Capítulo um pouco mais curto, mas bastante sensível. Peguem seus lencinhos. Foi feito com bastante carinho.
Sejam gentis nos comentários e boa leitura!
😊😊😊😊😊😊😊
Narrado por Cecília
Sinto falta de alguém que não existe.
Não sei se estou alucinando ou se isso é uma grande piada, mas aparentemente eu estou à caminho de encontrar uma irmã que eu nunca conheci e enterrar de vez na minha memória o irmão que me deixou em Macururé.
Dizem na psicologia que existem 5 fases para o luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Confesso que nem me reconheci quando ataquei Helena daquele jeito, mas simplesmente não consegui lidar com a surpresa.
Negação.
Claro, como posso entender que simplesmente eu saí do interior louca para ver meu irmão, poder contar para ele todos os meus planos, segredos, tudo o que vem acontecendo comigo e agora ele não existe mais.
Raiva.
Descontei toda a minha frustração em alguém que está me acolhendo. Eu sou uma idiota, mas eu só não consigo entender: o que está acontecendo?
Barganha.
Ele não poderia apenas ser gay? Eu sei que ele sempre foi diferente. E quando se é diferente num lugar como o que nós nascemos, você se torna alvo. Tudo é motivo de fofoca. E se o problema fosse só a fofoca, tudo bem, lidar com boatos é mais fácil que com a ira do meu pai.
Depressão.
E agora? Já era fora de cogitação nossa família aceitar dois filhos homossexuais, mas isso? O que vai acontecer? Por que a gente poderia viver feliz na capital e eventualmente voltar para casa, posar de bons filhos e lidar com uma ou duas fofocas que insistissem que precisamos casar logo, mas não dá. Não tem como ele entrar em casa de salto, batom e vestido.
Aceitação.
Eu só espero que ele saiba o que está fazendo. Quer dizer, ela. MEUS DEUS, ELA. Agora eu tenho uma irmã? O que isso quer dizer? O que eu posso fazer por ela? Como tudo isso aconteceu? Como ela virou? Ou descobriu? Eu não sei de mais nada.
Acabo de comprovar uma tese: Nada é tão ruim que não possa piorar.
Não que eu esteja infeliz, por que poxa, é minha família. Ela, ele, sei lá é tudo que eu tenho. Não sei nem como eu consegui escapar da minha família, imagina como eu vou proteger disso tudo? E se eles descobrirem?
Eu fugi. Fugi de tudo. Não sei como, mas eu consegui. Não ficaria nem mais um dia naquele lugar. Não com tudo que eles queriam fazer. Não dava. Aproveitei que a matrícula ainda estava disponível e coloquei o curso que eu consegui.
Não que eu não goste de Cinema. Mas sinceramente eu coloquei apenas o que eu achei que passava. Isso foi o meu passaporte para a liberdade.
Mas agora parece um pesadelo. Eu não fugi de casa. Apenas atrasei os acontecimentos, jurando que faria exatamente o que meu irmão fez, voltaria formado e com um bom emprego. Isso acalmou os ânimos. Acredito que como ele, não pretendia voltar nunca mais, só não sabia que sua mudança ia ser tão... radical.
Tudo parece um sonho em que eu vou acordar a qualquer momento em casa, com as galinhas e presa ao meu destino.
Apesar de não saber sobre... bom, tudo isso, eu já sabia as preferencias dele. Dela. Dela, eu vou aprender. Nós crescemos juntos, eu conheço como a palma da minha mão. Ou conhecia né...
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Em busca de Ágape
Fiksi RemajaDEGUSTAÇÃO - Essa história será publicada pela Editora Calíope a partir do dia 28/08/2024 Essa é apenas uma degustação "Quando deixar de procurar, onde menos se espera, o amor se encontra" Helena é uma estudante veterana de Relações Internacionais...