarto; ainda que a escuridão não a incomodasse, queria que Agatha estivesse confortável. Foi uma boa decisão, notou ao observá-la, ela ficava linda sob aquela luz.

Alguns anos atrás Cassandra encontrara-se completamente obcecada por livros de fantasia e devorava-os um a um, sempre escondida de suas irmãs ao temer que caçoassem dela por gostar daquele tipo de leitura, e isso a levou a pesquisar cada vez mais sobre mitologia e criaturas fantásticas; agora, observando Agatha deitada em sua cama, inteiramente nua, com as chamas lançando padrões sobre seu corpo esguio, achou que podia muito bem ser uma daquelas fadas do fogo que tanto a fascinara.

- O que está pensando? – Agatha perguntou ao colocar uma mecha do cabelo de Cassandra atrás da orelha – Quer que eu vá embora?

- Não – Cassandra se apressou em responder – Fique.

Era um desenvolvimento novo, normalmente elas transavam e Agatha voltava para o alojamento dos criados, mas Cassandra descobriu-se desejando cada vez mais que a outra ficasse e conversasse com ela.

- Você pode passar a noite – Cassandra sugeriu – Não seria ruim, seria?

- Não seria nada ruim.

Toda a conversa decorreu em sussurros, como se qualquer som mais alto do que isso pudesse quebrar a redoma em que se encontravam. Um mundo as separava lá fora, seu relacionamento implicava em mudanças de certas dinâmicas no castelo e Cassandra não tinha ideia de até onde sua mãe iria tolerar isso, mas ali dentro eram apenas as duas e nada mais.

Agatha contara-lhe da breve conversa com sua mãe algumas horas antes e em como Ella interferiu pelas duas, o que fez Cassandra gostar um pouco mais da humana. No começo não conseguia entender o que sua mãe havia visto nela, não passava de uma humana frágil e tola, mas com o tempo descobriu que Ella era mais do que isso e estava mudando as coisas de um jeito bom, a começar por Agatha.

Traçou linhas imaginárias pela barriga de Agatha, subiu lentamente em direção a seus seios e circulou o mamilo rosado com a ponta do dedo.

Não era segredo que por vezes Cassandra levava alguma criada até seus aposentos e, bem, simplesmente fodia com elas. Sua mãe sabia disso e nunca disse uma palavra, ela fazia a mesma coisa afinal de contas, mas se Alcina Dimitrescu sentiu necessidade de falar a Agatha sobre os sentimentos a filha, isso queria dizer alguma coisa, certo? Talvez mesmo sua mãe pode perceber que era diferente. Cassandra pensou em todas as vezes que Agatha a viu levar alguém para seus aposentos, desde que chegara ao castelo, e sentiu uma vontade inexplicável de se explicar e garantir que dessa vez, com ela, não era a mesma coisa.

- É diferente com você – sussurrou sem tirar os olhos do dedo que ainda traçava linhas indistintas sobre o peito de Agatha – Você é especial.

- É bom saber disso.

Criou coragem e levantou o olhar para encarar Agatha, seus olhos verdes brilharam e um sorriso suave enfeitava seu rosto. Cassandra gostava dos olhos de Agatha e de como lembravam uma floresta densa cheia de pontinhos dourados; não se lembrava de como eram seus olhos antes do despertar e sua mãe não sabia dizer a ela, mas os de Agatha eram perfeitos.

- Você é especial – repetiu – Acho que é como Ella é para minha mãe.

- Sua mãe está apaixonada por Ella.

Cassandra entendeu a implicação.

- E mãe não vai admitir e Ella não vai acreditar – suspirou – Mas eu admito que posso estar...

Agatha a empurrou de costas na cama e passou uma perna sobre seu corpo, sentando-se em seus quadris, e inclinou-se sobre Cassandra; seus cabelos vermelhos a envolveram, criando uma barreira entre ela e o resto do mundo, e só o rosto de Agatha importava.

- Bom saber – Agatha sorriu e o coração de Cassandra saltou no peito – Eu também.

Puxou-a para um beijo, seus lábios pareciam encaixar-se perfeitamente como se fossem feitas uma para outra e talvez realmente fossem, mesmo em suas singularidades. Cassandra enfiou os dedos nos cabelos de Agatha e a segurou de forma a impedir que se afastasse; seus seios foram pressionados conjuntamente e isso enviou arrepios deliciosos por todo seu corpo; aos poucos, a ruiva afastou suas pernas e pressionou a coxa contra seu centro, rebolou levemente e Cass gemeu em sua boca.

Sem se afastar ou interromper o beijo, Cassandra posicionou Agatha de forma que também tivesse a coxa pressionada entre suas pernas. Rebolaram juntas, em sincronia, movendo-se uma contra a outra, gemendo em uníssono, os lábios nunca se afastando mais do que alguns segundos e apenas para respirar. A sensação de ter Agatha junto a ela, poder sentir seu corpo movendo-se de forma perfeita, enviava ondas de prazer com as quais Cassandra mal conseguia lidar.

