Segundo Ato

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"As investigações seguem pelo terceiro dia. A guarda real continua a busca pelo corpo de Aslan, mas ainda sem qualquer vestígio do paradeiro dos restos mortais d'O Leão. Edmund Pevensie, antigo rei responsável que ocupava a posição de Diplomata, segue afirmando que o autor do crime foi Copycat, o mais novo serial-killer a aterrorizar Nárnia desde o início de dezembro. O rei de Telmar, Caspian I, reforçou a afirmativa e assegurou estarem todos dando o melhor para que a captura do assassino seja o mais breve possível. Ao tentar ser contactada para falar sobre a morte de Aslan e Tumnus (amigo íntimo da família Pevensie), Lucy recusou dar entrevistas por enquanto sob a alegação de estar se recuperando da perda. Enquanto dois nobres claramente inaptos ao cargo brincam de detetives, os cidadãos de Nárnia seguem aflitos temendo saírem de casa e se tornarem vítimas de um dos três assassinos ainda soltos. Quantas mortes mais serão necessárias para que a guarda real tome providências e contrate investigadores competentes para lidarem com o caso?"

Sigyn, ao terminar de ler em voz alta a notícia do jornal, encarou Caspian e pressionou os lábios para dentro da boca por alguns segundos até não resistir e rir da feição desgostosa do amigo.

Ambos estavam sentados à mesa no jardim do palácio, era início de noite e para os padrões humanos parecia ser um momento muito inadequado para tomar um chá, mas era o horário condizente para espécies noturnas, algo equivalente ao café da manhã. O jardim continha luzes e insetos reluzentes muito parecidos com vagalumes, porém com cores que variavam entre azul, roxo, verde e branco. As flores brilhavam cada vez mais forte conforme a lua subia ao céu, essa mistura harmônica de fauna e flora luminosa tornava o ostensivo jardim em um cenário de conto de fadas, havia um número reduzido de postes para iluminar as trilhas de pedras, mas mesmo assim não tornava impossível ver tudo ao redor, não fazia falta mesmo para os olhos humanos de Sigyn, tampouco incomodava os olhos fotossensíveis de um vampiro. Como tudo no palácio, existia o equilíbrio perfeito.

─── Investigadores competentes ── Caspian resmungou seguido de um estalo na língua ── Edmund, exausto e abalado por ter a família ameaçada, montou o perfil psicológico do Copycat em dois minutos, ainda determinou que não era humano. Quem mais seria capaz disso? Somente eu... e as vezes tenho minhas dúvidas.

As últimas palavras saíram baixas, afogadas por um generoso gole de chá que não pareceu incomodar sua língua mesmo estando fervente. Sigyn apenas riu mais ainda ao ouvir os resmungos do amigo.

─── Desculpe, mas é hilário. A mídia fica mais sensacionalista a cada assassinato, ainda fingem ter empatia pela população. A hipocrisia chega a ser cômica! Aliás, onde Eddie está?

─── Na cozinha. Aparentemente cozinhar é relaxante e ele quer fazer uma refeição decente para as irmãs. ── havia um certo deboche na fala que chegava ao ponto de um riso quase escapar dos seus lábios ── Quanto mais tento compreender a mente dele, mais perdido fico. Não entendo o sentido de um vampiro fazer questão de consumir três refeições diárias.

─── É tão ruim assim a comida pra vocês? O gosto muda?

─── Não é o gosto, mas sim a sensação. ── calmamente depositou de volta a xícara no pires e relaxou a postura na cadeira ── É como beber água quando não tem sede. Não sacia, não tem necessidade de tomar e serve puramente para encher o estômago. É uma grande perda de tempo.

─── Engraçado dizer isso ── imediatamente a rainha rebateu com um sorriso malandriço ── No Natal você pareceu ter amado a refeição.

Caspian abaixou a cabeça e deixou o sorriso se expor. Havia um bom motivo para isso e lembrar dele era como recordar de uma piada interna que Sigyn jamais compreenderia. Cada prato daquela ceia continha carne, mas não a que os convidados acreditavam ser e apenas Caspian notou o segredo quando botou na boca a primeira garfada de torta de fígado na boca.

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