Lunares Opium

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Ainda na mesma noite da reunião, nada mais tinha a ser discutido depois da partida de Isaac. Uma investigação precisava ser iniciada e todos do quarteto chegaram ao acordo de que o melhor seria começar pela cena do crime onde Peter acordou, as razões para isso foram as mesmas discutidas na carruagem horas atrás: Peter precisava trabalhar sua memória olfativa e fariam isso no raio de alguns quilômetros do galpão onde os corpos estiveram. Foi decidido que começariam ainda naquela noite, independente do cansaço que os irmãos estivessem sentindo – Lucy não se deixou desanimar pelo sono, pediu apenas uma hora para arranjar um bom café para ficar acordada e trocar para roupas mais discretas já que estava usando um vestido chamativo e não tão prático para andar pelos becos do distrito onde iriam.

Caspian foi o primeiro a ficar pronto, precisava de um banho e roupas limpas, ele era o mais rápido de qualquer forma e Edmund demoraria já que precisava prestar contas com seus irmãos sobre ter ido embora e enganado a todos. Enquanto a família resolvia suas questões, o telmarino foi até o quarto onde Aimée estava fingindo dormir, e acredite quanto o quão determinada ela era em fingir uma soneca, pois ainda estava deitada na cama com os olhos fechados e uma feição tão plena que convencia facilmente até mesmo os vampiros de que estava dormindo se não fosse por um detalhe simples.

─── Para alguém tão sonolenta e impaciente, conseguiu ter energia até para tomar banho e cuidar do cabelo antes de deitar.

Aimée abriu um dos olhos e vislumbrou o sorriso debochado do vampiro, depois bufou e sentou de imediato com os braços cruzados.

─── Foi por pouco.

─── Convenceria todos os outros, provavelmente até Isaac. ── Sabia que a garota ainda tinha sérios problemas com seu perfeccionismo para agradá-los, era conveniente manter esse tipo de hábito nela, afinal isso garantia uma cega fidelidade, mas também havia um cuidado para que não extrapolasse ao ponto de se tornar algo corrosivo à saúde mental da pequena e gerasse uma revolta. Aimée não podia ser subestimada em hipótese alguma e por isso sempre reforçavam que ela estava fazendo um bom trabalho quando simplesmente beirava a perfeição.

─── Isso é o que importa então. ── ela murmurou acompanhando com os olhos Caspian sentar na borda da cama e afagar seus cachos carinhosamente.

─── Você está cada vez mais esperta, sabia? ── as bochechas dela coraram com o elogio do pai e depois ficou notável o peito estufar pelo orgulho que sentiu de si mesma. Modéstia não fazia parte de Aimée. ── Como percebeu que ele não é uma boa pessoa?

─── Ele me lembra uma pessoa...

─── Essa história eu não conheço ── Caspian foi sugestivo e ajeitou-se ao lado da pequenina com as pernas escoradas no colchão, cruzadas uma sobre a outra. As costas ficaram apoiadas na cabeceira da cama e seu braço serviu de apoio para Aimée encostar e aconchegar contra seu corpo. ── Sou todo ouvidos.

─── No último orfanato que fiquei antes de fugir e ser colocada em um lar provisório havia um menino mais velho, o nome dele era Grover. Ele... ele não era bom. Grover tinha a idade do Orion, então o Orion me protegia quando Grover vinha fazer algo comigo.

─── Que tipo de coisas ele fazia com você?

Aimée torceu os lábios, seus olhos ficaram vazios com a lembrança e em sua cara estava esculpido o rancor amargo de uma criança ferida por dentro.

─── Ele me prendia em lugares apertados e dizia coisas horríveis que faria comigo quando eu crescesse, coisas que ele fazia com as garotas da idade dele. Elas choravam tanto e ele ficava rindo, era horrível. Orion sempre tentava evitar essas coisas, mas apanhou muitas vezes e falhou, até que começou a me poupar de ouvir essas coisas, sabe?

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