Bianca
- Eu não sinto minhas pernas - Rafaella disse já derramando uma lágrima.
- Calma eu vou chamar alguém - Saí do quarto correndo.
Andei pelos corredores em busca de uma enfermeira até encontrar uma mais lerda do que eu.
Entramos no quarto e Rafaella já estava chorando, a enfermeira começou a fazer alguns movimentos com a perna dela, mas ela não sentia nada. O médico veio e a examinou, então me chamou para fora do quarto.
- Como eu vou te dizer isso? - Ele respirou fundo - Ela está paraplégica das pernas pra baixo.
- Paraplégica? - Minha voz embargou.
- Eu sinto muito Senhorita, vamos encaminhá-la a fisioterapia assim que possível - Ele saiu da minha frente.
"Droga! Merda!" Como eu ia dizer isso pra ela, eu segurei meu choro para me mostrar forte, e fui até o quarto outra vez.
Rafaella estava com seus pais ao redor da cama, pior ainda para contar.
- Rafa... - Me sentei ao lado dela na cama e os pais dela me olharam feio - Eu quero que você saiba que independente de qualquer coisa eu não vou desistir de você.
- O que aconteceu? - Ela segurou firme minha mão.
- Você... É... Está paraplégica das pernas para baixo - Vi a mãe dela derramar uma lágrima e Rafaella desabou.
Ela me abraçou firme e deitou a cabeça em meu ombro, apenas deixei ela me apertar o quanto quisesse enquanto a mãe dela chorava também.
O pai da Rafaella levou a mãe dela para fora do quarto porque ela estava fazendo um escândalo deixando a Rafaella mais nervosa ainda.
Depois de um tempo o médico disse que ela já poderia ir pra casa tranquila e arrumou uma cadeira de rodas.
Os olhos verdes de Rafaella que antes brilhavam, se tornaram tristes, como quando se joga um balde de água em uma brasa quente.
Enquanto eu pegava os pertences da Rafaella, a mãe dela tocou meu ombro.
- Isso tudo é culpa sua! - Ela disse e a olhei confusa.
- Perdão... O que?
- Se nossa Rafa não tivesse ido atrás de você nada disso estaria acontecendo! - Ela falou segurando firme meu braço.
- Eu não sabia que ela ia atrás de mim - Puxei meu braço - A senhora ao invés de vir me culpar, deveria ir lá dar apoio para ela.
- Eu nunca vou aceitar você como namorada da Rafaella, nunca! Minha filha nasceu para casar com um homem bem sucedido não com uma ex presidiária!
- Primeiramente sim, eu sou ex presidiária, mas eu sou inocente, e segundo se realmente amam a Rafaella aceitem o que ela ama, e aceitem a orientação sexual dela, porque se amam ela independente se ela namora comigo ou com o filho do presidente vão aceitar ela de qualquer jeito.
Genilda se enfureceu, mas eu já lidei com coisas piores do que uma mãe homofóbica. Voltei para o quarto e Rafaella estava com o pai dela. Droga! Com certeza vai me tacar a boca também.
- Pai eu quero ir pra casa da Bianca, a mãe vai me encher o saco se eu for pra casa - Ouvi Rafaella dizer e suspirar em seguida.
- Por mim você pode ir, mas você sabe que sua mãe não vai aceitar - O Sr Kalimann falou - Tudo bem por você Bianca?
- Claro - Rafaella abriu um sorrisinho ao me ouvir.
- Me desculpe pela Genilda, ela não é muito fácil - Ele riu - Eu acompanho vocês até a saída.
O Sr Kalimann foi empurrando Rafaella na cadeira de rodas e eu fui ao lado já chamando um táxi. Assim que o táxi chegou ajudamos ela a entrar e então fomos até meu apartamento.
Entrei com Rafaella na cadeira de rodas e assim que fechei a porta ela começou a chorar.
- Eu sou inútil agora Bia! - Ela falou chorando e eu a abracei - Me desculpa por ter sido tão idiota, por favor me perdoa, só não desista de mim, eu preciso de você.
- Não precisa se desculpar Rafa, Eu te perdoo - A apertei forte e segurei seu rosto com as duas mãos dando-lhe um beijo na testa - Não vou te abandonar, eu te amo Rafaella.
- Eu também te amo Bianca - Ela colou nossos lábios pousando sua mão em meu rosto.
Minha vida inteira tive que conviver com as humilhações da minha mãe e do meu pai, sem ninguém que me amasse de verdade e realmente quisesse lutar por mim.
E então eu encontrei Rafaella.
Eu era a lua e ela o Sol que iluminou a escuridão que tinha dentro de mim.
Não me importa se ela está paraplégica, cega ou se não tem uma perna, é a minha Rafinha e eu vou lutar por ela.
Ficamos um tempo juntas, depois ajudei ela a tomar banho e então ela dormiu, deixei ela descansar, pois ela não teve um dia bom.
Enquanto ela dormia fui terminar de lavar a louça e então ouvi alguém bater na porta. Sequei as mãos e abri a porta dando de cara com Gizelly.
- Esta ocupada? - Ela perguntou.
- Não, pode entrar - Dei passagem e ela entrou e se sentou no sofá.
- Preciso conversar com você Bianca - Ela suspirou - Eu não sei se você sabe, mas temos o mesmo sobrenome.
- Eu sei, percebi isso nos papéis do processo.
- Você conhece essa foto? - Ela tirou de dentro da pasta uma foto igual a que minha vó usava para contar a história das três irmãs desaparecidas.
- Sim, eu tenho uma igual - Segurei a foto e olhei atentamente para a mesma.
- Eu cresci em um convento de freiras, e as irmãs diziam que essas eram minhas irmãs biológicas e que eu iria conhecer elas um dia, a bebê sou eu, a maior se chama Ji, e a do meio... Hey - Fiquei sem reação - Elas diziam que minha mãe era uma mulher boa e honesta, mas não sabem como eu e minhas irmãs fomos separadas, minha única lembrança é essa foto.
Não pode ser real, era pra ser apenas uma história de criança, então comecei a assimilar o que Gizelly me contou com a história que minha avó contava. Ji, Hey, Sung. Três irmãs separadas, a única lembrança é uma foto. Sem falar que eu e Gizelly eramos muito parecidas, sobrenome Andrade e Hey e Sung no meio do nome.
- Isso pode ser loucura ou apenas uma coincidência, mas... Eu também não consigo acreditar nisso Bianca, e se formos irmãs? - Nesse momento eu já nem sabia mais o que pensar.
- O que nos resta é um... DNA, mesmo que tudo aponte para o fato de sermos irmãs, precisamos ter certeza total - Falei e ela assentiu.
- Vou providenciar isso amanhã mesmo - Ela se levantou e me deu um abraço - Eu adoraria ter uma irmã como você.
Sorrimos e conversamos por um tempo, logo Gizelly foi embora e eu me joguei no sofá suspirando fundo.
Talvez a história de criança não fosse apenas uma história de criança...
🧜🏼♀️
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MERMAID
Фанфик"Eu posso ser o que você quiser que eu seja" Rafaella Kalimann acabará de se mudar para Portland junto de seus pais e sua prima, ela odiava aquela cidade com todas as forças, tudo mudou quando ela conheceu Bianca Andrade, a moça misteriosa a qual e...