Capítulo 3

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Lilith passou toda a tarde no quarto do segundo andar, ela poderia ter ido embora e nunca mais ter voltado, mas por pelo menos uma última vez ela sente algo, assim que saiu do escritório de Rhysand, Amren caminhou com ela até o quarto que deveria ocupar, já que ela não iria suportar viver junto de Amren sabendo que a qualquer momento ela poderia receber uma visita do homem que tanto a deixa calma.

Rhysand não protestou, nem mesmo Feyre ou outro alguém, certamente todos se acostumaram com a rispidez de Amren e soube no momento em que a lâmina foi pressionada em seu pescoço, que aquela mulher seria pior.

O Grão-Senhor sentiu o quão tensa a mesma ficou com o toque repentino em seu braço para que a travessia fosse feita, ela era tão quebrada quanto todos de seu círculo íntimo, ainda ficaria atento ao quão maldosa ela poderia ser com outros, mas nada faria para que ela fosse embora.

Quando viu ela subindo as escadas, quase pode ver todo o peso que a mesma carregava nas costas, existia mais do que só uma mulher. Lilith era igual a eles, quebrada, mas que ainda sobrevivia.

Nesse momento o sol se ia embora por entre as montanhas nevadas da muralha que ali cercava a cidade, os poucos raios de sol ainda batiam no rosto de Lilith que agora já não estava sendo coberto por uma capa, mas ainda tinha sua máscara cobrindo metade do rosto. Ela aqui ficaria por pouco tempo, e por esse pouco tempo ela poderia se despedir devidamente da mulher que ela declarou um dia como irmã.

Amren disse que como em alguns dias, hoje eles se juntariam para um jantar em família e uma tentativa de não brigarem e se baterem, a convidou é claro, mas não esperou resposta, pois sabia que existia muito por trás da seriedade que aquele Lilith agora carregava.

O sol agora aqui não mais estava, a noite reinava no mundo, junto das estrelas como coroas brilhando no céu , ela fechou os olhos quando a banheira fora enchida com um simples pedido seu, retirou as roupas.

Dessamarrando os fios do espartilho afrouxando o aperto forte, deixando que deslizasse para o chão, a camiseta de linho ficar larga e logo passou por cima de sua cabeça, retirou as luvas as deixando de lado, desprendeu o cinto deixando no chão, retirou as botas e logo as calças, ela entrou na banheira sentindo a água morna acariciar sua pele pálida, ainda de olhos fechados, tocou a máscara com as pontas de seus dedos, e logo estava em sua mão.

Lilith estava nua, nada mais que um corpo cheio de cicatrizes afundado na água, ainda de olhos fechados ela se lavou rapidamente, molhando os cabelos fazendo uma concha com as mãos, ela nunca abria os olhos, não queria se ver, não queria encarar o que agora era.

Esfregando o corpo de olhos fechados, ela podia sentir a textura de cada cicatriz, cada marca permanente em seu corpo que nunca poderia ser esquecida.

- Gosta disso, querida?

Não importava quantas lágrimas derramasse ou quantas súplicas saíssem de seus lábios, Lilith estava sem salvação.

Fechando os olhos com mais força a ponto de doer, ela se levantou e enrolou o corpo em uma toalha rapidamente, se secando o mais rápido que pode e com sua magia que a pouco tempo foi libertada, ela abriu os bolsões mágicos do tempo, retirando seus pertences de lá, sabendo que não teria um lar para onde ficar, e que sempre estaria vagando pelo mundo ela assim os guardou.

Vestiu roupas simples de uma guerreira comum, calças pretas largas, camiseta de linho com mangas compridas e gola alta, dessa vez colocou um corselet de couro, amarrando os fios em suas costas apertando os seios e sua barriga, penteou os cabelos molhados e os deixou soltos e novamente colorou sua máscara.

Assim então ela pode abrir totalmente os olhos.

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Assim que saiu para fora do quarto, virou a cabeça para o lado, os cabelos foram para sobre seus ombros com o movimento brusco, ela tinha visto a porta ao lado do seu antes de entrar, realmente não tinha lhe chamado a atenção no momento, mas o cheiro que agora ali chegava até suas narinas a chamou atenção. Ela se aproximou da porta, nada lá dentro se era ouvido, nem mesmo o bater de um coração.

Ela se afastou balançando a cabeça, ignorando os pensamentos impróprios que o cheiro suave lhe trouxe, se virou de costas e então caminhou descendo as escadas.

A cada passo mais ela podia sentir, mais sussurros podia ouvir, seu cheiro, o som forte de um coração. Ela sentia tudo e ainda mais, nunca sentirá isso antes por alguém, nunca seus sentidos ficaram tão aflorados por um simples cheiro e sussurros contra o vento.

Todos viram quando Lilith saiu da escuridão, mostrando as curvas de seu corpo que não eram mais escondidos por uma longa capa, a luz da sala iluminado metade do seu rosto descoberto, os olhos, tanto quanto o totalmente branco, e tanto quanto o verde profundo brilhando.

Azriel que se mantinha de costas, ficou rapidamente gelado com o cheiro que bateu contra seu rosto após respirar fundo, as sombras que antes sussurravam pareciam gritar para ele nesse momento, cheiros e sensações mais afloradas.

Ele então, olhou por cima dos ombros, os olhos avelãs encontraram os olhos de cor diferentes, ele sentiu tanto quanto ela.

Sua boca se entre abriu em falta de ar, sua mente fervilhando com acontecidos rápidos e repentinos, Lilith o encarou uma perversa curiosidade, inclinando levemente a cabeça para o lado.

Azriel sabia que Lilith era sua parceira. Mas ela nem mesmo sabia o significado dessa palavra e o quanto ela importava. Lilith não sabia que naquele momento, ela se tornou o maior desejo de Azriel, o mundo dele.

Ela então disse:

— Continue me olhando como um pervertido idiota igual o seu amigo, e dessa vez. Um de vocês não terá olhos para se quer ver outra coisa.

Sombria Solidão | ᵃᶻʳⁱᵉˡOnde histórias criam vida. Descubra agora