CAPÍTULO 4

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Grace sorriu para Violet segurando Tempest. Ela era magrinha, mas muito forte se conseguia segurá-lo. E ela ainda não tinha quatro anos! Grace ainda ficava impressionada com o tamanho e a inteligência delas. E a beleza, claro. Elas pareciam duas bonecas, com os cachos ruivos e os olhos azuis.
Storm choramingou ainda dormindo. Melhor alimentá-lo antes que ele começasse a chorar. O choro dele faria Tempest chorar também.
"Sua mãe deve ser a melhor mãe do mundo. É muito cansativo amamentar. Quando um acaba, o outro começa." Grace disse ajustando Storm em seu colo. Mesmo dormindo, ele encontrou o seio e começou a sugar.
"Ela me amamentava junto com Daisy, cada uma num seio. Mas ela disse que foi por que nós duas somos quietinhas."
Grace ficou pensando se ela conseguiria amamentar Storm e Tempest ao mesmo tempo. Definitivamente não. Storm já tinha arranhado o rosto de Tempest, e olha que eles tinham apenas três dias.
"Vocês tinham quantos meses quando começaram a andar?"
Violet franziu o narizinho exatamente igual ao seu irmão. Grace se lembrou do olhar sinistro que Simple a encarou no dia anterior. Ela não tinha contado para Violet. Tinha decidido ir embora, não valia a pena preocupar sua pequena amiguinha.
"Uns quatro meses, eu acho. Nós, fêmeas, temos um desenvolvimento mais lento que os machos. John começou a andar com um mês."
Um mês? Daqui a um mês Tempest e Storm estariam andando já? Era assustador. Violet acariciou o rostinho de Tempest.
"Você ainda quer ir embora? Por que você não fica aqui, Grace? Meu tio V. é o macho mais bondoso que eu conheço, ele ia adorar conhecer Tempest e Storm. Ele também é o macho mais respeitado, até mais que o meu pai. E olha que o meu pai é o macho mais forte daqui. Bem, Silent é maior que ele, mas Silent não tem coragem de matar uma mosca."
"Por que acha que Vengeance me defenderia?" Ela quase tinha feito Torrent matar Charlie. E, Peter estava com Charlie agora.
Violet deu de ombros
"Você é filhote dele, você é uma de nós, e Charlie se preocupou muito com você, meu irmão James passou dias te procurando, por que ela disse que você a ajudou. Charlie tem um bom coração."
Seria uma boa mentira, dizer que era filha de Vengeance, mas ela não era. Um simples teste de DNA atestaria isso, então, era melhor dizer a verdade.
"Não sou filha dele, Violet. Meu pai era humano e minha mãe era Nova Espécie. Ele a engravidou quando os Novas Espécies ainda estavam presos nas instalações."
A menina a olhou e fez uma carinha de pena. Colocou Tempest na cama improvisada, o virando de lado, como uma pessoa com experiência em cuidar de bebês faria.
"Eu sinto muito se ele mentiu para você, Grace. Mas você é filhote de Vengeance. Meu faro é tão bom quanto o do meu irmão e meu faro diz que você é filhote dele, irmã de Hunter."
Seu pai poderia ter feito isso? Não, Grace tinha certeza. Violet era apenas uma criança. Muito inteligente, mas apenas uma criança.
"Seu faro não é tão bom quanto o meu, Violet. É muito bom, mas não chega ao nível do meu, e não se esqueça disso." Grace olhou para a porta e lá estava Simple parado com os braços cruzados.
Violet chiou como um gato, mostrando suas presas.
"Vá! Daisy já está cansada de ficar trocando de roupa e se passando por você. A caçada já está quase no fim."
Ela se abaixou colocando uma mão a frente do corpo e dobrando um joelho. Chiou de novo, dessa vez mais alto.
"Não sou Candid, ou Honest. Se me atacar vai se arrepender." Ele falou baixo, seus olhos dourados frios e duros.
"Grace, não vá embora. Nós te ajudaremos. Meu pai te receberia em nossa casa e te protegeria." Ela disse com ternura em seus olhos azuis.
"Ela não irá embora." Simple disse, seco. Violet acenou e se foi.
"Arrume suas coisas. Vamos para a casa de meu tio V." Ele disse já calculando quantas coisas, Grace teria que levar. Havia uma bolsa num canto e ele a pegou e estendeu para Grace.
"Não vou sair daqui. Quer dizer, vou embora, ninguém nunca mais vai saber de mim."
Ele riu e balançou a cabeça.
"Você vai sair desse lugar esquisito e ir comigo. Não me faça chamar o seu irmão. Seria muito drama, e eu odeio drama. Como diz meu pai, Hunter anda muito com Flame."
"Não vai chamar ninguém, você é só uma criança." Grace colocou Storm na cama ao lado de Tempest, do jeito que viu Violet fazer.
Ele tirou um celular do bolso e digitou alguma coisa. Grace usou sua agilidade e deu um bote na mão dele.
Não conseguiu pegar nada, o pestinha desviou a mão.
"Você ainda está frágil, acabou de dar a luz. Não me faça machucar você."
Ele disse no mesmo tom que usou com a irmã. Os olhos dele tinham um brilho frio e cruel.
E ele tinha razão. O parto não foi fácil. Grace sentiu muita dor, Tempest, o primeiro a sair, a rasgou. E Grace tinha de admitir que ela estava com medo dele. Muito medo.
Ele inspirou fundo.
"Isso, tenha medo, Grace. Eu não vou deixar você escapar dessa vez. Tudo o que aconteceu com Charlie foi culpa minha, por que não contei quem você era. Agora vou consertar isso. Pegue suas coisas." A voz dele causava calafrios nela. Grace olhou seus bebês, dormindo tranquilamente. Ainda havia uma chance de escapar.
Ela se aproximou da bolsa, como se fosse colocar algo dentro, mas rapidamente pegou um dos frascos de tampa rosa e jogou no chão, prendendo a respiração.
O vapor subiu, fazendo os olhos dela arderem. Ela olhou para o menino e ele se sentou calmamente no tronco que fazia as vezes de cadeira e se apoiou na mesa velha que havia ali.
Grace ficou olhando abismada para ele, quando sorriu com os lábios bem fechados. Ele também estava prendendo a respiração!
Mas a resistência de Grace era muito boa. Ela podia ficar horas sem respirar.
Havia um papel e um lápis sobre a mesa, Simple escreveu alguma coisa e levantou o papel.
Ele escreveu a palavra 'horas' com uma interrogação.
Grace levantou três dedos. Ela mentia, conseguia ficar mais de cinco horas prendendo a respiração.
Ele franziu o nariz.
Escreveu o número 15 e sorriu com os lábios apertados.
Ele podia estar mentindo. Mas se não estivesse, Grace e seus bebês ficariam desacordados a mercê dele.
E Grace estava fraca, ainda sentia dor no meio das pernas, a ampola da droga de regeneração que estava no meio das substâncias de Michael não parecia estar fazendo efeito.
Simple voltou a rabiscar alguma coisa no papel. Dessa vez, era a palavra 'hospital', novamente com uma interrogação.
Ela fez que não com a cabeça. Não ficaria no hospital deles, os médicos poderiam matá-la. Ela não arriscaria.
O tempo foi passando, Grace ficou preocupada com os bebês. Eles dormiam. Será que poderiam ter uma reação alérgica aquela substância? Grace olhou seu relógio de pulso. Duas horas tinham se passado.
Simple desenhava agora. Ele podia ter chamado alguém, mas não chamou. O que planejava?
Ele levantou o desenho. Eram Tempest e Storm no colo do pai deles. O desenho estava muito bem feito. O pai e os meninos sorriam como se estivessem bem felizes. Ela não estava no desenho. Era uma mensagem, uma ameaça. Queria dizer que sabia quem era o pai e que ela não faria parte da família feliz deles.
Ele levantou as sobrancelhas. Grace estava esgotada, seus pulmões ardiam, sua vagina estava em chamas, e o pior de tudo era o medo por seus bebês estarem respirando aquela substância.
Simple nem parecia suar.
Grace foi até a bolsa e abriu o frasco de tampinha vermelha e o sacudiu. Logo uma fumaça branca tomou o ambiente e depois se esvaneceu.
Ela e Simple continuaram prendendo a respiração, mas ela se rendeu primeiro. O ar, porém, estava limpo. Grace sugou o ar com força. Seus pulmões doeram. Ela se curvou em agonia. Simple olhava o sofrimento dela sem nenhuma reação.
"Você venceu. Onde vamos?" Ela disse ofegante. Cada respiração parecia uma facada no peito dela.
Ele se levantou e inspirou levemente.
"Pra minha casa, é claro. Eu te ofereço a proteção da minha família, dessa forma, o pai não vai te tomar os filhotes."
Ela acenou. Ele tinha um preço, ela sabia. Mas se ele cumprisse a palavra, ela daria o que ele quisesse.
"Tenho dinheiro, diga seu preço."
Ele riu, seus olhos mostravam desdém.
"Também tenho dinheiro. Quero os frascos."
Grace suspirou. Quantos anos aquele pirralho tinha?

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