𝟬𝟰

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"Você apareceu na minha vida e alegrou tudo nela. Quando eu for mais velha, eu sempre me lembrarei de você, e o levarei comigo por onde eu andar"

S.N

DEPRIMENTE. Eu sou deprimente. A forma em que vivo é deprimente. Eu vivo por ápices de produtividade. Isso é horrível. Alguns dias eu queria apenas morrer. Outros eu só queria saber como é viver. Hoje eu acordei deprimida. Não tinha vontade de fazer nada. Apenas fechar o meu olho e esperar alguma força superior, algum Deus, seja qual for, me levar. Eu estava ansiosa para ir. Tinha esperança de que em algum lugar eu encontraria minha mãe. Mais eu não podia. Eu não posso. Não posso deixar meu pai e Winni sozinhos. Eu me sentiria mal se fizesse isso. Culpa. Eles sempre estiveram ao meu lado. Quando eu estava feliz. Quando eu estava triste. Quando eu estava chorando. Eles são o meu apoio. Foram eles ficaram ao meu lado no pior momento. Apenas eles permaneceram ali por mim. Eu seria egoísta se os deixasse. Talvez eu fosse egoísta. Eu só penso em mim. Nos meus traumas. Nas minhas decepções. Na minha tristeza. Eu percebi que nunca me importei em como o outro estava. Eu não tinha cabeça para isso. Por mais que eu quisesse ajudar o outro. Eu não podia. Eu não tenho psicológico para isso. Porque uma palavra errada que eu falar, eu acabo com a vida de alguém. As vezes palavras doem muito mais do que machucados físicos. Arranhões, ralados, cortes, passam. Quando eles se curam você você nem lembra mais que eles tiveram ali. Palavras eram diferentes. Palavras destroem tudo. Porque elas não vão se curar. Elas vão ficar na sua memória. Você vai andar com aquilo para sempre. Elas vão te acompanhar para sempre. Palavras, muitas das vezes não tem cura. Sinto algo leve se chocar com meu corpo. Olho para o chão e vejo uma bolinha de papel ali. Reviro meus olhos. Me abaixo na minha carteira e a pego abrindo-a.

"Você é tão feia, idiota e otária, que meus olhos chegam a doer quando vejo você sua esquisita. Eu teria vergonha de ser você."

assinado com ódio
Mathias

Mais um. Mais um bilhete de ódio que recebia em minha vida. Chega uma fase em que você já não liga. Aquilo não te machuca mais. Você não sente mais nada lendo aquilo. E isso é preocupante. Sei que não podia aceitar todos me rebaixando. Mais eu não posso fazer nada para mudar isso. Por mais que eu queira eu não tenho forças. A cada dia me sinto mais fraca. Me sinto mais exausta psicológicamente e fisicamente. Eu já não ligava para a minha aparência. Eu andava por aí com qualquer roupa. Muitas vezes com os cabelos bagunçados. Eu já não ligava para mais nada. Eu só estava cansada. Já tinha desistido de frequentar psicólogo. Já não adiantava mais. Já não tinha mais jeito. Eu já tinha me acostumado com a ideia de que eu viveria para sempre com esse vazio me assombrando. Eu sentia que não tinha mais emoções. Eu não sentia mais nada. Eu estava cansada de não sentir nada. Eu queria sentir algo, nem que fosse a mais forte dor. O mais forte desespero. Mais nem isso eu sentia mais. Eu literalmente já estava morta. Porém ainda andava e aguentava sobrevivendo. Eu só queria um basta nisso. Ou morrer. Ou viver. Eu estava no meio termo vida e morte. Não estava a sete palmos abaixo do chão sendo comida por bactérias. Mais também não vivia intensamente agradeçendo pela minha existência. Eu não sou uma ingrata. Tenho certeza de que ninguém queria estar no meu lugar. Tenho certeza de que ninguém queria ter a minha vida. Louis, que se sentava atrás de mim toma o bilhete de minhas mãos e lê. Ele me olha com pena.

Indignada me viro para frente. Eu não precisava de pena. Passei anos da minha vida sofrendo sozinha e calada. Eu não precisava da pena de um menino idiota que me conheçe tem dias. Penso. Talvez Louis não quer ser meu amigo. Talvez ele ainda anda comigo porque sente pena. Isso faz sentido. Talvez ele tenha descoberto que eu sou a menina estranha. Talvez ele tenha sentido pena de mim e por isso ainda está aqui comigo. Amasso aquele bilhete e me levando, jogando-o no lixo. Louis é bonito. Seria facilmente popular. Cobissado pelas mais belas meninas. Porque ele andaria comigo? Por pena! Talvez ele tenha medo de eu ser depressiva e me matar se ele sumir. Que idiota. Eu já deveria saber. Garotos são idiotas. Nojentos. Toscos. Volto para a minha mesa e me sento encolhida. Escoro a cabeça na parede e fecho meus olhos. Eu só queria sair dali. Não aguentava mais. Queria ir para a casa ver Winni. Passar o resto do meu dia assistindo românces antigos. Eu posso não parecer, mais eu sou uma garota "romântica". Gosto de ler, escutar e ver. Era bom. Eu já falei isso. Respiro fundo focando na minha respiração. Isso me acalma no meio de tanta gente. Contar números também me acalma. Fechar os olhos me acalma. Muito.

𝘄𝗶𝘁𝗵 𝗹𝗼𝘃𝗲, 𝗹𝗼𝘂𝗶𝘀 ! louis partridge.Onde histórias criam vida. Descubra agora