Estremeceram e gozaram juntas, em perfeita sincronia, e Agatha caiu sobre seu peito. Cassandra pode sentir seu coração batendo em disparada contra o próprio peito, forte e maravilhoso, e decidiu que queria senti-la assim para sempre.

- Fique – pediu ao acariciar os cachos vermelhos – Passe a noite comigo.

- Não vou a lugar algum.

Agatha não demorou a adormecer sobre seu peito, a cabeça aninhada sob seu pescoço, e ressonou tranquilamente. Pela primeira vez em sua vida, desde que podia se lembrar, Cassandra não se importou nada e apreciou o gesto.

- Não vá embora.

O pedido ficou sem resposta, mas a teria algum dia.

[...]

Alguns dias depois a nevasca diminuiu e, assim como a neve parecia diminuir aos poucos, o humor das garotas aumentava consideravelmente.

Ella e Daniela corriam pelos corredores do castelo com Cassandra em seu encalço, as duas de mãos dadas e rindo como garotinhas após pregarem uma peça, - o que não era totalmente errado, já que Daniela havia dado um jeito de roubar o livro de poemas escondido sob o travesseiro de Cassandra - e passou longos minutos recitando as páginas marcadas, sempre insinuando que eram para Agatha.

A jovem caçadora não sabia bem como entrara na confusão, mas acabou sendo puxada por Daniela, a qual gritava que, como a humana estava na “brincadeira”, Cassandra não era permitida de voar atrás delas; era uma nova regra: se Ella estivesse envolvida as garotas só podiam correr para que não se tornasse injusto. Só se esqueciam que, mesmo correndo, podiam ser mais rápidas do que ela e que, invariavelmente, não acabaria bem.

Assim como das outras vezes, o resultado foi diferente do esperado. Ella tropeçou na borda de um tapete e assistiu, como se em câmera lenta, o chão aproximando-se até que caiu pesadamente; Daniela soltou sua mão e continuou correndo, no exato momento em que a loira sentiu uma dor lancinante em sua costela esquerda e Cassandra praticamente voou por cima do seu corpo. O som de algo se espatifando no chão fez Ella fechar os olhos e torcer para ser sua costela se partindo, ou alguma parte do corpo de Cassandra, e não mais um dos vasos de Alcina.

- Eu sabia que isso ia acontecer.

A voz de Bela soou quase desinteressada.

- Tão ruim? – Ella perguntou.

- Uma bagunça.

Ella abriu os olhos e viu que Bela repousava tranquilamente sobre o sofá mais próximo, lendo um livro, enquanto Cassandra levantava-se e Daniela tentava, muito mal, segurar uma gargalhada.

- Parece que tenho quatro crianças nesse castelo.

Ao som da voz de Alcina, Ella levantou-se rapidamente e correu para junto de Cassandra e Daniela, que haviam parado de brigar ao notar a aproximação da mãe. Como suspeitava mais um vaso jazia quebrado e Cassandra tinha vários pedacinhos de louça branca presos em seu cabelo.

- Quem é a responsável por esta bagunça?

Ella e Daniela apontaram imediatamente para Cassandra que, por sua vez, estava entre elas e apontou na direção das duas.

- Ei! – Ella e Daniela reclamaram juntas.

- Foi culpa de vocês! – Cassandra acusou.

Alcina apertou a ponte do nariz e bufou.

- Bela?

- Daniela roubou o livro da Cassandra, que começou a persegui-la. Para se livrar acabou agarrando a Ella no processo e a levou junto. Ella tropeçou e caiu, Daniela continuou correndo, daí Cassandra tropeçou na Ella, caiu e quebrou o vaso com a cara.

Ella virou-se para Cassandra.

- Você tropeçou em mim?! – reclamou ao segurar a costela – Isso doeu!

- Vocês começaram!

- Chega! – Alcina mandou – Ella, como você está?

- Bem – Ella respirou algumas vezes – Não está quebrada.

- Daniela, Cassandra, conversaremos sobre isso mais tarde – avisou em tom sério – Agora, preciso que se troquem e fiquem apresentáveis; Heisenberg está chegando para uma reunião e precisamos compensar o que houve na última vez.

Ella sentiu as bochechas queimarem, afinal de contas tinha sido o motivo pelo qual houve uma confusão durante a visita do outro lorde.

- Vou mandar que alguém limpe essa bagunça.

Decidindo que era melhor não brincar com o humor de Alcina, principalmente prestes a receber uma visita do seu irmão irritante, todas elas correram para obedecer a ordem direta e evitar uma bronca ou castigo. Depois de um banho rápido, ao que Ella descobriu que um hematoma já se formava na altura das suas costelas, viu-se na sala de vestir sem saber o que usar; não era, nem de longe, a melhor em escolher vestidos para as ocasiões certas e teria ficado ali por horas não fosse por Bela e as irmãs terem aparecido.

As três usavam vestidos ligeiramente diferentes, sem os capuzes e com as mangas de renda; o de Bela tinha pequenos detalhes em vermelho na gola; o de Cassandra, assim como a pedra do seu colar, continha detalhes em amarelo enquanto o de Daniela era verde.

- Vocês estão lindas – disse com sinceridade – E Cassandra, me desculpe por mais cedo.

- Está tudo bem, pelo menos eu me diverti e também sinto muito por ter tropeçado em você.

- Viemos ajudar – Bela informou – E parece que você precisa.

- Por favor.

Apesar de se sentir um pouco envergonhada por estar usando apenas roupas íntimas, - até aquele momento apenas Alcina a tinha visto em tal estado, - sentiu-se grata pelas três terem decidido ajudá-la, principalmente porque sabia que as chances de conseguir vestir-se de forma apresentável sem a ajuda de Agatha eram mínimas.

- Me deixa pentear você? – Daniela perguntou – Por favor!

- Claro, Dani.

- Vou pegar seu vestido – disse Cassandra – Agatha disse para usar o novo azul, ela disse que vai ressaltar seus olhos e combinar bem com o colar que mãe deu a você.

Cassandra voltou com um vestido longo, de um azul um pouco mais escuro do que o seu preferido; a parte frontal era de um branco perolado, material fluído, enquanto o restante parecia ser feito de veludo azul escuro, ou algum tecido quente e agradável em contato com a pele; dos ombros até os pulsos o vestido era justo, mas abria-se nos punhos, nos quais havia detalhes em dourado, como se fossem fios de ouro. Era magnífico e realmente combinaria bem com o colar, o que deveria deixar Alcina feliz ainda que não tivesse um decote extravagante como os outros.

Bela insistiu em fazer sua maquiagem e Ella sabia que não podia ficar pior do que se fizesse sozinha, então permitiu e permaneceu quieta enquanto Daniela insistia em fazer cachos no seu cabelo. Pareceu que muito tempo se passou até que as duas finalmente se afastassem e Bela anunciasse que estava pronta, tempo suficiente para deixá-la nervosa quanto ao resultado, mas ao olhar-se no espelho, deparou-se com uma versão melhor de si mesma; a maquiagem, tal qual o vestido, ressaltou seus olhos e suas maçãs do rosto estavam altas e bem definidas; seu batom não era tão carregado quanto o das irmãs, apenas o suficiente para deixar os lábios rosados.

- Agora você também está linda – Daniela sorriu para o seu reflexo – Devia usar mais o cabelo desse jeito, ficou bem em você.

Ella concordou; apesar de preferir os cabelos presos e longe do rosto, os cachos lhe caíram bem.

- Obrigada, Dani. Obrigada a todas vocês.

- Mais uma coisa – disse Bela ao se aproximar com o colar de diamantes – O toque final.

O colar foi preso em seu pescoço e repousou pesadamente sobre seu peito.

- Mãe vai adorar – Bela sorriu e mexeu no próprio colar – Talvez você use uma pedra azul quando chegar a hora, vai combinar com seus olhos.

- Chegar a hora do quê?

- Nada.

A porta do quarto foi aberta e Lady Dimitrescu passou por ela, abaixando-se ao atravessá-la, e aproximou-se com um sorriso nos lábios.

- Vocês estão lindas, garotas – Alcina elogiou – Basta se comportarem e tentem não quebrar nada desta vez, sim?

As três se apressaram em responder de forma afirmativa e prometer que não faram nada estúpido que pudesse enfurecer a mãe.

Daniela deu um passo para o lado e indicou Ella com um gesto floreado.

- Ella não está linda, mãe? Nós ajudamos.

Alcina a observou e sorriu, não aquele sorriso predador e cheio de dentes que Ella achava tão característico, mas um pequeno e singelo, suave, carinhoso. As garotas apressaram-se em sair dos aposentos da mãe, dando a desculpa de que esperariam pelo tio no saguão principal e deixaram-nas a sós, ao que Alcina aproximou-se e tocou seu rosto em um gesto amoroso.

- Você está linda, draga mea.

- Obrigada – Ella sorriu e deu uma pequena volta – As garotas insistiram.

- E fizeram muito bem.

A Condessa inclinou-se a beijou carinhosamente, seus lábios macios moveram-se sobre os de Ella e deixaram-na tonta com a sensação que a acometeu.

- Mal posso esperar para ficar a sós com você – Alcina a olhou de cima abaixo – Mal posso esperar pra tirar esse vestido.

Ella sentiu as bochechas queimarem, mas conseguiu manter a compostura e sorrir de forma provocante. As duas poderiam jogar aquele joguinho.

- Então é melhor descermos logo e esperar por seu irmão; quanto mais rápido ele vier e for embora, mais rápido poderemos ter algum tempo juntas.

- De acordo, draga mea.

Alcina segurou sua mão e a apertou levemente ao guiá-la para fora dos seus aposentos. Caminharam juntas mesmo que Ella precisasse dar dois passos para acompanhar um único da Condessa.

Da escada puderam ouvir a voz espalhafatosa do homem e Ella notou que Alcina apertou sua mão com um pouco mais de força, não o suficiente para machucá-la, mas como se buscasse algum apoio, e a caçadora gostou da sensação. Devolveu o aperto e sorriu suavemente.

No saguão, Karl Heisenberg abraçava as sobrinhas e as apertava, principalmente Daniela, a quem levantou um pouco alto demais e fez Alcina bufar.

- Alcina, querida irmã! – Heisenberg exclamou ao vê-las, tirou o chapéu puído e fez um gesto teatral em direção a Ella – E loirinha, é bom te ver de novo!

- É bom vê-lo também.

- Não tão bom assim, e seu nome é Ella – Alcina reclamou – E quem é sua acompanhante?

Só então Ella se deu conta de que Heisenberg era acompanhado por uma jovem mulher; ela manteve-se alguns metros afastada e tinha os braços cruzados atrás das costas, mas seu olhar vagava entre as mulheres Dimitrescu.

- Ah, sim! Preciso apresentá-las a vocês, venha aqui, querida – Karl acenou para que a mulher se aproximasse – Essa é Velaska, ela é minha... Aprendiz, pupila e qualquer outra coisa.

- O que essa pobre jovem fez para merecer estar ao seu lado?

- Sempre uma simpatia não é, Alcina? Ela foi um presente da própria Miranda, uma recompensa por serviços prestados.

Alcina praticamente rosnou de modo ameaçador e Ella tentou não revirar os olhos ao perceber como a simples menção de Mãe Miranda podia mexer com sua amante.

- Você tem sua loirinha, então pensei: porque não ter uma como ela? Só que a Velaska é ótima construindo coisas, tem talento nato para ser uma engenheira.

- Você só está há cinco minutos no meu castelo e já está causando problemas – Alcina se virou sem esperar por uma resposta – Venha logo, quero resolver esse assunto de uma vez por todas; seu bichinho pode ficar com minhas filhas – Ela virou-se para as garotas – Não a mordam, a menos que seja necessário.

- Velaska, fique com a Ella – disse Heisenberg ao apontar em sua direção – Talvez vocês fiquem amigas. E, loirinha, você tem um belo diamante aí.

- Foi um presente.

- Eu posso proporcionar essas coisas a Ella, irmãozinho – Alcina zombou sem ao menos virar-se em sua direção – Enquanto você dorme naquela fábrica decadente, cujo cheiro é pior do que os peixes apodrecidos no reservatório do Moreau.

- Eu gosto do cheiro! Qual o problema com o cheiro?!

Os dois desapareceram em direção ao escritório de Alcina e por um breve momento Ella não soube o que fazer, e permaneceu parada junto às garotas, que encaravam Velaska. Ao lembrar-se de como fora assustador chegar ao castelo e que a jovem não devia estar há tanto tempo na companhia de Heisenberg - que a deixou sozinha com desconhecidas -, Ella resolveu fazer alguma coisa para cortar a tensão.

- Cassandra, você poderia, por favor, procurar Agatha e pedir que ela sirva o chá na biblioteca?

- Claro.

Cassandra se transformou em uma nuvem de insetos e seguiu sentido a cozinha.

- Eu sou a Ella, pode me chamar assim – Apresentou-se nervosamente – Aquela que saiu é a CCassandra

- Ela foi encontrar a namorada – Daniela provocou.

- E essa é Daniela, é a irmã caçula – Ella a apresentou.

- Oi!

Daniela acenou animadamente e Velaska devolveu com alguma relutância.

- E essa é Bela, a mais velha das três.

- Oi...

Velaska a cumprimentou com um sorriso singelo nos lábios, porém Bela não a respondeu, como se tivesse perdido a capacidade de falar. Piscou algumas vezes e chegou a abrir a boca, mas o som morreu antes de deixar seus lábios.

- Qual o seu problema? – Daniela perguntou – Deixa de ser esquisita e diga oi.

- O-oi – Bela gaguejou – Olá.

- Olá – Velaska respondeu novamente, dessa vez com um sorriso maior – Então vocês são todas irmãs?

- Ella é nossa futura mãe – Daniela respondeu – Mais ou menos.

- Eu sou... – Ella balançou a cabeça – É difícil explicar. Vem, é melhor irmos para a biblioteca.

Ella as guiou até a biblioteca e Daniela tagarelou durante todo o tempo, o que foi bom para disfarçar que Bela continuava em completo silêncio e recusava-se a olhar para qualquer uma delas.

- Fique à vontade – Ella indicou uma poltrona – Cassandra logo voltará com Agatha.

- Ou não, elas podem estar se beijando pelos corredores – Daniela apontou – Nossa irmã não tem jeito.

Velaska sentou-se na poltrona ao lado de Bela e, pela primeira vez, Ella pode dar uma boa olhada nela. Os cabelos longos e pretos, tão escuros quanto o céu noturno, estavam presos em um coque bagunçado; seu olho esquerdo era de um azul elétrico enquanto o direito era completamente branco; seu rosto era deveras belo, com seus lábios finos e poucas sardas espalhadas pelo seu nariz; havia cicatrizes na pele clara, a maior delas cortava sua bochecha esquerda. Apesar dos ferimentos, Velaska era realmente bonita de um modo meio selvagem e suas roupas eram do tipo que Alcina jamais permitira no castelo, ainda que estivessem mais limpas que as de Heisenberg.

- Você estava mesmo com a Mãe Miranda? – Ella perguntou interessada – Ela te deu como um presente para o Heisenberg?

- Fui um dos seus experimentos – Velaska admitiu – E estou aliviada por poder viver na fábrica agora. Heisenberg não é ruim.

- E vocês dois... – Bela pigarreou e Ella poderia jurar que a viu corar – Você sabe... Estão juntos?

- Foi isso que ele deu a entender? Por enquanto, Lorde Heisenberg tem me ensinado a construir coisas.

- Talvez seja assim que ele esteja te cortejando – Daniela argumentou – Mãe dá joias a Ella, mas cada um faz de um jeito.

Cassandra e Agatha adentraram a biblioteca. Ella sorriu ao notar que Cass abriu as portas para que a ruiva a atravessasse com a bandeja em mãos, e, pela expressão de Agatha, ficou claro que estava gostando desse novo desenvolvimento do seu relacionamento.

- Mãe e Heisenberg estão discutindo – disse Cassandra ao se aproximar – Não parece bom.

- Nunca é – Daniela bufou.

Velaska balançou a cabeça lentamente como se soubesse bem o que estava acontecendo.

- Lorde Heisenberg comentou algo sobre dividir os trabalhadores. Acho que Mãe Miranda disse que eles precisam fazer isso sozinhos.

- Já entendi tudo – Cassandra fez uma careta – Vai demorar.

Cassandra estava certa, iria demorar e bastante. A tarde se arrastou enquanto conversavam e não havia qualquer sinal de que Alcina e Heisenberg conseguiram chegar a um acordo que parecesse plausível para os dois; as garotas pareciam acostumadas com essas reuniões e não ligaram muito, com exceção de Bela, que continuava calada, volta e meia lançando olhares furtivos em direção à nova convidada.

Ella pediu a Agatha que preparasse um lugar a mais para o jantar; como as meninas possuíam uma dieta muito particular, acabou convidando apenas Velaska para acompanhá-la.

Foram horas até Heisenberg finalmente aparecer e chamou Velaska, para que o acompanhasse.

- Ah, loirinha! – Karl a chamou – Acho que minha queria irmã espera por você.

- Obrigada por informar, mas saiba que tenho um nome e não é “loirinha”.

Heisenberg não pareceu se importar com sua reclamação e saiu com Velaska em seu encalço. Ella só pode sentir pena da pobre mulher, a qual precisaria cruzar o vilarejo durante o inverno; ainda que não estivesse nevando, a temperatura estava longe de ser considerada agradável.

- Eu vou me deitar – disse Bela após um momento – Boa noite.

- Você está bem? – Ella perguntou – Parece pálida.

- Só cansada.

Sem dizer mais uma palavra, e sob olhares curiosos de Ella, Cassandra e Daniela, Bela subiu as escadas lentamente e sequer olhou para trás uma última vez. Ella fez uma nota mental sobre falar com Bela na manhã seguinte e descobrir o que estava acontecendo; não era incomum que a mais velha tivesse longos momentos de introspecção e Alcina já havia lhe falado sobre a ansiedade por separação que a loira teve logo após o despertar. Esses fatores a faziam preocupar-se.

Após alguns minutos, Ella despediu-se de Daniela e Cassandra, sabendo bem que a morena logo iria encontrar Agatha, e caminhou a passos lentos para seus aposentos. Não sabia com que humor Alcina estaria após tanto tempo em companhia de seu irmão, também não fazia ideia de como estava se sentindo após vê-la tão incomodada por Mãe Miranda ter presenteado Heisenberg; o fato era que estava sendo esperada e não havia como evitar o encontro com sua amante, não quando precisavam dormir na mesma cama.

Alcina estava parada junto à janela com o olhar perdido na escuridão lá fora. Já se encontrava sem o vestido branco, usando apenas um robe feito de material mais grosso que o de costume; sua mão brincava distraidamente com a renda presa em um dos punhos como se não tivesse se dado conta do que fazia. Ella pigarreou para chamar sua atenção.

- Ah, aí está você – Alcina sorriu – Se divertiu?

Ella deu de ombros. Deveria ter se divertido?

- Como foi a reunião?

- Heisenberg pode ser uma pedra no sapato, mas conseguimos chegar a um acordo justo – disse como se as palavras tivessem um gosto amargo em sua boca – Ainda preferiria ter mais trabalhadores, mas... Oh, deixe isso para lá! Não desejo falar de negócios em sua presença, principalmente quando está tão linda. Venha aqui, draga mea.

Alcina sorriu e lhe estendeu a mão. O sorriso predador estava de volta, um pouco menor, mas estava de volta. Ella deu um passo para trás e sentiu as pernas baterem na cama.

- Não!

- Não? – O sorriso de Alcina aumentou e ela recolheu a mão – Eu vejo...

Avançou alguns passos em direção a Ella sem, no entanto, invadir seu espaço pessoal; Alcina não parecia preocupada com sua recusa, pelo contrário, parecia divertir-se muitíssimo ao vê-la tentando se afastar.

- Por que ficou tão incomodada com o fato da Mãe Miranda dar um presente para o seu irmão?

- Não é óbvio, querida? Ele é um rato insolente e desleal que não merece reconhecimento – Alcina respondeu sem pestanejar e continuou a se aproximar lentamente. A cada passo o robe se movia um pouco e Ella podia ver uma nesga de renda preta, fazendo seu coração palpitar – Agora, é melhor vir aqui já.

Ella não se moveu, o tom autoritário de Alcina a deixou mais excitada do que gostaria de admitir e não sabia se conseguiria se mover sem jogar-se em seus braços.

- Então ainda sou seu bichinho? Um prêmio para ser comparado ao de Heisenberg? Para ser exibida em vestidos bonitos e joias caras? – Perguntou magoada – Ela é ótima construindo coisas.

- E você é uma raridade, não é? Não importa como se vista ou quantas joias use, ainda é você. Inigualável. Draga mea... – Alcina inclinou-se em sua direção e lhe agarrou o queixo com alguma violência, as unhas afiadas arranharam levemente sua pele macia, sem feri-la de verdade – Eu não fiz tudo por você? Deixei seu amigo vivo. Não se engane, draga mea, eu não ligo para qualquer dívida que você tenha com a família dele. O poupei por você. Não cuidei de você? Não lhe faço todas as vontades e caprichos? Acha que não sei que você e minhas filhas se escondem no arsenal para usar aquele bendito arco, mesmo após dizer a você que não o fizesse dentro do castelo?

Ella arregalou os olhos e assentiu. Haviam, de fato, se escondido na sala do arsenal para usar o arco, mas não tinha ideia de como Alcina descobrira. Como se pudesse ler seus pensamentos, a Condessa sorriu.

- Eu sei de tudo que acontece no meu castelo, draga mea. Diga-me, tem mais perguntas?

- Não...

- Bom. Muito bom.

Alcina agarrou seu pescoço, não com força o suficiente para machucar, e a puxou para um beijo ao que Ella derreteu-se imediatamente. Era um crime não se entregar àquela mulher.

- Você está linda, draga mea.

O beijo terminou rápido demais. Quando a Condessa se afastou após proferir tais palavras, novamente lançou um olhar cheio de desejo em direção a Ella, recuando alguns passos; Alcina abriu o laço frontal do robe que usava e o deixou cair em um monte a seus pés. A visão esplendorosa do seu corpo deixou a jovem sem palavras; a Condessa usava um conjunto de lingerie na cor preta, as meias altas terminavam em renda na mesma cor e eram mantidas no lugar por uma cinta-liga; mortalmente linda, maravilhosa, como um fruto proibido que esperava Ella atrever-se a aproximar-se mais e prová-lo.

Alcina caminhou lentamente, balançando os quadris como se tivesse certeza de que Ella a estava observando, e sentou-se na poltrona de costume.

- Venha aqui, draga mea.

Ella se aproximou, sem tirar os olhos da Condessa; tentava absorver o quanto podia de sua figura alta e imponente.

- De joelhos.

Obedeceu prontamente a ordem. Seu centro se contraiu com a voz rouca e autoritária, e foi recompensada por Alcina, que afastou as pernas.

- Sabe o que fazer, draga mea.

Ella sabia e desejava mais do que tudo cumprir o seu propósito. Passou os lábios pelas coxas pálidas da Condessa, apreciando a sensação de poder tocá-la de tal forma, e passou os dentes pela extensão da pele macia, até atingir o que tanto desejava; Alcina não a impediu, ao contrário, abriu ainda mais as coxas e permitiu que Ella afastasse sua calcinha; seu cheiro inebriante atingiu a jovem, a qual não perdeu tempo em experimentá-la.

