Por Ele

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Maria Heloísa on

2 anos se passaram, eu estava entrando no 6° semestre da faculdade de Direito. Consegui um bom emprego como assistente jurídica em um escritório renomado e me mudei com Gabriel para um apartamento que estava localizado em um residencial próximo ao meu trabalho e à crechê de Gabriel, o que me poupara tempo.

Eu me encontrava em mais um dia dos meu mês de folga do trabalho. Estava preparando nosso almoço, quando, a campainha tocou, logo em seguida a pessoa resolveu que era de bom tom apertar o botão incessantemente. Estranhei.

- Estranho, seu Jonas não me comunicou que haviam visitas. ~eu disse baixinho enquanto me dirigia até à porta~

-Quem é o desesperado que...

Assim que eu abri e o vi parado frente à minha porta, senti meu corpo todo congelar e meu sorriso morrer...

- O que você está fazendo aqui?

Ele permaneceu em silêncio. Me encarando e eu senti minha paciência ir para o espaço.

- Então, você não se deu ao trabalho de vir até a minha porta para ficar me encarando. O que você quer?~ eu perguntei~

- Eu queria, quer dizer, eu quero ver nosso filho ou filha...

-Escuta aqui. Você me usou como um objeto, me engravidou, duvidou da minha palavra quando eu te contei e agora resolveu que quer brincar de ser pai? Me poupe, você é um...~ eu iria dizer umas boas verdades na cara do Bruno~

Quando eu iria xingar ele, senti duas mãozinhas gordas segurarem nas minhas pernas e logo depois aquele chamado que eu conhecia muito bem.

- Mamãe...

Eu e Bruno abaixamos nossos olhares para a coisinha envergonhada que se escondia atrás das minhas pernas. Ele se abaixou e ficou encarando Gabriel que o encarava curioso mas logo vi duas covinhas se formando em seu rosto.

- Oi~ Bruno disse para Gabriel que tinha uma das suas bochechas comprimidas contra minha coxa.

- Oi~ ele disse desvencilhando seu braço direito do aperto à minha volta e esticou sua mãozinha para me cumprimentar. Bruno envolveu a mãozinha do nosso filho com as suas e logo ela desapareceu por entre as palmas do maior. ~

De súbito, Gabriel pulou em seu colo o abraçando e enterrou sua cabeça no pescoço de Bruno. Eles realmente se entendiam só com olhares e toques. Bruno retribuiu o abraço enquanto inalava o perfume infantil presente em Gabriel. Eles ficaram minutos aninhados, entrelaçados. Gabriel ergueu sua cabeça, se desvencilhando de seus braços e colou sua testa na de Bruno. Bruno fechou os olhos e meu filho depositou um beijo sob o seu nariz, ele sempre fazia isso quando sentia que eu estava triste, lágrimas rolavam pela face do rosto de Bruno, quando ele abriu seus olhos, Gabriel iniciou uma carícia com seu nariz roçando o nariz de seu pai. Ele nunca havia feito isso comigo. Vi suas mãos correrem em busca das mãos de Bruno, que pareceu o oferecer ambas com às palmas viradas de bom grado e ele depositou as palmas de suas mãos ali. Suas mãos corriam livres pelas mãos, braços, pescoço e rosto de Bruno. Ele desenhava cada traço de Bruno com as pontas de seus dedinhos, contornava seus lábios. Ele parecia querer guardar cada milímetro do pai em sua memória.  Logo vi suas mãos secando as lágrimas de Bruno.

- Como é o seu nome?

- Gabriel.

- Lindo nome. Tão lindo quanto o dono.

Então ele se afastou e olhou na minha direção, eu sabia que lá vinha bomba. Bruno também olhou para o meu rosto e eu os encarava de cima, meus olhos estavam lacrimejando.

- Ele pode almoçar com a gente mamãe?~ ele me perguntou de modo desajeitado~

Abaixei em sua frente e disse:

- Ele é muito ocupado amor.

Seu semblante mudou de uma alegria inesperada para uma tristeza repentina.

- Na verdade. Eu tenho todo o tempo do mundo para ele!~ Bruno disse~

Gabriel olhou para o meu rosto, acabei concordando à contra gosto. Bruno não poderia fazer tudo o que fez e depois que viu seu conto de fadas ser apagado, vir entrando na minha vida e do meu filho do nada, ele não merecia ser recompensado.

- Vem Bruno. Entra!~ eu o chamei para dentro, eu repetia mentalmente "isso é por ele, pelo meu filho"~

Gabriel estendeu os braços para o pai e Bruno o pegou no colo e ambos me seguiram em direção à cozinha. Tentei retirar Gabriel do seu colo mas ele não fez nem menção de ir para o meu. Pouco mais de 20 minutos com o pai e eu já estava sendo trocada?

- Você leva ele para lavar as mãos?~ perguntei e ele assentiu~ O banheiro fica no final do corredor.

Vi ambos sumirem pelo corredor. Depois de alguns minutos, ambos voltaram para a cozinha e Gabriel ainda estava no colo de Bruno. Ele o colocou na cadeirinha e se sentou na mesa à minha frente. Servi seu prato. Lembrei que ele detestava que seu bife encostasse no feijão e o coloquei do lado oposto ao pedaço de carne, logo depois peguei um pratinho azul repleto de brócolis cozidos, arroz e feijão e comecei à dar para Gabriel que mastigava tudo vagarosamente sem nem sequer derrubar um único grão do cereal.

- O que foi?~ eu perguntei para ele que me encarava enquanto eu dava comida para nosso filho~

- Nada. É que: eu não sei parar de te olhar.~ ele me responde e ambos ficamos sem palavras, apenas reina um silêncio desconfortável~

Without Me- Bruno RezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora