𝟬𝟯

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"Eu não te amei no começo da minha vida, mas te amarei até o final dela".

S.N

SENTADA NUMA MESA ao canto da cafeteria, eu desfrutava o meu livro. Estava ali a umas duas horas esperando meu pai. Toda semana iamos ali para conversar sobre nossa semana. Desde que minha mãe morreu viemos aqui. Odiava café, mais adorava o cheiro. Estava lendo. Fugindo da realidade. O que seria de mim sem os livros? Nada. Eu amo os livros na mesma intensidade que amo um ser humano. Talvez até mais. Hoje lia "Vermelho, branco e sangue azul". Estava gostando. Comia também um bolinho de canela. Canela cheira tão bem. Era tão gostoso. Eu também pensava. Eram tantas coisas. Pensava na proposta de Louis. Eu realmente queria fazer esse trabalho? Estou desanimada. Eu queria. Mas também não queria. Eu estava tão indecisa. Eu sou tão indecisa. Essa indecisão um dia irá me comprometer bastante. Tenho certeza. Dou um suspiro fundo. O cheiro de café acaba de ficar mais forte. Eles estavam fazendo um expresso. Expresso é horrível. O cheiro é maravilhoso. Fecho meu livro. Já estava quase acabando. Triste. Olhava o movimento. Pessoas bem vestidas com um copo de café. Estudantes apressados. Trabalhadores correndo contra o tempo. Escuto a porta da cafeteria se abrir e um barulho de sino soar no local. Era meu pai.

── Filha, me desculpe pelo atraso. Acabei tento um contratempo no trabalho ── meu pai dispara se sentando à poltrona na minha frente. Não o culpava pela demora. Ele trabalha muito. Ele vive cansado. Eu o entendia. Ele é o melhor pai que eu podia ter. Mesmo cansado ele tinha tempo para ficar comigo. Ele se preocupava comigo. Ele se preocupava com meu bem estar. É fofo.

── Tudo bem, nem reparei. Estava lendo ── mostro o livro para o meu pai. Ele o pega da minha mão e analisa. Ele sorri.

── Eu já li esse livro, é muito bom por sinal ── ele me devolve. O guardo em minha mochila. Me viro para frente e vejo meu pai comendo meu bolinho de canela. Ele ama canela. A minha mãe também amava. Como eu sentia falta dela. Do seu cheiro. Do seu jeito. Da sua forma de ver a vida. Ela era uma mulher radiante. Tinha um sorriso lindo. Cabelos loiros tingidos ondulados sempre bem arrumados. Ela era linda. Sinto tanto sua falta, tanto. Se eu pudesse, daria a minha vida pela dela. Saudades. Saudades me resumia. Era tanta, tanta. Quando recebi a notícia de que ela havia ido meu mundo morreu. Tudo de bom que tinha em mim foi junti com ela. Eu não sou uma pessoa religiosa. Não sou uma pessoa de fé. Mais tenjo certeza de que ela ainda me olha. Ela me observa, eu sinto ela em alguns momentos. Momentos esses tão bons quanto bolinhos de canela.

── Hoje o meu professor de geografia passou um trabalho ── comento com meu pai. Sempre conversávamos coisas bobas. Era bom. Eu me sentia mais leve compartilhando coisas com meu pai. Ele me ouvia. Ele me entendia. Ele se importava ── Temos um mês para ir em no mínimo dois lugares importantes para nós de Brighton e fazer um relato sobre o lugar. E o pior, é em dupla. Acho que não irei fazer.

── Porque não? Vai ser divertido, vai ser bom você sair um pouco de casa e ir viver como uma adolescente de dezessete anos normal ── meu pai diz. Ele limpa a sua boca suja de canela em um guardanapo enquanto falava. Lembrava a minha mãe. Lembrava muito a minha mãe ── Quem é a sua dupla?

── Lembra do Louis? ── ele assinte com a cabeça ── Ele me chamou para fazer o trabalho com ele e eu falei que ia pensar. Acho que não vou, quer dizer, eu não vou.

── Filha....sei que não posso te forçar a nada, mais vai ser bom para você sair um pouco. Se divertir as vezes é muito bom.

── S/n? ── escuto uma voz conhecida atrás de mim me chamar. Me viro. Era Louis. Denovo. Ele usava uma calça moletom com uma camisa branca. Segurava um copo de café em suas mãos. Seus cabelos estavam bagunçados como sempre.

𝘄𝗶𝘁𝗵 𝗹𝗼𝘃𝗲, 𝗹𝗼𝘂𝗶𝘀 ! louis partridge.Onde histórias criam vida. Descubra agora