Without Me- Bruno Rezende

Seu Coração Será Quebrado

Maria Heloísa.

Abri meus olhos lentamente tentando me acostumar com a claridade que invadia a persiana da janela. Observei que eu não estava mais no mesmo quarto da noite anterior. Inclinei a cabeça enquanto me apoiava em meus cotovelos e olhei meu corpo. Eu me encontrava embrulhada em um lençol branco de linho que tinha duas letras bordadas em azul marinho. Passei meus dedos lentamente sob o relevo causado pelas letras "B e R". Ele havia me trazido para meu quarto durante à madrugada aproveitando-se da quietude que pairava à casa naquele momento. Muito propício, para um homem que gosta de se divertir com garotas idiotas como eu. Eu sentia meus olhos se molhando, minha garganta começou à se fechar como se um gigante fechasse uma de suas mãos envolta dela e obstringisse toda a passagem de oxigênio por meu corpo. Eu era uma tola, por amá-lo, por me sujeitar à aquela relação, por aceitar todas as suas vontades e o pior, por ceder à todas elas. Eu me sentia suja, usada e o pior é que eu sabia que aquela não seria a primeira nem a última vez. Aquilo acabou se tornando um ciclo vicioso infindável.

Levantei-me da cama, me desenrolando do lençol que deveria custar 2 meses do meu salário, o deixando com cuidado sob minha cama de solteiro. Fui em direção ao banheiro, olhei-me no espelho pequeno e examinei meu pescoço e seios, estavam marcados por seus chupões, por seus dentes é sempre assim, ele me usa e no outro dia me ignora como se sofresse uma espécie de reset da noite para o dia.

- Até quando você vai continuar se sujeitando à esta situação Maria Heloísa?~perguntei à mim mesma mas na verdade, nem eu tinha a resposta para aquela pergunta~

Entrei no box, ligando o chuveiro e a água quente caiu sob meu corpo se misturando com minhas lágrimas. Eu o amava, era inevitável negar, qualquer pessoa na rua até a mais dispersa aos detalhes poderia perceber que eu estava perdidamente apaixonada. Queimando sozinha nas chamas que ele ateava contra meu corpo.

Finalizei meu banho, me sequei e coloquei meu uniforme. Saindo do quarto e indo em direção à cozinha onde todos comiam. Bernardinho lia seu jornal, Fernanda e Júlia falavam sobre a próxima competição que à mesma participaria e ele largou o celular no momento em que me viu adentrar o espaço.

- Bom dia e me desculpem pelo atraso. Não irá se repetir novamente~ eu disse sentindo minhas bochechas ruborizarem~

- Tudo bem querida, não tem problema algum.~ disse Bernardinho me tranquilizando~

Bruno me encarou enquanto alternava o olhar entre meu rosto e o rosto de seu pai.

- Continue relevando às faltas dos empregados e logo teremos todos os dias pedidos de desculpas. Deveria descontar do salário de quem não sabe cumprir com suas obrigações.~ ele disse enquanto me encarava e mais uma vez a vontade de chorar se fez presente, me inflingir dor parecia ter virado um costume rotineiro de Bruno~

- Foram só 10 minutos Bruno, não tem necessidade de você usar palavras tão cruéis para repreender a Heloísa por um atraso tão insignificante.~ disse Fernanda me defendendo~

- Insignificante?~ele perguntou indignado~ Tantas coisas podem ocorrer em 10 minutos. Um médico pode salvar uma pessoa da morte fazendo massagem cardíaca durante 10 minutos, um advogado pode reverter o destino de um julgamento que já estava com sua sentença aprovada, o destino de um país pode mudar em 10 minutos mas obviamente Maria Heloísa não tem noção disso pois não convive nesse meio, apenas tem o conhecimento de uma empregada doméstica.

-BRUNO. Eu não permito que trate ela assim.~ disse meu pai exaltado~

- Tanto faz~ dei de ombros~ Preciso ir, tenho treino.

Fomos em direção à porta, quando ele iria sair retornou e me disse algo extremamente cruel e sem necessidade.

- À propósito Maria Heloísa, limpe meu quarto e lave minhas roupas de cama tem um cheiro desagradável impregnado nelas. Parece perfume barato de puta!~disse sumindo pela porta~

Me senti algo minúsculo e inútil naquele momento.