𝟬𝟮

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"Quando eu virar uma estrela, você vai estar grande e não irá precisar de mim... Mais eu sempre precisarei de você"

S.N

EU GOSTO DE ROMANCES. Apesar de bobos, são bonitos, alguns. O amor é bonito. Depois da morte da minha mãe, nunca senti vontade de amar outro humano. Não me lembro qual a sensação. Era bom? Era tocante? Eu não sei te responder. Talvez algum dia eu volte a sentir isso. Talvez não. Isso não faz diferença, não vamos nos lembrar de nada mesmo. Esparramada pela minha cama eu lia "Mentirosos" depois de um dia cansativo de escola. Não queria voltar naquele lugar. Não queria. Isso é tão patético. Poderia ficar no meu mundo de fantasias para sempre. Não fazia diferença. Queria ler para sempre. Isso é bom. Você foge da sua realidade quando ela é sem graça, fútil. Eu não tinha celular. Nunca tive vontade de ter um. Meus melhores amigos eram livros. Não me interessava por tecnologia. Não iria mudar nada na minha vida. Iria complica-la mais do que já estava. Escuto a porta da sala se destrancar. Fecho meu livro e o jogo em um canto qualquer. Depois com certeza me esqueceria de onde havia o deixado e procuraria como uma louca por ele. Calço os meus chinelos e saio do meu quarto, seguindo pelo meu pequeno apartamento até a sala.

── Oi filha, pode me dar uma ajudinha? ── Harry, meu pai pede enquanto se atrapalhava com o monte de sacolas que ele havia trago. Rapidamente vou até ele. Sem querer, esbarro em Winni, minha gatinha. Ela é a unica pessoa animal que amo. Ela é preta, com uma manchinha branca na cabeça. Parecia uma estrela. Ela da um miado, como se estivesse reclamando. Ela é bem rabugenta ── Como foi o seu dia na escola? Foi bom? ── meu pai sabia o que acontecia. O bullying, a zoação. Ele sabia de tudo, eu sempre o contava. Meu pai é meu único amigo. A única pessoa que realmente se importa. Sou grata por isso. Ele já tentou me fazer mudar de escola. Eu não quis. Poderia ser pior, eu poderia sofrer mais.

── Foi péssimo, como todos os outros ── falo colocando as comprar encima da bancada da cozinha. Normal para vocês era bom para mim. Péssimo para mim era igual a normal para vocês. E horrível, era realmente muito ruim. O dia de hoje foi apenas péssimo. Nem ruim nem bom -- Hoje eu não passei o almoço sozinha e uma pessoa conversou comigo.

-- Que bom filha! Eu fico muito feliz, de verdade. Quem é a pessoa? Conte-me tudo -- meu pai realmente se importava. Ele realmente queria saber. Desde pequena. Desde que minha mãe se foi. Ele é meu pai e minha mãe. Talvez eu o amasse. Eu não sei. Eu gostava muito dele. Gratidão. Retiro o que disse, eu o amava. Amava ele e Winni. Meu pai começa a guardar as compras nos armários da cozinha. Eu me sento em uma cadeira da bancada observando-o -- Vamos, trabalhamos com detalhes.

-- Ele se chama Louis, nós não somos amigos. A gente é da mesma sala e eu me sentei para almoçar com ele. Só isso. Amanhã ele nem se lembrará de mim -- falo. Eu realmente acho isso. Amanhã não nos falaríamos. Eu não me esquecerei dele. Mais ele se esquecerá de mim. É o ciclo da minha vida. Pessoas apenas vão e não voltam. Pareçe depressivo, mais já me acostumei. É assim, e eu não posso fazer nada para mudar isso.

-- Pare de negatividade! -- o mais velho exclama. Realmente. Talvez eu fosse muito negativa. Talvez eu precisasse ser mais positiva. Eu simplismente não conseguia. Não consigo ser positiva. Eu tento, muito. Mais não da. Já perdi tantas coisas. Tenho medo de me iludir por algo inalcansável -- Já cuidou de Winni? Colocou ração e água? -- negativo. Balanço a minha cabeça. Eu tinha esquecido totalmente. Deve ser por isso que Winni está tão rabugenta. Ela odeia ração velha. Ela odeia água quente. Quem gosta não é mesmo?

Mais um dia em que eu acordei. Mais um dia sobrevivendo. Mais um dia atuando. O que seria de mim hoje? Eu não sei. Saio da minha cama arrastada. Não queria morrer, mais queria nunca mais acordar. Eu não me entendo. Vou até o pequeno banheiro do corredor e tomo um banho. Talvez eu acordasse contra a minha vontade. Um dia eu teria que acordar. Não precisa ser hoje. O que seria do meu eu do futuro? Eu estaria bem? Eu estaria morta? Eu não via. Eu não me via tendo um futuro. Talvez eu virasse alcólotra? Drogada? Eu não sei. Eu só queria respostas claras. Saio enrolada em uma toalha azul. Eu gosto de azul. É feliz, é alegre. Queria ser como o azul, talvez tudo fosse mais fácil se existissem mais pessoas como o azul. Já no meu guarda roupas, pego uma calça jeans escura e um moletom, parecido com o de ontem, porém preto.

𝘄𝗶𝘁𝗵 𝗹𝗼𝘃𝗲, 𝗹𝗼𝘂𝗶𝘀 ! louis partridge.Onde histórias criam vida. Descubra agora