CAPÍTULO 2

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Fiona abriu a porta da clínica de imagem e olhou bem ao redor. Sheyla era esperta, a clínica estava bem localizada, mas a pintura descascada das paredes, as cadeiras velhas e a tv desligada, demonstrando que não funcionava, gritava que aquele lugar estava prestes a fechar.
A recepcionista mexia no celular e nem ergueu os olhos quando Fiona se aproximou do balcão.
"Bom dia." Fiona usou seu tom mais doce.
"Horário?" A moça disse. Ela seria bonita se não tivesse uma argola no nariz, nas sobrancelhas e orelhas. Fiona contou oito argolas.
"Eu não tenho horário marcado. Estou aqui, por que acredito que minha filha esteve aqui. Eu preciso conversar com quem fez o exame nela."
A recepcionista sorriu, e balançou a cabeça incrédula. Mães ricas e suas filhinhas safadas. Era o que estava escrito nos olhos dela. Ela não poderia estar mais longe da verdade, mas era exatamente o que Fiona queria que ela pensasse.
"Não posso te ajudar." A cara da recepcionista dizia que podia sim, mas por um preço, é claro.
Fiona passou uma nota de cem dólares pelo balcão. A outra só ergueu as sobrancelhas furadas com argolas. Fiona passou mais duas notas de cem. As sobrancelhas da outra continuaram erguidas.
Fiona colocou mais três notas de cem. E ergueu as suas sobrancelhas com desdém. A moça pegou as notas.
"Nome?" Ela mascava chiclete de forma ruidosa. Parecia uma vaca.
"Sheyla Barclay." Fiona não acreditava que Sheyla usaria seu verdadeiro nome.
"Ultrassom obstétrica, feita pelo Arnold. A sala dele é ali. Vai precisar de mais incentivo."
"Eu já imaginava. Obrigada, Querida." Fiona bateu na porta suja e quando foi autorizada a entrar, a abriu.
"Bom dia." Ela disse.
O homem a olhou dos pés a cabeça, demorando com o olhar nos seios dela.  Um pervertido, tudo nele indicava isso.
"Bom dia. Pode usar o banheiro ali. Tire toda a roupa." Ele lambeu os lábios depois de falar. Sheyla devia estar desesperada para deixar um homem nojento daqueles tocar nela. Coitada!
"Não estou aqui para isso. Preciso do exame que minha filha fez aqui. O nome dela..."
"Não posso te ajudar." Ele disse. Sério? Fiona pensou. Eles deviam ser subornados o tempo todo.
Fiona tirou um bolo de notas de cem da bolsa e passou a ele. Ele começou a contar o dinheiro, e antes de terminar se sentou numa mesinha lateral e ligou o computador.
"O nome dela é Sheyla Barclay." Ele digitou alguma coisa, a impressora fez um barulho e as folhas impressas foram saindo.
"Quer que destrua o registro?" Ele perguntou. Fiona  tirou mais notas da bolsa e lhe entregou. Ele passou a impressão para ela, e Fiona saiu.
Na recepção, a moça estava com a cabeça sobre os braços cruzados apoiados no balcão. Fiona disse adeus e saiu. Tudo resolvido.
No carro, antes de dar a partida, ela se rendeu a curiosidade e olhou o exame.
Gêmeos! Dois meninos idênticos! Ela sorriu com ternura. Sheyla teria dois menininhos lindos. Fiona esperava que puxassem os olhos da mãe.
A imagem era muito boa. Fiona sorriu. Sheyla alterou a data de sua última menstruação e a idade gestacional foi calculada em trinta e oito semanas. Havia uma nota do operador do ultrassom sugerindo procurar o médico obstetra, pois os bebês tinham um tamanho anormal.
Fiona dirigiu até seu apartamento, num prédio bonito, em uma rua agradável.
Abriu a porta e chamou:
"Filha! Cheguei." Ela tirou as folhas impressas da bolsa e se dirigiu ao banheiro.
"Sheyla, gêmeos! Que incrível!" Sheyla torceu a boca e a olhou feio.
"Você não devia ter feito isso Fiona. Eu dei muito dinheiro a eles, não precisava ir lá!"
"Você me contaria? Acho que não. Você é uma ingrata, Sheyla."
Ela saiu da banheira. A barriga estava enorme, cheia de estrias. Não era uma visão bonita, Sheyla era magra e pequena. A barriga parecia falsa. Fiona não conseguiu esconder uma expressão de surpresa.
"O quê? Eu sei estou horrível!"
"Querida, tenha coragem. Logo esse sofrimento vai acabar. Dois meninos! Idênticos!"
Fiona sorriu e saiu. Ela deveria querer comer.
"Vou cozinhar alguma coisa bem gostosa pra vocês."
Na cozinha, ela abriu uma grande embalagem de carne, picou em pedaços pequenos e jogou numa panela com óleo, alho, sal e temperos. Como suspeitava, o cheiro atraiu Sheyla. Ela apareceu vestida num pijama, se sentou com dificuldade no balcão, a barriga enorme só lhe permitindo sentar de lado na banqueta.
"Coma tudo, querida. Você precisa ficar forte pra colocar esses lindinhos no mundo." Fiona cantarolou. Estava tão feliz!
Tudo estava dando certo. Christie estava cada vez mais dependente dela na empresa. Era muito trabalho, a boa secretaria acabava deixando várias decisões importantes para Fiona decidir. Fiona nunca se sentiu tão importante.
E agora, faltava pouco para Sheyla dar a luz. Ela estava com medo, mas Sheyla era forte. Os bebês ficariam bem.
Observou Sheyla comendo. Ela não confiava em Fiona, mas como Sheyla não era de confiança também, não havia problema.
O importante era que ela estava em um momento único em sua vida. E logo iria para a Reserva visitar Vengeance. Eles estavam se falando mais agora, Fiona podia jurar que estava derretendo o coração dele.
Fiona suspirou, o tempo era o melhor conselheiro. Ela foi paciente e esperou, agora seus sonhos estavam prestes a se realizar.
"Estou satisfeita, Fiona, obrigada." Sheyla tentou se levantar mas seus pés ficavam longe do chão naquela banqueta alta.
"Deixa que eu te ajudo, querida." Fiona segurou a mão de Sheyla e a firmou até que ela pôs os pés no chão.
Assim que a soltou, uma dor explodiu em sua barriga. Sheyla a olhava, o olhar tão duro e frio quanto o de seu pai.
O sangue brotou, enxarcando sua blusa, a dor era terrível. A visão de Fiona foi escurecendo nas bordas e ela caiu no meio do sangue que formava uma poça no chão.
"Sheyla? Por que?" Fiona ainda conseguiu sussurrar.
"Porque não sou idiota. Eu posso até morrer, mas você não vai ficar com os meus bebês."

TORRENTOnde histórias criam vida. Descubra agora