⊱ Capítulo 26 ⊰

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S/n

Já sentiu que quando você finalmente encontra um ponto de paz no mundo, sempre tem alguém para te tirar dele? Quer dizer, eu realmente adoro os meninos, mas parece que tem algo a mais, aquele tipo de coisa que fica no canto da sua mente te impedindo de viver cem por cento dos momentos.

Boa parte de Hogwarts parece sentir o mesmo, se analisar por cinco minutos dá para perceber que muitos se retrairam nas últimas semanas, mesmo sendo uma das mais lindas primaveras que eu já vi. O tempo nunca foi tão bom aqui, mas poucos saem para os jardins.

Claro que apenas vi isso porque era uma das alunas fazendo piqueniques lá fora, graças aos adoráveis namorados que parecem ter um estoque ilimitado de bom humor, mesmo com todo o estresse que vêm tendo depois que decidiram abrir uma loja.

– Sabem que eu posso ajudar, né? Não precisam fazer tudo sozinhos – repeti pela milésima vez no mês, acariciando os cabelos de George que havia deitado em meu colo enquanto esperava Fred terminar de montar um sanduíche.

– E já dissemos que não precisa – ele revirou os olhos, passando o polegar pela minha coxa evasivo.

– Verdade – Freddie entrou na conversa após minutos tentando passar geleia no pão com a ponta da varinha. – Vamos dar um jeito, nem que precise vender o Lino no processo.

O ruivo 2 se apressou em concordar. Foi nesse curto instante que realmente ouvi o silêncio que fazia.

– Vocês estão sentindo o clima dessa escola?

– Não – Fred sorriu de canto, entregando o pão para o irmão antes de me apontar um dedo –, mas sinto esse clima entre nós, gatinha.

Georgie gargalhou com o apelido idiota.

– Esse aí não pode ver uma vergonha que já quer passar.

– Não - intervi, determinada a continuar no assunto anterior –, tudo ficou meio pesado depois do recesso, mais pesado. Aquela broaca está literalmente ferrando com todo mundo e ninguém faz nada!

George passou o polegar em minha bochecha, sorrindo bobo.

– Já disse que amo esse seu sentimento de querer fazer uma revolução a cada esquina?

– Revolução? – Fred largou o pão de imediato, arregalando os olhos – Eu deveria me preparar? Andei estudando feitiços novos que podemos adaptar para qualquer situação.

Respirei fundo, sentindo o frescor das flores que duravam a estação inteira, tentando encontrar um jeito de sair daquela conversa que tanto queria há alguns segundos.

– Não, acho que não iria tão longe. A maioria dos alunos se calaram diante de qualquer ameaça da Umbridge, então tanto faz, vamos só esquecer isso.

Ambos deram de ombros, logo George sentou-se novamente e começaram a conversar animados sobre os preparativos para a loja nova.

•••

A parte engraçada da minha ótima frase de escape do assunto foram as próximas semanas que se seguiram.
Umbridge decidiu que ensinaria DCAT apenas para sonserinos, mas como isso é ilegal, ela passou por cima das regras expulsando alunos "mal comportados" da classe, com bilhetinho e tudo. Uma graça de pessoa.

Logo, não se via qualquer outra cor na sala que não fosse o verde e, claro, o rosa. Em algum momento os próprios sonserinos já não se suportavam mais. Como não havia nenhum aluno de outra casa para implicar, eles começaram a fazer isso entre si, o que culminou em várias pequenas brigas que a professora tinha que separar, mesmo contra a vontade.

– Inferno de mulher – Draco resmungava enquanto amassava um pergaminho de tarefa atrás do outro. – Não aguento mais escrever nada, não aguento mais nem ficar tanto tempo perto de vocês.

Pansy concordou rapidamente, olhando para Blaise em busca de outra confirmação, mas o garoto estava jogado na poltrona e parecia cansado demais para dizer qualquer coisa.

– Ouvi algumas coisas nos últimos dias – intervi, em dúvida se deveria falar sobre aquilo –, parece que alguns alunos estavam querendo levar isso para o Ministério. Acham que eles não sabem exatamente o que está acontecendo e querem intervir.

Draco riu escandalosamente.

– Com certeza o Ministério liga para meia dúzia de gatos pingados protestando na porta deles. Vão acabar expulsando todos.

Crabbe e Goyle forçaram uma risada igualmente alta. Ultimamente se tornou bem engraçado ter eles por perto, tinham sumido alguns dias devido às incontáveis patadas do Draco, mas do nada voltaram, e piores que antes.

O assunto se encerrou ali mesmo, a comunal recaindo no silêncio mortal típico dos últimos tempos. Os primeiranistas e cia que viviam falando alto e perambulando por aí agora ficavam nos cantos da sala, focados em seus deveres de pergaminhos gigantes.

•••

Os próximos dias não foram muito mais fáceis, o único momento de alegria foi quando a Corvinal detonou a Grifinória no último jogo. O Salão inteiro vibrou durante o jantar e até mesmo alguns alunos da Sonserina foram ajudar a erguer os atletas do outro time. Ultimamente estávamos unidos pelo menos no quadribol: todos contra a Grifinória.

Pansy dizia que era reparação histórica pelo tempo que os próprios leões fomentavam o "todos contra a Sonserina". Era um ótimo motivo para mim.

Após o alvoroço do jantar resolvi fazer alguns deveres de Herbologia em uma mesinha no canto da comunal. Tentava responder uma questão particularmente difícil sobre Verbena-luminosas quando Blaise se sentou na cadeira da frente.

– Olá, de novo

– Oi, solta a voz, meu querido – continuei a escrever sem desviar o olhar.

Zabini deslizou um envelope pela mesa, parecia meio amassado e já tinha sido aberto. No canto inferior havia um carimbo com as iniciais DD, o que me fez largar a tarefa no mesmo instante.

Retirei o pergaminho de dentro, lendo apressada o conteúdo, tentando absorver o máximo possível. A caligrafia era limpa e bem feita, característica da minha mãe, que deve ter escrito e carimbado com o nome do papai para que não houvesse maiores inspeções. O bilhete era breve, dizendo que meu pai estava sendo investigado por Fudge e toda sua corja; ela estava bem e se fechando em casa e papai estava abalado, mas superando.

– Você leu? – Murmurei, largando o papel na mesa.

– Li, não foi muito educado da minha parte – ele se apressou para completar –, mas também não me arrependo.

– Sinto muito por isso – Zabini colocou a mão por cima da minha. – Seu pai não defende exatamente os nossos ideais, mas não é uma pessoa corrupta, não merecia tudo isso.

Assenti para ele, forçando um pequeno sorriso. Mais uma desgraça para a lista, e faz um longo tempo que deixou de ser surpresa.

– Sei que tivemos uma história meio complicada e confusa antes dos Weasleys, mas eu estou aqui se precisar.

– Eu sei – suspirei cansada, talvez pelo horário ou sei lá o quê. – Obrigada, Blaise.

Teoria da branca de neve || Gêmeos WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora