Piscou uma, duas, três vezes, a consciência vindo tão lentamente quanto a tontura e a dor em sua testa podiam deixar. Os membros de seu corpo estavam tão moles e dormentes que ele mal os sentia, uma nuvem confusa pairando em sua mente enquanto as lembranças lentamente enchiam sua cabeça.
Lavou as mãos depois de usar o banheiro, secando-as rapidamente com as toalhas descartáveis de papel enquanto se encara no espelho, seus olhos verdes estão brilhando, suas maçãs do rosto coradas e saudáveis e seus cabelos em uma bagunça natural, fios espalhados por todos os lados com a franja presa por algumas presilhas. Eren nunca se sentiu tão bem ao se olhar no espelho, não existia mais vergonha e repulsa pelas marcas que precisava cobrir, nem insegurança com sua aparência, no fundo dos próprios olhos Eren enxergou felicidade e satisfação. Ainda existia um fundo de tristeza, o Jaeger não precisava olhar para saber disso, mas esse sentimento não incomodava tanto mais, não quando existia uma chance de saída, uma opção de melhora, Eren sabia que seria difícil e um caminho muito doloroso, mas ele estava disposto e recebia apoio o suficiente para se levantar se suas forças esvaziarem, estava tudo bem, ficaria tudo bem.
Palmas explodiram no estúdio e Eren decidiu se apressar, não queria perder o momento que Kaya ganharia – Eren tinha certeza que ela já tinha ganho – Então moveu suas longas pernas em direção a saída do banheiro para ir até a família Ackerman, sua família de coração.
Talvez fizesse um bolo de comemoração para Kaya depois do resultado, ou eles iriam em algum restaurante de novo? Eren não achava que seria confortável para eles irem a algum lugar tão desprotegido quando a mídia estava agindo de forma tão calorosa com eles. Talvez Levi, as crianças e até Hanji estivessem acostumados com aquilo ou tão distraídos com as possibilidades para Kaya que não perceberam os olhares que receberam desde que pisaram no estúdio, ninguém além dele pareceu notar a distância que a maioria das pessoas tomou daquela família ou os sussurros que saiam quando passaram. Eren agradeceu pela imprensa não ter acesso ao local, as únicas câmeras de filmagens eram as do próprio programa.
– Eren. – Eren não virou o rosto, ele conhecia aquela voz e aquele tom de comando e ele sabia que sua mente novamente estava lhe pregando peças, prendendo-o em uma nuvem assustada de lembranças terríveis.
Eren ignorou o vulto que estava parado logo ao lado da porta, seus músculos travando por um segundo, se recusando a se mover mais um centímetro para perto dele. Eren se esforçou para não olhar, não ouvir e não sentir aquela presença, era falso, uma lembrança dolorida surgindo para estragar mais um de seus dias, ele precisava seguir em frente, ir até Kaya, Levi e os outros.
Se forçou a se mover, passando pela lembrança loira parada ao seu lado sem se atrever a olhar, não poderia fazer, se o fizesse, Eren sabia que cairia.
– O que seus pais pensariam dessa sua falta de educação, querido? – Não só a voz, mas agora uma mão grande e pesada agarrava seus braços, os dedos longos se fechando em sua carne dos antebraços. – Não finja que você não me viu, Eren, você poderia me reconhecer a milhas de distância.
A última parte saiu como um sussurro na voz grossa do homem mais alto, mas Eren não queria ouvir, ele não queria sentir, ele só precisava seguir em frente e por isso, tentou continuar andando, porém o aperto firme em seu corpo lhe manteve no lugar.
Não era possível, não podia ser.
Reiner não poderia estar ali.
Controlando sua respiração, Eren não ouviu as outras palavras que saíram da boca dele, seus ouvidos estavam surdos e sua visão turva. Era uma ilusão, uma peça de sua mente, ele só precisava se acalmar, respirar e acalmar, se Levi estivesse lá.
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O tutor
RomanceEstava em Maria fugindo de um passado doloroso e cruel, no auge dos seus vinte e seis anos Eren só desejava conseguir se esconder do seu inferno pessoal por mais tempo, mesmo que precisasse morar em uma casa no campo, aguentar uma equipe insana, cin...