Capítulo 2 - A virada

834 58 2
                                    

Capítulo 2 – A virada

 

Fiz mais do que posso
Vi mais do que aguento
E a areia nos meus olhos é a mesma
Que acolheu minhas pegadas.

Depois de tanto caminhar
Depois de quase desistir
Os mesmos pés cansados
Voltam pra você.
Pra você

Eu lutei contra tudo
Eu fugi do que era seguro
Descobri que é possível viver só
Mas num mundo sem verdade.

Depois de tanto caminhar
Depois de quase desistir
Os mesmos pés cansados
Voltam pra você.
                                                 (Sandy Leah)

 

 

Chegou em casa e só então começou a entender tudo o que havia acontecido. Chorou muito, muito, até seus olhos secarem, sua vida estava de pernas para o ar. Ela chegou ao fundo do poço, sentia como se estivesse se afogando, cansada de tudo, ela queria dormir e só acordar depois que tudo passasse.

Mel acordou no dia seguinte, quando olhou o relógio eram onze horas da manhã. Ótimo atrasada, aliás, com a dor de cabeça que ela estava nem iria conseguir trabalhar mesmo. Olhou o celular, varias chamadas perdidas, entre todas elas várias de Cecília e Lucas, duas chamadas da empresa. Ela precisa dar satisfação em seu trabalho, então resolveu ligar para seu chefe.

__ Alô, senhor West, é Mel desculpe não ter lhe avisado antes, estou passando muito mal e não conseguirei ir trabalhar hoje.

__ Mel... Nossa, sua voz esta realmente horrível, o que aconteceu com você? Estava bem ontem.

__ Não sei senhor West ontem á noite comecei a me sentir mal e agora esta tudo pior. Deve ser algum vírus. Irei ao médico, tomarei algum medicamento e possivelmente amanhã estarei melhor.

__ Fique o tempo que precisar minha filha, você trabalha bem e deixou tudo pronto ontem, o mercado está mais estabilizado hoje e temos tudo sob controle. Não se preocupe com nada. Vá ao médico e me de noticias certo?

__ Certo senhor West, obrigada por ser tão bom comigo. Darei notícias.

__ Até então, se cuida.

__ Até.

Pronto, pelo menos uma coisa estava resolvida. O trabalho estava avisado, agora Mel precisava reestruturar suas ideias, sua vida, sua alma. O que fazer?

Mel começou a pensar em sua vida desde o começo. O que a levará até ali. Todos os caminhos pelo qual percorreu. E chegou a seguinte conclusão. Sempre foi uma boa filha, sempre foi uma boa aluna, sempre fizera tudo de maneira correta e sensata, pensando no que seria melhor para sua família, no que daria orgulho a seus pais. Não que se arrependesse de nada, mas estava na hora de tomar as redias de sua vida.

__ Você tem que crescer Mel. Não é mais uma menina de dezessete anos perdida em uma cidade nova. Tem que tomar as redias do seu destino.

E neste momento Mel decidiu que mudaria complemente. Não seria mais a menina ingênua que todos manipulavam e controlavam. Resolveu que a primeira coisa que faria era mudar-se de cidade. Gostava de Três corações, mas lá não teria as oportunidades que encontraria em uma cidade grande. Mas qual cidade?

Resolveu começar a pesquisar e não demorou muito a se decidir.

__ São Paulo.

Claro, São Paulo é o centro econômico do país, todas as grandes empresas que ela havia estudado na faculdade tinham seus escritórios em São Paulo.

Mas como chegar lá? Bem, isso ela teria que dar um jeito.

Pensar. Pensar. Pensar.

Enquanto estava ali pensando, pesquisando Mel conseguiu isolar a noite anterior em sua cabeça. Guardou em um cantinho escuro. Não queria pensar, nem lembrar naquilo. Passou todo dia no computador envolta em pesquisas e analises de empresas onde poderia se encaixar, mandou diversos currículos, e olhou sites de imobiliárias pensando onde poderia morar. Quando deu por si eram seis da tarde, ainda não havia comido nada, aliás, sua última refeição havia sido o almoço do dia anterior.

Levantou-se foi até a cozinha e preparou um sanduiche e só então as lembranças voltaram. Mel acabou de comer, tomou um banho e entrou embaixo de seus lençóis novamente. Tomando cuidado de deixar seu celular para despertar no dia seguinte. Não poderia faltar novamente, seu chefe era bom e ela não queria abusar.

Dormiu um pouco melhor. Apesar de ter tido muitos pesadelos, todos com a cena de seu namorado transando com sua melhor amiga.

E foi ai que Mel iniciou sua rotina. Acordar, chorar, trabalhar, almoçar, chorar, trabalhar, chegar em casa, chorar e dormir novamente.

No final da primeira semana Lucas a procurara, na verdade ele havia ligado para ela durante toda a semana, mas Mel simplesmente ignorara todas as ligações e as mensagens, não leu nenhuma.

Quando chegou em casa depois de um dia de trabalho comum encontrou-o em frente ao seu prédio, ao menos ele havia tido da decência de não subir, Mel pensou antes de se colocar na frente dele.

__ Oi mel.

__ Oi Lucas.

__ Te liguei a semana toda.

__ Eu sei. E pensei que o fato de não atender a nenhuma das vezes e nem retornar lhe desse indícios de que não quero falar com você. Mas pelo visto você não percebeu.

__ Nossa Mel não precisar falar desse jeito comigo. Sei que você não é assim gatinha.

Lucas ergueu a mão demonstrando que iria coloca-la sobre o rosto de Mel.

__ Não se atreva a colocar suas mãos em mim Lucas ou farei um escândalo tão grande que você nunca mais vai esquecer.

Ele arregalou os olhos e imediatamente abaixou a mão.

__ Calma Mel, eu só quero conversar com você e te explicar o que aconteceu.

Mel riu sarcasticamente.

__ É muita cara de pau vamos fazer o seguinte, a chave da sua casa esta aqui.

Mel pegou seu molho de chaves e desenroscou a chave do apartamento de Lucas que ficava lá desde que ele dera a ela e entregou a ele.

__ Não quero mais que você volte aqui, nem que me ligue, nem que pense em mim. Não quero mais lembrar de você, nem pensar em você, nem ligar pra você. Acabou tudo, se é que um dia realmente tivemos alguma coisa.

__ Mel espera, não é assim. Foi só um deslize da minha parte. Vim te pedir perdão.

Depois de ouvir isso Mel começou a ficar enjoada. Seu estomago revirou.

__ Adeus Lucas. – foi só o que ela conseguiu dizer.

Virou-se e entrou no prédio.

Mais uma semana e aquela rotina continuava.

Mel não aguentava mais, depois daquela noite não tinha mais com quem conversar. Perdeu a amiga e o namorado, não tinha mais ninguém na cidade.

Entrou em casa e já foi para o banho, sentia exausta. Mas não pelo dia ou pelo trabalho. Seu coração estava destruído e o encontro com Lucas só piorou as coisas. Por mais que não quisesse admitir em voz alta Lucas ainda mexia com ela. Foram quatro anos de entrega sincera e apaixonada. E lembrar dos momentos bons só fazia Mel ficar com mais ódio ainda. Tudo mentira. Ela viveu uma doce mentira. Olhar Lucas por aqueles instantes mostraram para ela que de todo o amor que ainda existia a mágoa era maior. Uma miríade de sentimentos passavam pelo coração de Mel. E o cansaço foi tanto que ela saiu do banho e foi direto dormir. Nem sequer olhou suas correspondências, isso ficaria pra o outro dia.

reencontrando o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora