62. Fique comigo

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Hendrik seguiu as recomendações de Meike para ir tomar um banho e se recompor da semana cansativa. Ainda repassou mais de uma vez na sua mente as últimas palavras que tinha dito a Anya e a reação desesperada dela em querer que ele desaparecesse, em sequer imaginar que ele, assim como o ex-namorado violento dela, queria que ela não pudesse dançar para que ficassem juntos. Hendrik nunca tinha passado perto de pensar naquilo, mas só de dizer algo que fez Anya imaginar aquela situação, ele simplesmente não sabia como lidar com a sensação. Era desgastante e decepcionante.

Ele foi deitar depois de um longo banho e de um jantar improvisado, depois de dispensar Harper do serviço também. Mas não teve muito sucesso em cair no sono a despeito do cansaço. A ansiedade com a ideia, mesmo que breve, de que poderia falar com Anya de novo, se o conselho de Meike estivesse certo, fez com que ele rodasse na cama noite adentro, inquieto.

Já passava de meia-noite quando ele decidiu que não conseguiria dormir tão fácil e no estado mental em que estava, também não queria voltar ao trabalho. Ele trocou as peças de roupa de dormir por um par de roupas casuais, de calça, camisa de manga e um casaco grande para lhe proteger do frio do início de inverno e saiu de casa só na companhia do segurança, para ir direto até o hospital.

Mesmo fora do horário de visita, não foi difícil para Hendrik passar direto pela recepção e seguir até o quarto em que Anya estava internada. Com a pouca iluminação nos corredores do hospital, ele só olhou para dentro do quarto através do vidro na porta, segurando um buquê de flores numa das mãos com um cartão. Anya estava dormindo na cama e no único sofá da sala, uma mulher mais velha também adormecida, com a cabeça encostada no braço do sofá.

Ele abriu a porta com cuidado para não fazer barulho e entrou, seguindo até perto da cama a passos cautelosos. Colocou o buquê de flores na mesa ao lado da cama e deu uma olhada de perto no rosto conhecido. Ela já não estava com o rosto tão pálido e as olheiras fundas, respirava também sem ajuda de equipamentos e parecia só estar dormindo confortável. Só de estar ali, perto de Anya e vendo que ela estava melhor, Hendrik estava certo de que não conseguiria encará-la quando estivesse acordada para, mais uma vez, ser o motivo pelo qual ela ficaria abalada.

Antes que pudesse se dar conta do que estava fazendo, tinha estendido a mão até que os dedos encostassem na mão dela, mas afastou o toque antes que a acordasse por acidente. Ele suspirou discreto e colocou as mãos dentro dos bolsos, dando as costas para sair do quarto.

Hendrik...?

O chamado na voz fraca fez com que Hendrik parasse no mesmo instante, ainda demorou alguns longos segundos para se virar na direção da cama de novo, fechando as mãos com força dentro dos bolsos, tentando conter o nervosismo.

– Desculpe, eu não queria te acordar. – ele respondeu, de onde tinha parado, perto da porta. – Já estou de saíd-

Venha aqui, Hendrik. – Anya pediu, num tom de voz sonolento.

– Eu...

Por favor.

Hendrik engoliu em seco e, com um aceno hesitante, ele seguiu de volta até a cama. Mal chegou perto o suficiente, notou a mão de Anya estendida em sua direção e só quando segurou-a de volta com os dedos um pouco gelados, foi que soltou o ar, percebendo como tinha prendido a respiração até então.

Você está com uma cara péssima. – disse Anya, levando a mão livre até o rosto dele.

Hendrik não conseguiu responder, só inclinou mais o rosto para ficar numa curta distância dela e segurou a mão dela sobre o seu rosto, aproveitando o toque.

Desculpe... eu sinto muito, Anya. – a voz dele vacilou, segurando a mão dela contra o seu rosto com firmeza. – Eu não sei o que fazer, eu não estava lá pra te ajudar, eu não queria que iss-

Um Chamado do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora