FICO SELVAGEM NA NOITE DAS MENINAS

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POV HOPE

Eu não gostava de sonhar. Geralmente, sempre que acontecia, era uma premonição de algo ruim que viria a seguir. Mas, como o que eu gosto está fazendo pouca diferença para o universo, ter esse sonho recorrente quase todas as noites desde a morte do Landon tem me deixado irritada. Não é sempre o mesmo sonho, vejo que o cenário e o horário em que as coisas acontecem são diferentes, mas no geral, é a mesma coisa. Vejo alguém, ou algo, caminhando, às vezes correndo, em meio a árvores. Não sei ao certo onde, mas há árvores. É como se eu fosse essa pessoa, ou coisa. Como se eu visse tudo com os meus olhos, como se meus pés tocassem o chão, como se o vento batesse no meu rosto quando corre, mas sei que não sou eu. Sinto que, quanto mais pesado é o meu sono, mais real são as sensações, mais real é a minha presença lá, seja onde for. Vejo essa pessoa ou coisa tomar impulso e tenho a visão do salto de algo parecido com um penhasco. Acordo no susto, sem saber se ela atravessou ou caiu tentando. O sol já iluminava um pouco o quarto, resolvi não tentar dormir de novo.

Me preparo para mais um dia como todos os outros, vazio. Entre a morte do Landon e eu religar minha humanidade, haviam se passado dois meses. Aquele lugar sem ele fazia menos sentido para mim. Cada cômodo, cada espaço daquela escola guardava memórias nossas, felizes ou não, e aquilo era uma tortura. Àquela altura, já não sabia se era uma coisa boa eu estar saindo da escola em quatro meses, ou se era só mais um sinal do quão sem rumo minha vida estava ficando. Terminei de tomar meu café e quando estava saindo da cozinha encontro o Dr. Saltzman.

A: - Bom dia.

H: - Nem tanto.

A: - Algum problema?

Pensei nos sonhos, na evidente falta que sentia do Landon e em todo dilema existencial que estava me estressando, mas não achei útil comentar com ele, então, só menti.

H: - Não, nada demais.

A: - Bom, mesmo assim, acho que tenho um convite que vai melhorar o seu ânimo.

H: - Me surpreenda. - Disse duvidando.

A: - Vamos até a minha sala, preciso te mostrar um mapa.

Fomos. Chegando lá, ele abriu um mapa de um bosque um pouco distante da escola.

H: - Deixa eu adivinhar, quer acampar ?

A: - Quase isso. Agora que estou sem o Dorian, MG, Kaleb e eu somos os responsáveis pela caça que abastece o suprimento de sangue animal da escola.

H: - E ?

A: - Pensei que talvez, só talvez, fosse gostar de matar algo em prol de um bem maior. Quer vir conosco ?

Achei o convite atencioso, um pouco de ação, adrenalina e violência podiam ser úteis para me tirar do meu atual estado depressivo. Estava quase aceitando quando aconteceu de novo. Mais uma visão do que parecia ser uma floresta. Havia folhas secas no chão e o vento daquela manhã era frio, podia sentir até o contato com o chão a cada passada que dava. Sentia a respiração ofegante, como se estivesse cansada de caminhar, mas não parava. Não sei quanto tempo passei reparando nessa visão, mas voltei a mim quando o Dr. Saltzman me chacoalhou pelos ombros.

A: - Hope!

Ele tinha um olhar preocupado e eu havia caminhado da mesa dele até a estante de livros sem nem perceber.

A: - O que aconteceu ?

H: - Nada, só me distraí.

A: - Não vem com essa para mim. Seus olhos estavam dourados, você estava como em um transe.

I - Os Dois Lados da Lua | I - Two Sides of the MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora