8. O passado bate à porta

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A ideia de um namoro falso com Jack tinha ajudado Meike a se livrar um pouco mais da paranoia do irmão. Ela até conseguiu ficar livre dele por mais de uma semana, exceto quando ele mesmo insistia em que ela lhe enviasse as tais candidatas para o casamento arranjado dele. E isso fazia com que Meike insistisse para que Anya aceitasse a proposta, e talvez por aquele motivo, mesmo com a perna engessada, a morena estivesse fugindo mais de seu apartamento para seguir até o estúdio de dança do qual faria parte nos próximos meses, mesmo sem poder ensaiar.

A parte boa de tudo aquilo era que Hendrik não tinha voltado a insistir sobre os casamentos arranjados e Jack parecia estar se comportando – ou ela já teria sido chamada para outra reunião com Hendrik sobre o seu tal namorado infiel. Ou ele estava se comportando ou estava realmente ocupado com o trabalho com a tal pré-temporada da qual Meike não entendia nada. Até Anya parecia mais animada falando dos jogos que estavam por vir do que ela.

Duas semanas tinham se passado desde o acidente de Anya e ela já tinha tirado o gesso para começar a fazer sessões de fisioterapia, mesmo que o pé ainda estivesse um pouco inchado e precisasse ficar de repouso. Com a proximidade do fim de ano, a companhia de balé da qual ela ia se juntar pelos próximos meses estava começando a intensificar os ensaios para a temporada de natal e ano novo, e mesmo sem poder dançar ainda, a russa começou a frequentar os ensaios para observar e dar dicas para sua substituta, caso não se recuperasse a tempo das primeiras apresentações.

Meike notou logo como o ânimo da morena estava um pouco para baixo, em contraste com o seu que estava bem melhor depois de ter se livrado da ideia absurda de Hendrik. Já era o terceiro fim de semana em que ela estava em sua casa e, daquela vez, passou o dia todo no apartamento, sentada na frente da TV com a perna de repouso e trocando os canais constantemente.

– A companhia de dança não tem ensaio hoje? – Meike perguntou, depois do almoço, ao se juntar à Anya no sofá da sala.

– Sim, até às 17h.

– Ah! Você quer que eu te dê uma carona até o ensaio? Eu podia ter te deixado lá pela manhã quando fui no trabalho.

– Não, eu não estava muito disposta hoje. Avisei que ia ficar em casa de repouso. – Anya deu de ombros e Meike percebeu o tom desanimado. Não era de se surpreender, já que ela estava impedida de fazer algo que parecia gostar bastante.

– Então já que está livre, quer ir comigo pro treino?!

– Treino?

– Sim, eu treino krav maga! Não vou há alguns dias por causa dos horários do trabalho já que estamos trabalhando em um novo medicamento para aprovação, mas hoje eu me dei a tarde livre, então eu pensei em ir treinar um pouco, você não quer vir assistir?!

Você treina krav maga?? – Anya pareceu ignorar a série de informações que veio depois do nome da arte marcial.

– Treino sim, ué. E já faz mais de dez anos! Posso te matar de cem maneiras diferentes. – Meike falou com muito orgulho das próprias habilidades.

– Nossa... por essa eu não esperava.

A expressão incrédula de Anya era bem óbvia e Meike inchou as bochechas de ar, o que não contribuiu em nada para que a morena acreditasse nas habilidades dela.

– Eii!! É sério! Eu treino há muito tempo! E sou muito boa!

– Claro, claro, acredito...

– Olha esse tom descrente aí! Agora você tem que vir comigo mesmo pra eu provar que sou boa!

– Tudo bem, essa eu quero ver.

Anya pareceu mais animada com a conversa e Meike sorriu, satisfeita por conseguir distrair a amiga um pouco.

Um Chamado do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora