⊱ Capítulo 19 ⊰

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S/n

O tour pela casa não demorou mais que 20 minutos, a maior parte apenas subindo as escadas. Era impressionante que mesmo com aquela quantidade de cômodos, o chão brilhava. Molly liderou o caminho, contando tudo que conseguia se lembrar sobre os filhos enquanto mostrava seus quartos, mesmo que algumas portas tenham sido abertas e fechadas em segundos. 

Um assovio ecoou pelo andar assim que a senhora Weasley sumiu entre os degraus das escadas. Me virei em direção a uma porta de madeira entreaberta, pronta para empurrar a maçaneta quando ela foi escancarada por Fred, que sorriu antes de me puxar para dentro do quarto e bater a porta atrás de si. O cômodo era um grande borrão vermelho e dourado, com todo tipo de bandeirinha da Grifinória e as suas camisetas do time penduradas na parede, seguidas de anotações e desenhos ilustrando os efeitos das poções, presos por fita em um quadro grande acima da escrivaninha.

Queria falar alguma coisa, mas estava assustada demais para isso.

George estava sentado em uma cadeira ao canto enquanto rabiscava atentamente um pedaço de pergaminho, cutucando diversas vezes o que parecia ser um óculos de leitura preso em seu rosto.

— Precisamos que veja uma coisa. — Fred andou até uma pilha de caixas perto da janela, pegando uma caixinha menor toda colorida com dois Ws em cima e me entregando.

— O que seria isso?

— São kits mata-aula, uma versão muito melhorada, claro — ele puxou uma trava, mostrando as balinhas. — Esses são só um projeto de amostras, queremos distribuir quando voltarmos.

Olhei novamente a caixinha, balançando os doces que cintilavam contra a luz.

— Não acham que é chamativo demais? — Perguntei, já imaginando todas as possibilidades de dar aquilo na mão de qualquer um e eles serem pegos.

— Um pouco — George finalmente falou, tirando os óculos e jogando-os de qualquer jeito na escrivaninha. — Mas também marca, e precisamos criar uma demanda.

Não consegui evitar sorrir com o jeito sério que eles falavam, parecia tudo uma série de narcotráfico da TV, só que mais legal. 

— E o que eu poderia fazer para ajudar os senhores? — Sentei na beirada de uma das camas, deixando o kit sobre a mesinha de cabeceira. 

— Como pode ver, não conseguimos fazer muitos — Fred suspirou, se apoiando nas caixas —, então oferecer alguns para os alunos da sua sociedade secreta dos filhinhos de papai seria incrível.

— Adoraria, mas não sei mais se posso agora que fomos descobertos. 

— Ótimo, pode ficar com um terço então — George estalou os dedos. — Prefere buscar conosco na escola ou quer que enviemos para a sua casa? 

— Prefiro que o ministro não saiba sobre esse comércio alternativo — levantei, pronta para sair do quarto. — Eu pego com vocês em Hogwarts.

Ambos concordaram com um aceno. Fred se apressou para atravessar o quarto e abrir a porta, estendendo a mão de um jeito engraçado para que eu passasse.

•••

Minha mochila estava no quarto de Gina, sobre uma cama montável azul. O dia tinha começado a ter aquela energia de domingo a tarde logo após o almoço, quando a senhora Weasley pediu que Hermione, Harry e Rony arrumassem a louça e os demais voltaram para seja lá o que estavam fazendo antes. Gina estava dormindo.

Resolvi revisar um dever esquecido no fundo do bolso frontal, mas também começou a ser chato e no final só estava rabiscando coisas no canto do pergaminho. É esquisito admitir mas eu tinha uma ideia meio diferente de como seriam esses dias, algo envolvendo pegadinhas, pequenas explosões ou algo do tipo. Parecia tudo calmo demais.

Enfiei o papel de volta na mochila, decidindo ir perturbar quem tinha me convidado para vir aqui ficar olhando a parede. Fechei a porta com cuidado para não acordar minha nova colega de quarto, andando devagar enquanto tentava lembrar o caminho até o quarto dos gêmeos.

Bati na porta algumas vezes, abrindo uma fresta quando não tive resposta. Fred estava deitado na cama da direita, com o cabelo caindo desajeitado sobre os olhos fechados.

Esperança é a última que morre. Desci as escadas dois degraus por vez, saltando o último.

— Hey, vocês viram o George? — Perguntei dando a volta na mesa.

— Deve estar lá fora — Rony respondeu, desinteressado. — É tipo um milagre não estarem colocando fogo em nada hoje.

Harry e Hermione concordam com murmúrios, logo voltando para os pratos.

•••

Uma sombra ruiva despontava no meio do verde da grama, parecendo concentrado demais para perceber a aproximação.

— O que está fazendo? — Me aproximei, espiando por cima do braço erguido de George.

— Nada demais — ele murmurou, não desviando os olhos da tela.

Dei alguns passos para o lado, esquecendo completamente o que vim fazer aqui quando vi a pintura que ele estava trabalhando. Parecia uma extensão da paisagem, com todo o gramado e o riacho iluminados pela luz sóbria da tarde. Era de tirar o fôlego. 

— Georgie, isso é incrível! — Falei ainda sem conseguir tirar os olhos daquilo, enquanto ele analisava o resultado comparando com o espaço original atrás da tela. — Desde quando faz isso?

— Não muito tempo, é só para relaxar um pouco — ele sorriu, deixando o pincel sobre o cavalete. — E obrigado.

George me olhou com satisfação, a roupa e as mãos repletas de marcas de tinta.

— Acho que é só por hoje. — Ele cantarolou, usando o dorso da mão para afastar uma mecha de cabelo insistente sobre os olhos, sujando a bochecha de azul do processo.

— Que adorável, pode se tornar parte da pintura agora. — Comentei, estalando a língua.

— Sabe que não seria a mesma coisa sem a senhorita — ele sorriu travesso.

Senti a tinta gelada na minha testa um segundo antes de George passar o tubo sobre ela, usando os dedos para espalhar pelo resto do rosto. Minha cara de idiota devia ser muito engraçada, porque ele não parava de rir.

George se abaixou um pouco para ver melhor enquanto fazia formas sem sentido pelo meu queixo, a risada cessando aos poucos quando nossos olhares se encontraram. Perto demais. seus lábios roçando os meus por um instante que pareceu a eternidade, antes de junta-los em um beijo decente. Sua língua deslizou pela abertura de meus lábios procurando pela minha, sem a mínima pressa, como se aquele momento durasse para sempre. Uma mão desceu para contornar minha cintura, enquanto a outra encontrou minha nuca, nos aproximando mais. Meus dedos se enroscaram em um punhado de fios ruivos, puxando-os levemente quando George deixou escapar um gemido baixo. Eu conseguia sentir com perfeição cada centímetro de seu corpo pressionado contra o meu, como se George pretendesse nos unir em um só corpo.

Nos afastamos sem muita vontade quando um pingo gelado escorregou entre nossos rostos.

— Eu... acho melhor entrarmos. — Ele disse, limpando a garganta.

Uma olhada para as nuvens escuras foi o suficiente para me convencer, começando a ajuda-lo a guardar o material em uma bolsa alaranjada.  Georgie passou o braço livre pelos meus ombros enquanto caminhávamos de volta para a casa.

Talvez realmente deveríamos ter esperado a chuva nos limpar um pouco antes de voltar.

Teoria da branca de neve || Gêmeos WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora