54. Eu vim te buscar

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A imagem de Hendrik parado na soleira da porta do apartamento de Jack ainda retornou à mente de Meike mais de uma vez ao longo do dia, mas não foi o suficiente para fazê-la mudar de ideia quanto a não ouvir as desculpas do mais velho. Tanto quanto a imagem da expressão desolada dele retornava à sua memória, as palavras duras da noite anterior e o modo como ele tinha tratado a sua situação voltavam à sua mente e só lhe faziam se sentir pior. E foi aquela sensação de que Hendrik não conseguia se importar de fato com ela que fez com que, gradualmente, se sentisse melhor quanto à decisão de não encontrar com ele ou aceitar as desculpas.

Ela ainda encontrou com Anya no meio da semana para trocarem almoços ou jantares, mas nem as breves tentativas da russa amenizaram a situação de Hendrik. A única coisa surpreendente ao longo daqueles dias que se seguiram foi que Hendrik conseguiu achar tempo na agenda para aparecer pessoalmente no apartamento de Jack mais de uma vez. O fim de semana chegou e ainda assim, Meike se negou a encontrar com Hendrik e aceitar as desculpas. Eventualmente, ela esqueceria de tudo aquilo e podia talvez estabelecer uma relação estritamente profissional com o irmão, já que parecia ser a única coisa em que ele era bom.

– Pelo menos você tem que admitir que ele está tentando de verdade dessa vez. – o comentário veio de Anya, enquanto ela compartilhava o almoço com Meike antes de voltar ao ensaio da companhia de balé e a loira para o projeto no laboratório farmacêutico.

– Ele já está é voltando ao normal, nem me atormentou nesse fim de semana. – retrucou Meike.

– Ah, é, ele viajou a negócios, por isso que não passou no apartamento. Ele volta hoje, então talvez você tenha uma nova visita amanhã.

– E você não se meta nisso, ou vou demitir você de ser minha amiga também. – reclamou Meike. – Ele só foi bater no apartamento do JJ por sua causa, não é?! Não tente encobrir a loucura dele, Anya!

– Em minha defesa, eu só disse que ele tinha que se desculpar pessoalmente, não falei nada sobre bater na porta do JJ a semana inteira. – respondeu Anya, recebendo um olhar desconfiado de Meike. – E do jeito estranho e perturbado dele, ele se preocupa com você.

– Claro. – Meike rodou os olhos, voltando a se servir das peças de sushi. – Trocamos de lugar agora, foi? Fica aí tentando consertar o Micha e depois não acredita quando eu digo que a culpa foi sua dele ter ficado quebrado.

– Eu não tenho nada a ver com isso, ele já veio com defeito de fábrica quando namoramos. – Anya sorriu, mas a expressão de Meike assumiu um tom surpreendentemente sóbrio.

– Eu queria esquecer fácil, sabe? Eu já aguentei tanta besteira do Micha, que sinceramente, nem sei por que esperei diferente. – a loira mexeu na comida sem levar nada à boca e ajustou o par de óculos no rosto. – Ele realmente superou as expectativas dessa vez. Eu não sei se vale a pena ouvir as desculpas dele pra acontecer de novo.

Anya deixou a comida de lado por um instante, acenando de modo compreensivo para a jovem. Não podia negar que entendia bastante do sentimento dela, já que tinha passado por muita coisa parecida na companhia de Hendrik. Claro que, para Meike, que convivera com ele a vida toda, a decepção era maior também.

– Tome seu tempo, Meike. Eu acho que vai fazer bem pro Hendrik também, pra entender que você não vai voltar sempre que ele fizer alguma coisa errada só porque é da família. Ele também tem que crescer emocionalmente. – respondeu Anya, e antes que Meike pudesse adicionar alguma coisa, a morena desviou a atenção para o celular com uma ligação de um número que ela não tinha registrado. – Só um minuto, pode ser alguém da companhia.

– À vontade.

Meike ficou um pouco mais aliviada com a concordância de Anya para a sua atitude, em outra situação, ela teria se sentido mal pelo jeito que estava ignorando Hendrik, mas não daquela vez, então recuperou o ânimo bem rápido para voltar ao almoço.

Um Chamado do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora