"Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo."
-Friedrich Nietzsche.
Cerro os olhos tentando distinguir se o que estava diante de minha visão era uma pedra ou algum tipo de frutinha, eu preferia a segunda opção. Não tenho ideia alguma do que híbridos de gatos sentem desejo em comer, e meu paladar era bem duvidoso, então precisaria tentar lembrar da comida de minha amada mãe. Tento me lembrar dos temperos e até mesmo do gosto, porém toda vez que realizo essa idealização, faço uma careta apenas em imaginar gosto de qualquer alimento. A comida humana é nojenta, tenho certeza. Entretanto, para poder me alimentar, teria de fazer o mesmo com o garoto que estava sentado no sofá de minha sala, espero eu, devidamente vestido e comportado, se visse mais um vaso quebrado, repensaria todas as minhas ações e queimaria qualquer alimento que eu fosse capaz de fazer.
-Acho que isso basta para fazer algum prato... - Olho para as amoras em minhas mãos, eu tinha um pouco de carne de cervo guardado e conservado, achava horrível eu matar algo e apenas consumir seu sangue. Logo, usava o corpo para alimentar uma família de raposas, a qual vivia nos arredores da floresta, gostava delas, tinham um pelo gostoso e fofinho. - Espero que ele esteja sentado, sem fazer absolutamente nenhum movimento brusco.
Começo a caminhar em direção à casa de novo e vejo que a porta estava entreaberta; arregalo meus olhos e ando em passos rápidos até adentrar, olhando para todos os lados de modo desesperado. Estava tendo tanto trabalho para cuidar dessa criatura e na primeira oportunidade ela foge? Qual tipo de caçador medíocre eu sou? Sinceramente, devia demitir-me do cargo de vampiro, seria excelente para o meu currículo. Seria muito mais produtivo se eu, em um passe de mágica, apenas deixasse de existir nesse mundo. Pergunto a mim mesmo se minha mãe choraria caso visse eu morto de um jeito tão mais heroico, desculpe-me, você preferiria um filho morto ao que tornei-me.
-Um corvo! Olha! - Ouço a voz delicada pendular pelas paredes até tocarem em meus ouvidos, derreteria meu coração se eu não o enxergasse apenas como mais uma das criaturas, aonde eu encontraria alimento. Eu espero do fundo do meu coração, o qual não bate mais, que ele não faça mais esse tipo de susto em mim. - Não é bonitinho?
-Você foi no jardim? - Digo direto, não estava com paciência para brincadeiras ou qualquer tipo de desculpas. - Anda. Olhe nos meus olhos e responda. Foi ao jardim?
-Não! Ele entrou e parecia muito assustado, se batia em todas as paredes e queria só alguém para fazer um carinho! - Desço meu olhar para baixo, mirando em suas mãos que alisavam a plumagem escura do pássaro, mesmo tendo garras e pela ordem natural o manter em um patamar mais elevado do corvo, ele não o atacava ou dilatava as pupilas. Segurar algo tão indefeso em suas mãos e não destroça-lo em um segundo, fazia o meu peito sentir-se tão vazio. A naturalidade de lidar com algo delicado, algo que seria seu alimento, mas lembrei que tirei um rabinho de rato da boca dele mais cedo, então senti-me um pouco melhor por achar essa atrocidade sobre ele. - Não fui ao jardim, e por que não posso ir?
-Vou fazer seu jantar, fique onde está e largue esse corvo, ele está com um cheiro ruim. - Vi de relance o gatinho abaixar as orelhas e deixar o pássaro no chão, o qual não tardou de voar pela janela.
-O que vai fazer? - Enquanto caminhava, era possível ouvir os passos leves e suaves atrás de mim. De todos os híbridos ridículos, escolhi bem o mais falante. - Tem cheirinho de frutas silvestres... Vai fazer uma torta? Vovó fazia tortas, sabia? Você conheceu a vovó, você parece velho.
-Pode parar de fazer perguntas com palavras que começam com "V"? Isso é irritante. - Coloco as frutas sobre a bancada e abro a geladeira. Por sorte, eu construí uma fonte de energia elétrica sustentável, tinha um rio perto, então apenas construí um sistema, transformando energia cinética do fluxo da água em energia elétrica. Viver muito tempo de vez em quando é divertido.
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Fluffly Blood • jjk + pjm
Fiksi PenggemarEm uma sociedade na qual a venda de humanos metade animais era legalizada, existia um vampiro. Antiquado e amadurecido pelo tempo, vivendo despercebido por todos aqueles em sua volta, fingindo um emprego, uma família e principalmente quem era de ver...