33. Momento de realização

44 5 0
                                    

– O que está fazendo parada aí na porta? Vai entrando. – Jack andou na direção da amiga enquanto Sarah falava com o garoto, guiando-o na direção da cozinha.

– E-eu só queria ver como está. – Meike respondeu, sem nem saber de onde tinha tirado a coragem de falar. – Eu não queria atrapalhar.

– Não está atrapalhando nada. Eu disse que ia ficar em casa pra me recuperar, não disse? – Jack disse, com o mesmo sorriso descarado no rosto que fez com que Meike engolisse em seco.

Jack tinha acabado de se declarar para ela, mas já estava tão confortável em casa com a ex-namorada da faculdade e o filho – que Meike inconscientemente torceu que fosse só dela –, que aquilo lhe fez pensar que havia ainda várias coisas no passado de Jack que ela tinha ignorado.

– Que bom. – respondeu a loira, forçando um sorriso e apertando um pouco a sacola da comida com uma das mãos e lembrando daquele detalhe. – Hm, eu só vim dar uma passada e trazer-

Junior, o almoço está pronto!

O chamado de Sarah fez com que Meike estremecesse de nervoso, e Jack olhou para o lado na direção da cozinha numa resposta tão automática quanto natural.

– Já vou! – ele se voltou na direção de Meike. – Entre, vamos comer. A Sarah fez o almoço, você vai gostar da comida dela. Pode deixar o hambúrguer aqui que a gente come de noite.

Meike deu uma olhada no amigo e no cenário da família perfeita, ficando completamente sem reação por alguns segundos, até ouvir o chamado insistente da mulher vindo da cozinha de novo para que ele não deixasse a comida esfriar. A loira quase saltou onde estava e empurrou a sacola com a comida na direção de Jack.

– E-eu não posso ficar, estou no meu horário de almoço. Que bom que está se cuidando, eu... hm... passar bem.

Meike fez só um aceno com a cabeça e deu a volta no corredor para poder seguir quase correndo até o elevador. A única coisa que ela ainda ouviu foi a voz de Jack repetindo de um jeito muito confuso o seu "passar bem", seguido da voz de Sarah, perguntando se ela também não ia ficar para o almoço. Ou foi o que Meike imaginou ter ouvido antes de entrar no elevador e as portas se fecharem.

Ela não percebeu, mas fechou as mãos com tanta força em volta da alça da bolsa que sentiu as pontas dos dedos doerem antes mesmo de chegar ao térreo. Havia um nó incômodo no topo da garganta que lhe atrapalhava respirar, o coração estava acelerado como se ela tivesse descido todos os andares de escada e os olhos ardiam de um jeito que ela não tinha sentido antes. Meike não sabia o que pensar ou sequer sentir, principalmente porque não esperava ter aquela visão de Jack na sua família ideal com a ex-namorada líder de torcida da época da faculdade. Além do que, já tinha visto o amigo com mulheres diferentes, mas a sensação daquela vez foi diferente.

– É tudo culpa sua, JJ! Tudo culpa sua! – Meike reclamou consigo mesma assim que entrou no carro para voltar o trajeto conhecido até o trabalho. De um jeito quase inconsciente, ela ainda olhou para trás, numa vaga esperança de que ele tivesse tentado lhe acompanhar ou explicar a situação. Mas não foi seguida, e não havia nada para explicar, não era?

A única alternativa que restou a Meike no resto do dia foi se focar no trabalho para não pensar demais na situação com o amigo, e por conta daquilo, ela acabou perdendo a chance de responder mais rápido algumas mensagens pontuais de Jack que apareceram no seu celular: "Você está bem? Aconteceu alguma coisa?"; "Me avise quando sair do trabalho"; "O que foi que o seu irmão fez dessa vez?".

A loira ainda encarou o celular por um tempo depois de estacionar no prédio em casa, até digitar a resposta que parecia mais simples e credível: "O Micha não fez nada, eu tive muito trabalho pra adiantar já que vamos viajar amanhã". O tempo de entrar no elevador e ficar sem sinal por alguns instantes foi o suficiente também para receber outra resposta do amigo: "Certo, loirinha, te vejo amanhã".

Um Chamado do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora