Diffidentiae

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Espero que gostem e que esse capítulo valha a espera. Confesso que tava bem ansiosa pra escrever esse, então definitivamente fiz com amor e carinho :)

「• • •」

Os gritos foram diminuindo de intensidade após algum tempo, um silêncio ensurdecedor tomou a casa e o menor gemido de dor que Caspian soltava parecia ecoar naquele escuro corredor. Estava fraco demais pra levantar do chão, as vezes olhava para o outro corredor onde a luz do sol reinava por cada centímetro e tentava calcular quantas horas faltava para escurecer de novo. O tempo parecia passar devagar demais, aquele silêncio trazia ondas de ansiedade em Caspian que ele nem imaginava ainda ser capaz de sentir e a maldita mordida mantinha uma briga dolorosa contra a regeneração, tornando cada segundo daquele dia uma tortura.

Não ouvia nada lá dentro da sala protegida pela porta de prata e era impossível sentir algum cheiro diferente que indicasse ter algum sobrevivente, o forte aroma de carne queimada não permitia que nem o mais aguçado olfato de um vampiro antigo pudesse detectar outro. Além disso, precisava se conformar que as chances de alguém sobreviver era zero já que vampiros não conseguiam sobreviver ao sol e mesmo os que carregavam amuletos que retardassem as queimaduras não aguentariam mais do que algumas horas.

Caspian se concentrou em tentar se recuperar o máximo possível num intervalo de doze horas para levantar do chão, lutou o tempo todo para não sucumbir ao peso nas pálpebras e torceu para algum rato ou qualquer coisa viva passasse por ali para se alimentar. A noite caiu finalmente, a última linha de luz solar sumindo pela janela não foi apenas sinal para que se escorasse na parede e levantasse, também servia como um gatilho para desfazer o feitiço na porta que antes era intocável e agora tornara-se simplesmente madeira velha. Ele cambaleou de um lado do corredor para o outro e abriu a porta praticamente usando todo o peso do corpo. Precisou cobrir o nariz instintivamente pelo forte cheiro que subiu e os grão de cinzas que tentaram invadir suas narinas.

Algumas crianças já tinham desmanchado, outras pareciam com as vítimas de Pompeia, perfeitamente definidas, mas a estrutura era tão frágil que a simples brisa que invadiu o cômodo fez boa parte se desfazer em uma neve cinzenta e fúnebre que tinha lá sua beleza aos olhos do vampiro quando via contra a iluminação da lua. O responsável por tudo aquilo estava morto no canto, mas o que realmente atraiu os olhos de Caspian foi a figura de Edmund, sentado no chão com as pernas esticadas e cruzadas uma sobre a outra, com uma mão repousada em algo que seu casaco estava cobrindo completamente. Vivo.

─── Você está péssimo ── murmurou expondo um sorriso ladino nos lábios junto de um olhar cinicamente tranquilo voltado para Caspian, que estava atônito. ── Mordida de lobisomem é um pé no saco, mas posso-

─── Como você está vivo? ── Caspian sequer conseguia esboçar sua euforia ou erguer o tom de voz para mostrar uma emoção mais passional, estava em choque. Seus olhos foram para o que estava sendo coberto pelo casaco de couro e voltaram ao dono da peça de roupa esperando uma explicação

─── Ah, isso. Claro. Pode sair, já está segura ── um par de olhos cansados e fundos brilhou por uma brecha do casaco e logo a pequena figura loira começou a se erguer até ficar em pé, ainda abraçada ao agasalho que tinha o triplo do seu tamanho. Ela olhou ao redor com os lábios tremendo e os olhos cheios de lágrimas, principalmente quando reconheceu um amontoado de cinzas com um colar velho caído em cima que pertencia a Orion ── Espere lá no corredor, nós já vamos partir. Eu chamei a guarda real, eles vão cuidar de tudo enquanto eu cuido de você ── virou-se então para Caspian ── e você.

─── Ainda não me respondeu ── Caspian estava ofegando, seus olhos pesavam mais do que antes e seu corpo pendia de um lado para o outro sutilmente ── Você é um vampiro.

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