reencontrando o amor

Capítulo 1- A descoberta

Olhos meus
Olhem em volta
Me vejam, me mostrem

Olhos meus
Abram-se ao belo
Percebam o brilho do sol
Da cor do céu
Da flor no chão

Olhos meus
Olhem em volta
Me vejam, me mostrem

Olhos meus fujam do escuro
Se ascendam, se façam brilhar

Nos dias frios... e sem luar

Sequem-se as lágrimas
Sequem-se as mágoas
Minha alma agora quer sorrir

Cessem as dores
E feridas de amores
Minha alma agora quer sorrir

Nos dias frios... e sem luar.

                                            (Sandy Leah)

Mais um dia.

Acordar, tirar a roupa, abrir o chuveiro, tomar banho, lavar o cabelo, se enxugar, colocar a roupa, tomar café rápido, sair de casa, chegar ao trabalho, sair pra almoçar, trabalhar novamente, sair a tarde e voltar pra casa.

Assim eram os dias de Mel desde que terminará com Lucas.

Chegar em casa chorar, chorar, chorar e dormir.

Duas semanas tinham se passado e apesar da imensa falta que ele fazia e das lembranças que apertavam cada vez mais no peito ela tinha certeza de uma coisa, não poderia voltar a trás e ligar pra ele novamente. Chega de ser humilhada, de sofre e de se desesperar por quem não lhe valorizava.

Aquela noite mudou toda a sua vida.

Lucas e Mel namoravam desde a época da faculdade, tornaram-se mais que amigos e a paixão foi chegando devagarzinho. Lucas não era apenas o melhor amigo de seu irmão Ricardo, mais também foi um grande auxilio na faculdade, pois quando Mel chegou não conhecia nada e o sistema era muito diferente daquele a que ela estava acostumada. Começaram a fazer tudo juntos e eram tão parecidos que pareciam mais como irmãos. Como não amar uma pessoa assim? Que era tão “perfeito” em tudo que fazia. Mel uma menina boba do interior, inocente, doce, e frágil, logo se viu completamente apaixonada e assim se entregou de corpo e alma. A vida estava perfeita.

Lucas terminou a faculdade dois anos antes de Mel e mudou-se para uma cidade próxima onde conseguiu o emprego dos sonhos. Continuaram namorando, viam-se um pouco menos por causa da distância, mas mesmo assim continuavam se falando todos os dias, e as noites. Mel ia pra casa dele sempre que possível e quando o período da faculdade estava pra terminar, começou a procurar um emprego na mesma cidade em que Lucas estava para que pudessem ficar mais tempo juntos. O natural era morarem juntos já que namoravam há quase quatro anos e ficariam na mesma cidade, mas Lucas sugeriu que ficassem em apartamentos separados para que pudessem se estruturar melhor e se casarem como determinava o figurino.

Apesar de não ficar muito satisfeita Mel compreendeu e até admirou a atitude do namorado, afinal de contas ela gastaria um bom tempo para convencer seu pai a concordar com essa situação.

Quando terminou a faculdade e mudou-se para três Corações Mel conseguiu o emprego que ganharia relativamente bem, apesar de ter se formado com honras na faculdade e feito vários cursos de extensão em economia internacional ainda não tinha experiência na área. Aquele emprego lhe abriria portas e ela estava feliz por isso. Tudo perfeito.  

Até aquela noite, cada vez que Mel se lembrava era como se uma faca entrasse em coração. E ela continuava se perguntando por quê?

Não conseguia entender o que aconteceu. Nem quando aconteceu. Apesar de procurar por respostas não conseguia chegar a nenhuma conclusão.

Foi em uma quarta- feira, ela havia combinado de sair com algumas amigas do trabalho para irem juntas ao cinema, mais na última hora desistiu. O dia havia sido estressante, a bolsa de valores mais instável do que o de costume deu muito trabalho e precisou fazer horas extras para preparar tudo para o dia seguinte, que claro seria bem agitado. Cansada e com um pouco de dor de cabeça pensou em relaxar um pouco.

Lucas estaria em casa aquela noite, então ela saiu do trabalho comprou algumas coisas no mercado e foi para a casa dele pensando em preparar um jantar e namorar um pouquinho, dormir com ele e estar pronta para o dia seguinte. Uma fugidinha durante a semana para quebrar a rotina. Não via a hora de se encontrar com Lucas, conversar e esquecer os problemas do dia cansativo de trabalho.

Eram nove da noite quando ela chegou ao prédio de Lucas. Como ia sempre os porteiros já a conheciam e a deixaram subir. No elevador ela apertou o sexto andar e já pegou a chave da porta, depois de  quatro anos de namoro era natural que ela tivesse uma cópia da chave da casa dele e ele uma cópia da chave da sua casa.

Quando entrou na casa Mel encontrou tudo escuro e imediatamente pensou que Lucas já estivesse dormindo, foi até a cozinha deixou as sacolas do mercado na bancada, ascendeu à luz e já pegou uma panela para preparar o jantar. A cozinha estava arrumada então Lucas não deveria ter comido nada ainda.

_ “Coitado deve estar tão cansado que não comeu nada foi direto deitar, ainda bem que resolvi por uma comidinha bem leve”   _ pensou Mel.

Passou pela sala e foi até o quarto para ver Lucas. Estava com tanta saudade que não via a hora de dar-lhe um abraço bem apertado e um beijo apaixonado, ela adorava os beijos do Lucas. Foi suspirando por ele que Mel abriu a porta e teve a maior surpresa de sua vida.

Lucas estava de fato em sua cama, mas não estava sozinho. Cecília sua prima, melhor amiga, quase irmã estava lá com ele. Eles estavam transando. Ela estava por cima dele. Os peitos balançavam com os movimentos frenéticos que eles faziam. Lucas apertava a cintura dela com mão e com a outra batia na bunda dela. Ela gritava e gemia. Lucas a chamava de gostosa.

Era tudo horrível demais!

 Mel ficou tão desnorteada que nem percebeu direito  o que estava acontecendo. Ficou ali imóvel olhando a cena mais terrível de toda a sua vida. Aos poucos as lágrimas se juntaram e escorreram por seus olhos. Os dois tão envoltos um no outro não a perceberam, até o momento que ela suspirou o nome dele.

Quanta dor, ela não queria acreditar no que seus olhos estavam vendo, o que era aquilo? Ele era a sua vida, o motivo pelo qual ela acordava todos os dias e Cecília era sua irmã de coração, sua melhor amiga. O impacto foi demais. Mel viu tudo escurecendo a sua volta, suma vertigem forte passou e ela não viu mais nada.

Quando voltou em si estava deitada na cama de Lucas. Os dois vestidos. Olhando-a com uma expressão péssima no rosto. Demorou alguns instantes até que ela se desse conta do que havia acontecido. Foi se lembrando de tudo aos poucos. Ela saindo do trabalho, o mercado, as saudade, o quarto, a traição.

Levantou-se da cama rapidamente.

Não, não, não quero ficar deitada nesses lençóis sujos. Lençóis que eu mesma comprei de presente pra ele.

__ Calma Mel não se levante tão rápido, ainda esta muito pálida. - Cecília falou.

Ela só olhou e não disse nada, precisava sair dali, precisava respirar, sentia-se sufocada.

Ao ficar em pé uma nova tontura, mais fraca, ela ainda conseguia ficar em pé, sentindo suas pernas e percebendo seus movimentos foi até a porta. Os dois não disseram nada ficaram apenas olhando assustados. Ela passou pelo corredor chegou na sala pegou sua bolsa e olhou a luz da cozinha que ela havia ascendido. A sacola do mercado na bancada, a panela que ela faria a comida. Olhou tudo em volta, a decoração que ela ajudou a escolher, um espaço tão familiar. Ela nunca mais voltaria ali.

Neste momento novas lágrimas vieram, com uma força que ela não queria e ela chorou como se fosse uma criança. Lucas correu e a segurou, Cecília buscou um copo com água, novamente dizendo que ela se acalmasse. Tudo se passava em sua cabeça como uma peça de teatro, ela não se sentia fazendo parte de tudo aquilo. Ainda não conseguia entender de onde havia tirado força para superar toda aquela intensidade de sentimentos que havia sentido.

Desvencilhou-se dos braços de Lucas e saiu da casa. Ele ficou chamando-a. Pediu que ela não saísse para a rua daquela maneira como estava, mas ela não virou para trás, nem tão pouco respondeu nada a ele, precisava respirar e assim fez.