"Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?"
-Friedrich Nietzsche-Escute, vou repetir apenas mais uma vez e espero que esteja claro para você. Não é uma boa ideia mexer com algo que não conhece, sabe o quanto uma proteína de DNA é extremamente complexa? Existem muitos loucos nesse mundo, então não se torne mais um desses escrúpulos. - Cruzo os braços, apoiando meu corpo sobre a bancada vazia, por sorte tinha terminado de limpar todos aqueles beckers, então poderia relaxar um pouco, não estou infectando algo de supra importância.
-Você pode acreditar no que quiser, Jack, se é que esse é sequer o seu nome. Essa descoberta irá mudar o mundo! E é uma alteração tão simples, nem vai fazer diferença... E além do mais, gostaria que eu falasse o que vi na sala das doações? - Seguro em sua gola e ouvi uma risada sarcástica ressoar pela sala.
-Não desejarias estar em sua pele caso optasse por abrir essa boca esquisita para contar algo dessa magnitude. - Quase cuspo as palavras, tendo o autocontrole suficiente para não revelar minhas presas, não estava em um dia bom, prefiro não colocar tudo a perder. Seria a pior coisa do mundo, além que essa experiência nem sequer daria certo.
Respiro fundo abrindo meus olhos e passando meu mirante pela janela da sacada da biblioteca. Tantos livros e eu já li todos, não tem mais experiências que posso adquirir nesta vida, a qual cada vez mais se torna maçante de ser vivida. O que um vampiro boa pinta como eu precisaria fazer para não fingir passar oxigênio por pulmões que sequer se mexem? Enfim, estou amaldiçoado em uma vida pacata e tediosa enquanto vejo a humanidade se destruindo... Quantas vezes? Da última vez que contei eram cinco vezes, se acontecesse mais uma vez, até faria comida humana que simplesmente era repugnante. Vivo a tanto tempo e mesmo assim não encontrei outra coisa que me satisfaça e não me dê um soco no estômago além de sangue.
Levanto-me da poltrona e comecei a caminhar pelo piso de wengué, cuidado com tanto carinho. Talvez a morte realmente me cerque, mas apenas agora estou percebendo o peso disso, e mesmo que eu deseje com todo o meu corpo gélido, não tem algo que eu possa fazer para mudar essa realidade. Voltando ao piso, tento preservá-lo ao máximo, pois a árvore que proporciona esse piso belíssimo já não existe a pelo menos cinquenta anos, não lembro bem quando começou, mas o reflorestamento é algo recorrente e eu suponho que tenha sido uma das últimas medidas para tentar revitalizar a vida na Terra, vi a muitos anos que a causa da destruição humana é causada pelos próprios humanos, os quais não conseguem cuidar de suas próprias medíocres vidas e tentam ao máximo fazer isso com outras pessoas, esse mundo acabou a tanto tempo e mesmo assim ainda tem tanta discussão. Felizmente o lugar onde moro não tem outros seres tão "evoluídos", creio que os alces sabem muito mais cuidar dos planetas do que esses charlatões que fingem governar pedaços de terra com linhas imaginárias, tudo desmoronando e ainda os vejo lutando por simples denominações antiquadas. E pasmem, eu vivo a duzentos anos e quero conversar sobre o que é ser antiquado.
Olho para os lados sentindo aquele ar de verão passar pelo meu corpo, ainda bem que o sol tinha se posto, ele machuca muitos meus olhos e dá-me um sono danado quando fico exposto, sem contar na dor de cabeça que deixa-me de cama por dias afinco, a falácia criada por uma sociedade cercada de achismos um dia disse: "Vampiros não podem sair no sol ou irão morrer queimados", ou algo do tipo, nunca dei muita bola e percebi que era mentira. Crenças têm esses problemas ao meu ver, adoro mitologia e ver que cada vez mais alguns animais bem exóticos começaram a ser popularizados, como um monstro com uns tentáculos, escrito por algum homem bem chapado. Ou criativo? Nesse ponto, creio tanto em fazer algo novo surgir também.
-Que demora... Ter a vida inteira, não quer dizer que quero esperar a vida inteira. - Resmungo para eu mesmo olhando para o meu relógio de pulso, é bem antigo e pomposo, faz-me lembrar de quando eu era humano, péssimos tempos, entretanto, boas recordações.
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Fluffly Blood • jjk + pjm
FanfictionEm uma sociedade na qual a venda de humanos metade animais era legalizada, existia um vampiro. Antiquado e amadurecido pelo tempo, vivendo despercebido por todos aqueles em sua volta, fingindo um emprego, uma família e principalmente quem era de ver...