Um gemido escapou dos seus lábios ao sentir o gosto da Condessa em sua língua. Alcina parecia sempre tão doce, deliciosa... Ella passou a língua através das duas dobras, circulou sua entrada e subiu lentamente até fechar os lábios sobre o clitóris, o sugando. Alcina gemeu e segurou sua cabeça no lugar, como se Ella pudesse afastar-se após prová-la, quando na verdade nada a tiraria dali; a jovem circulou o feixe de nervos preguiçosamente com a língua, provocando o quanto podia, apreciando o sabor da sua excitação.

Alcina rebolou levemente, esfregando as dobras molhadas em seu rosto, cobrindo-o com sua excitação, fazendo com que Ella se empenhasse ainda mais em seu propósito. Esfregou a parte plana da sua língua contra o clitóris da Condessa e gemeu contra ele quando seus cabelos foram puxados, o ato servindo como estimulante; já se encontrava completamente molhada, sedenta por atenção e nada podia fazer a respeito. Não desejava desviar o mínimo de atenção que dedicava a Alcina naquele momento.

Os gemidos guturais que escapavam da garganta da Condessa também serviam como combustível, deixando-a ainda mais excitada e a motivando a empenhar-se ainda mais em lhe proporcionar prazer; sentiu os espasmos percorrerem o corpo de Alcina e sorriu de forma travessa ao fechar os lábios sobre o clitóris uma última vez, sugando-o com força. Os quadris da amante se moveram conforme rebolava contra seu rosto, os espasmos do orgasmo fizeram suas coxas tremerem e Ella as agarrou, afundando as unhas na pele pálida, o que fez Alcina gemer uma última vez e ofegar.

Ao afastar-se, ainda que contrária à sua vontade, encontrou-a com a cabeça jogada para trás e a expressão tomada pelo êxtase e o prazer, tal qual a retratara em seus desenhos; os lábios encontravam-se repuxados em um sorriso satisfeito e o peito de Alcina subia e descia conforme tentava normalizar sua respiração.

E Deus, como ela estava linda!

Levou alguns poucos minutos para Alcina recuperar-se e, ao fazê-lo, chamou Ella, para que se aproximasse.

- Venha aqui. Você foi uma boa garota e merece uma recompensa.

Conforme indicado, Ella subiu no colo de Alcina e pousou os joelhos ao redor das suas coxas. Seu vestido foi descartado, deixando-a apenas com as roupas íntimas, e a Condessa passou a mão por todo seu corpo, demorando-se em seus seios antes de praticamente rasgar seu sutiã e jogá-lo no chão.  Ella não conseguiu resistir e apertou os seios de Alcina ainda que estivessem escondidos pelo sutiã e aplicou alguns beijos na parte superior; a Condessa pareceu apiedar-se e retirou a peça para que a jovem obtivesse o que queria, ao que imediatamente agarrou os seios pesados e colou os lábios em um deles.

- Tão ansiosa... – Alcina gemeu – Vou cuidar de você.

Ella mal se deu conta de que sua calcinha foi afastada, estava ocupada demais deliciando-se nos seios de Alcina, e também mal percebeu que os dedos da mulher afastavam suas dobras, experimentando sua excitação.

- Está pronta para mim, draga mea.

Alcina a penetrou com dois dedos e Ella gemeu seu nome languidamente, sentindo suas paredes esticando-se para acomodar a Condessa dentro de si, e a sensação a deixou ainda mais excitada.

- Uma coisinha tão carente – Alcina sorriu – Tão perfeita...

Agarrou a cintura de Ella com a outra mão e a guiou de cima para baixo em seus dedos, devagar no início, mas logo estabeleceu um ritmo brutal, apreciando a forma como os seios da jovem pulavam a cada estocada e como jogava a cabeça para trás ao gemer mais alto. Depois de ter chupado Alcina, sentido seu gosto, Ella estava extremamente sensível e não demorou para que seu corpo desse os primeiros sinais de que se aproximava do orgasmo iminente.

Ella rebolou contra a mão de Alcina, cada impacto a fazia estremecer e gemer de forma quase pecaminosa. Estava tão perto, só precisava de um pouco mais de atrito. Só um pouco mais...

Alcina virou os dedos dentro dela de forma a acertar um ponto delicado dentro de si, fazendo com que Ella jogasse a cabeça para trás e estremecesse uma última vez.

- Alcina!

Atingiu o orgasmo com o nome da Condessa nos lábios.

Alcina guiou seus movimentos, desacelerando aos poucos para prolongar o efeito do orgasmo e Ella deixou-se cair contra seu corpo, ao que foi imediatamente amparada. Todo seu corpo estava mole, os últimos espasmos do orgasmo ainda percorriam seus músculos e Ella não queria nada além de ser abraçada por Alcina.

- Vou colocá-la na cama.

Às vezes parecia que a Condessa podia de fato ler seus pensamentos, quase adivinhava o que Ella desejava no momento certo.

Assim que seu corpo foi colocado sobre a cama, Ella sorriu ao ter a última peça de roupa arrancada dela, ao passo que Alcina terminou de se despir. É claro que a vampira alta tinha uma resistência incrível.

Não que ela estivesse reclamando, Ella jamais reclamaria de ser desejada por Lady Dimitrescu.

[...]

As últimas semanas do inverno transcorreram quase sem problemas. Elas não podiam mais descer as escadas em um colchão, mas a caçadora não culpava Alcina por ficar furiosa e estabelecer a ordem de uma vez por todas, não quando a haviam acidentalmente atropelado na última vez que tentaram; Ella nunca a tinha visto tão brava e preocupada antes e agradeceu por ser a última da fileira, ou poderia ter acabado com um pescoço quebrado.

Heisenberg não voltou ao castelo, o que significava que tiveram paz, ao menos nesse sentido.

Cassandra passava cada vez mais tempo esgueirando-se com Agatha pelos corredores, e, se isso perturbou a mãe, nada lhe foi dito sobre o assunto.

Conforme os dias esquentavam e a neve derretia, as garotas ficavam cada vez mais animadas com a possibilidade de sair do castelo e Ella as entendeu perfeitamente; desejava mais que qualquer coisa poder sair e andar livremente por aí, já que suas escapadas resumiam-se a visitar seu cavalo nos estábulos.

Para sua surpresa, Alcina permitiu que as garotas saíssem e caminhassem até o vilarejo em uma tarde, desde que prometessem estar de volta antes do anoitecer, já que poderia esfriar novamente; além disso, a Condessa foi gentil ao lembrar o fato que Ella não era uma prisioneira no castelo e, portanto, poderia sair quando bem desejasse, mas que preferia que fosse em companhia das garotas, para sua própria segurança. Ella não se importou nada com a imposição velada, de qualquer forma preferia sair em companhia de Bela, Cassandra e Daniela do que sozinha.

Tomaram o caminho para o vilarejo juntas. Cassandra um pouco mais atrás, caminhando calmamente, enquanto Daniela corria a sua volta parecendo desejar ver tudo ao mesmo tempo; em algum momento Ella jurou ter visto a ruiva perseguir uma borboleta. Já Bela caminhou ao seu lado e segurou sua mão em um gesto de intimidade, ambas aproveitando a companhia uma da outra.

Ao adentrar o vilarejo, Ella percebeu os primeiros olhares, aqui e ali as pessoas cochichavam e apontavam, ao que as três irmãs sequer deram atenção, já deveras acostumadas com o comportamento dos aldeões. As casas simples deram lugar a alguns poucos pontos comerciais; as mesmas pessoas que Ella conhecia durante sua breve estadia viraram-lhe o rosto como se fosse algo desagradável.

- Não ligue para eles – Bela sussurrou – Só estão com medo.

Daniela gargalhou ao ver um homem correndo para dentro de casa.

Tentando ignorar os olhares avessos que lhe eram lançados, Ella continuou a andar até que percebeu que Bela não mais a acompanhava.

- Bela...?

Seguiu o olhar da outra loira e a encontrou olhando para uma figura conhecida. Velaska saiu do ferreiro local e acenou em sua direção antes de se aproximar.

- Olá! É bom ver vocês de novo.

- Igualmente – Ella sorriu.

Velaska olhou entre as duas e então para suas mãos, que permaneciam unidas.

- Vocês estão juntas? Achei que você tinha um caso com Lady Dimitrescu, foi o que Lorde Heisenberg disse.

Bela, que até então permanecera em silêncio, soltou sua mão como se estivesse pegando fogo e apressou-se em explicar.

- Não! Somos só amigas, nada mais...

Uma movimentação à sua direita chamou sua atenção e deixou de escutar o que Bela dizia.

Algumas crianças brincavam não muito longe dali, correndo ao redor dos adultos que passavam pela rua de terra batida e, vez ou outra, algum adulto talhava decido às travessuras. Foi então que a viu. Seus cabelos estavam mais longos e o vestido florido puído provavelmente pertencera a outra criança antes dela, mas ainda assim era total e inegavelmente sua irmã.

- É a Judith...

O murmúrio saiu como um lamento estrangulado e fez Bela parar de falar.

- O quê?

- É a Judith – Ella engoliu em seco, as lágrimas já se acumulavam nos cantos dos seus olhos quando gritou a plenos pulmões: - JUDITH!


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Vocês pediram Cassandra e Agatha? Tá aí!
Espero que tenham gostado!!
Comentários, ideias e sugestões são bem-vindas! (Tenho um caderninho onde anoto tudo!)

Belas Criaturas (fanfic Lady Dimitrescu)Onde histórias criam vida. Descubra agora