Dezoito

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-Você vai me esperar aqui, não vai? Você prometeu se esforçar pelo nosso relacionamento, Eren. -A voz forte do homem mais alto soou mansa, as mãos grandes agarrando o corpo menor do adolescente com firmeza e carinho, dedos grossos acariciando as bochechas ainda redondas e infantis.

-Vou, me desculpe por insistir em sair. -Eren respondeu, o rosto corado de vergonha e arrependimento. -Posso fazer algo para comermos quando você chegar e-

-Não vai ser necessário. -Reiner soltou seu rosto e se afastou, caminhando até a bolsa esportiva jogada em um canto da enorme sala do apartamento. -Vou comer com os caras do time depois da partida, vamos beber algumas também. Me espere acordado, tome banho e não saia.

Com as instruções já claras em sua mente, Eren suspirou, movimentando a cabeça em concordância.

-Acho que vou terminar… - Não terminou de falar pois Reiner não estava mais lá, as costas largas e musculosas do loiro se afastaram rapidamente em direção a saída. - ...aquele livro.

Sussurrou a última parte antes de observar todo o cômodo já conhecido do apartamento pessoal de Reiner, lugar que se tornou seu lar desde que seus pais não estavam mais vivos, a faculdade se tornou um sonho distante e tudo que Eren podia fazer era agradecer ao namorado por fornecer um teto e comida. Mesmo que sentisse que deveria encaminhar sua vida, Reiner havia sido gentil o suficiente ao dizer que poderia ter paciência e decidir tudo com calma, que deveria viver o luto primeiro e aproveitar a proteção que apenas ele poderia dar.

-Como se sente? -A voz de Hanji soou preocupada.

Piscou atordoado, havia adormecido? Quando? Porque? O que Hanji fazia em seu quarto?

A avalanche de sentimentos atingiu seu peito com tanta força quanto as memórias das últimas horas daquela noite desastrosa, nada fazia sentido e informações confusas bagunçaram sua mente. Era engraçado pensar em como tudo ruiu de uma só vez, como toda a ilusão ao qual estava se afogando nos últimos dias quebrou com apenas poucas informações.

Porque havia sonhado com aquela lembrança? Fazia muito tempo desde a última vez que sonhou com algo tranquilo, mesmo que fosse claro agora que era notoriamente manipulado em um relacionamento abusivo, era melhor do que os pesadelos vividos que tinha todas as madrugadas, pesadelos que remetiam lembranças dolorosas e pesadas. Talvez fosse apenas sua mente associando os últimos acontecimentos com o passado, mas sabia que estava errado. Levi não era e nunca seria como Reiner, por mais que estivesse triste e claramente afetado com a falta de sentimentos do ackerman, ele nunca mentiu ou tentou manipular seus sentimentos, havia sido claro desde o começo que aquilo que faziam era puramente físico, independente das conversas ou momentos extremamente íntimos que tiveram, independente das vezes que conseguiu tirar um sorriso do rosto carrancudo e independente da forma como Levi parecia sempre se preocupa, oferecendo apoio e ajuda. Havia se apaixonado por alguém que não poderia retribuir, se envolveu com seu chefe quando sabia que não poderia se dar o luxo de perder um emprego tão bom, principalmente pelas crianças, estava apegado a elas.

E aparentemente Hanji sabia, já que estava lá com um olhar indecifrável atrás das lentes dos óculos.

-Eu vim atrás de você, acabou cochilando depois de uma crise de pânico, você está melhor? -Escutou Hanji ainda se sentindo acuado pelos sentimentos confusos em seu peito, observou que estava atravessado na cama e com uma manta leve em cima do corpo.

-Estou melhor, obrigado. Que horas são? -Tentou não ficar seus pensamentos no fato de Hanji estar ali e ter provavelmente presenciado tudo, de que ela sabia de tudo e que esperou que acordasse para assinar sua carta de demissão.

-São três da manhã. -Hanji respondeu sem sorrir como de costume, sua aura animada não estava lá. Nesse momento Eren quis sumir, seus olhos lacrimejaram mas não se permitiu chorar, já havia feito isso demais e era hora de encarar seus problemas. Se Hanji estava ali esse tempo todo então era óbvio que ela sabia, era óbvio que ela tomaria uma atitude sobre o assunto. -Eu sei que você está abalado, mas precisamos conversar, Eren.

O tutor Onde histórias criam vida. Descubra agora