CAPÍTULO 35

757 120 4
                                    

Torrent uivou ao gozar e Grace e sentiu dissolver. Eles estavam presos, ela o apertando, ele mais grosso na base. Era como se nunca pudesse enjoar dessa sensação. Mas a parte ruim que era quando ele finalmente saía de dentro dela aconteceu. Ele a ajudou a se levantar e arrumar a roupa.
Continuaram a caminhada e logo uma voz se fez ouvir.
"O recado era que Dusky queria ver Grace, não você e Grace, Torrent." Ela parou olhando para os lados. Não via ninguém.
"Ou vou com ela, ou ela não vai, Blue." Torrent disse olhando a direita. Grace olhou na mesma direção e não viu nada.
"Onde ele está?"
"Ele está muito alto. Você teria que baixar sua cabeça toda pra trás para ver. E não importa. Se eu não for, você não vai."
"Por quê? Você não confia em Dusky?"
Ele olhou para as mãos.
"Eu confio, mas..."
"Não confia em Blue, então?"
"Eu confio em Blue, eu só não quero que você saia das minhas vistas."
"Mas você não é meu dono, Torrent. Eu posso muito bem tomar minhas decisões. Ou você não me respeita o suficiente?"
"Eu..." Ele mudou o peso do corpo de um pé para outro. Grace segurou a vontade de rir.
"E você não pode estar junto comigo em todos os momentos."
Ele assentiu de má vontade.
"Eu assumo daqui, Torrent, antes que você fique ainda mais desmoralizado. Venha, querida." Um homem enorme, com olhos azuis claros e uma mecha de cabelo azulado entre os fios negros sorriu para Grace enquanto indicava um caminho. Ele vestia uma calça de moletom semelhante as de Torrent.
"Vocês deviam tomar conta das suas vidas." Torrent disse para ninguém em particular.
"Com quem você está falando?" Grace perguntou.
"Com qualquer intrometido que estiver ouvindo. Leve ela de volta, então, Blue." Torrent se aproximou e deu um beijo leve nos lábios de Grace. Mesmo sendo um gesto breve, o interior dela se agitou com desejo. Ele fez o que ela costumava pedir para não fazer, pulou numa árvore e sumiu por entre os galhos. Logo ela ouviu o barulho dele se afastando pulando de galho em galho.
"Todos nós, moradores da zona selvagem gostamos de nos locomover pelas árvores, eu acho mais rápido." Blue explicou
"Por aqui." Havia um caminho entre as árvores e ele e Grace entraram por ele.
A esquerda, uma cabana grande e aconchegante com um homem baixinho parado na porta surpreendeu Grace.
Ela subiu os degraus e ficou frente a ele, mas seus olhos olhavam em outra direção. Ele inspirou e voltou os olhos na direção dela, eram olhos azuis pálidos de cego.
"Prazer em conhecer você, Grace. Eu estava curioso em te conhecer. Pena que você cheira a Torrent por cada centímetro de sua pele, consigo captar muito pouco de seu próprio cheiro, mas ainda assim é o cheiro de uma pessoa boa. Sente-se. Eu costumo receber minhas visitas na varanda, pois consigo um pequeno vislumbre delas com a luz do sol, mas se você quiser entrar, é só dizer."
Ela ia balançando a cabeça negando, quando se lembrou que ele era cego. Era possivelmente o homem com o rosto mais perfeito que ela tenha visto na vida. Lindo como um anjo.
"Aqui está ótimo, Dusky. E obrigada por dizer que sou uma pessoa boa. Eu, ultimamente tenho sentido o peso das minhas más escolhas." Era verdade. Grace agora queria paz e ser feliz com sua família, mas ela não conseguia esquecer tudo o que fez.
"E foi por isso que Vengeance me pediu para termos essa conversa."
"Ele foi embora, não foi? Eu não tenho o faro de vocês, mas sinto que ele não está aqui."
O homem balançou a cabeça.
"Sim, ele se foi logo que passou por aqui. Acho que ele aproveitou o piloto do senhor Delacour." Blue respondeu oferecendo a Grace um prato com carne, azeitonas, tomates e queijo. Ela comeu, era uma combinação diferente do que ela estava acostumada, mas muito gostosa.
"Dusky, você não vai me deixar conhecer a Grace?" Um homem tão grande e forte como todos eles apareceu na varanda, subiu os degraus e olhou descaradamente para Grace percorrendo o corpo dela com um olhar de cobiça.
"Grace, esse é Bells. Parece que seu irmão, Silent, disse para ele que se Torrent não a tratasse bem, ele poderia desafiar Torrent para ficar com você e seus filhotes." Dusky disse com um ar de diversão em seu rosto. Blue tinha um leve sorriso de lado na boca.
Ele tinha a pele muito bonita, muito escura, lisa, sem pelos. Seu rosto tinha as feições bonitas dos felinos, com olhos tão dourados que pareciam amarelos. Seu cabelo castanho claro com mechas douradas conseguia ser mais comprido que o de Torrent, passando da bunda. Ele tinha presas muito grandes e parecia ter dificuldade de fechar a boca por causa delas. A Reserva tinha originalmente sido comprada para ser lar dos que tinham os genes animais mais pronunciados que os outros, ou para os que tinham problemas em viver em comunidade. Bells parecia ser as duas coisas.
"Eu ouvi como ele a trata, como se fosse dele, mas sem acasalar com você. Eu acasalaria agora com você se você quisesse. Ouvi dizer que você ficou muito feliz com mais uma filhote, eu te deixaria grávida quantas vezes você quisesse. Poderíamos ter mais filhotes que Valiant." Ele dizia muito sério. Grace pensou em uma forma de dizer que não estava interessada, sem magoá-lo.
Ela se levantou da cadeira, deu dois passos e pegou em sua grande mão, com unhas enormes.
"Eu..." Ia dizer que ficava lisonjeada com a proposta, mas assim que tocou nele, ela sentiu sua solidão, sua dor por não ter a aparência certa e também viu toda a rejeição que ele já tinha sofrido.
"Tudo bem. Silent cismou que Torrent olhou para Emma com más intenções. Mas pelo cheiro dele em sua pele, tenho que reconhecer que você é dele, mesmo ele sendo idiota e não acasalando com você rapidamente. Você o ama, Grace?"
"Sim! Eu o amo demais, Bells. E não desista, viu? Ainda vai demorar, mas vejo alguém para você. Uma linda mulher jovem com olhos azuis, tão azuis quanto as águas do lago num dia bem quente." Grace se sentiu bem ao dizer isso. Muito bem!
Ele sorriu. Era muito bonito com os cabelos claros, a pele negra e os olhos amarelos.
"Obrigada. Sabe, eu sempre tive vontade de ter uma irmã, será que Torrent se importaria se você fosse minha irmã, igual Vengeance é pai de Silent?"
Grace pensou no olhar assassino que Torrent lançou em Blue, quando ele apareceu e na briga que ele teve com Leo. Olhou para Blue, que deu de ombros.
"Você vai ter de esperar eles acasalarem, amigão. Assim, Torrent terá certeza de que você quer ser irmão, não companheiro dela."
Ele pareceu entender.
"Certo. Mas desde já a considero minha irmãzinha." E saiu. O andar dele era poderoso. Grace pensou numa pantera negra ao  vê-lo se afastando.
"Somos carentes de ligações familiares, Grace. Você, depois de Tammy, será companheira de um dos nossos. Cada macho desse lugar vai querer algum tipo de ligação com você." Dusky disse ao se sentar numa namoradeira e bater ao lado convidando Grace a se sentar ao seu lado.
Grace se sentou e ele estendeu sua mão. Era uma mão pequena, mas com os calos característicos dos Novas Espécies.
"Você foi criado como as fêmeas presente?" Grace perguntou. Novas Espécies foram criados para serem super soldados, ele era pequeno e magro.
"Não. Eu fui a experiência piloto do que fizeram com você."
Grace não entendeu.
"Como assim? Ninguém fez nada comigo!" Ele apertou a mão dela e ela teve que fechar os olhos tal a sensação ruim que sentiu.
E ela se viu. Pequena, um bebê. Se contorcendo enquanto seu pai, Karl Brennan anotava algo num caderno. Grace se forçou a abrir os olhos.
"Eles testaram muitas coisas em nós, querida. E tirando sua herança psíquica herdada de Vengeance, conseguiram anular todos os seus sentidos. Fizeram o mesmo comigo. Eu nasci um bebê grande e perfeito como todos nós, eu inclusive enxergava. Mas decidiram testar o que aconteceria se pudessem inibir o crescimento e o desenvolvimento de nossos sentidos. Não perdi meus sentidos apurados, mas meu crescimento ficou atrasado e não cheguei ao tamanho e força dos meus irmãos. Quando viram que não diminuíram meu potencial de faro, visão e audição, me cegaram."
Ele falava com seus pálidos olhos fixos nos dela. Sem emoção, como se recitasse uma receita de bolo.
"Eu sinto muito." Grace sentia mesmo. E um ódio ia brotando do fundo de seu ser. Ódio do pai, da Mercille e até de Fiona. Max e David eram só a ponta do iceberg. Ela iria ter sua filha e depois ia acabar com todos eles.
"Eles vão pagar! Eu te juro, Dusky. Vou ter a minha filhinha e depois vou fazê-los pagar, e com juros!"
"Sei que te fizeram mal, querida. Mas não faça nada por mim. Eu tive a minha chance de ser feliz e a agarrei. Tenho uma vida maravilhosa, Grace. Não preciso de mais nada, tenho tudo que muitas pessoas jamais vão ter."
Ele disse e Blue, que estava sentado em uma cadeira próxima, se levantou, deu alguns passos e se ajoelhou ante Dusky o beijando na boca de forma breve, mas muito íntima. Grace os olhou e sentiu o amor puro dos dois, era simples e bonito.
"Mas você não acha que devem pagar pelo que fizeram?"
Ele sorriu, travesso. Grace entendeu que caiu em suas próprias palavras. Se todos tinham que pagar, ela também tinha.
"O que posso fazer para me redimir?"
"Acho que o bem que estiver ao seu alcance, como acabou de fazer para Bells. Você tem o dom de seu pai, mas ao contrário dele que o rejeita, você sempre o abraçou, acho que por necessidade, já que sempre foi uma fêmea danada." Ele sorriu e Grace sorriu de volta, se lembrando tarde demais que ele não poderia ver seu sorriso.
"Eu posso ver seu rosto bonito, meio desfocado, mas posso. E entendo por que Torrent foi enfeitiçado, você tem um sorriso lindo, bonequinha."
"Gostei que você me chamou assim. Só Torrent e meu pai usam esse apelido. Espero que você e Blue também o usem."
"Será uma honra, bonequinha." Blue disse.
"Ficamos sabendo que seus filhotes têm madrinhas mas não padrinhos. Haverá um torneio?" Blue mudou de assunto, percebendo que as coisas estavam sentimentais demais.
"Não. Violet e Daisy me fizeram prometer que os padrinhos de Tempest e Storm serão os machos que acasalarem com elas, então, eles só conhecerão seus padrinhos daqui a uns bons quinze a vinte anos."
"Fêmeas espertas. Quem acasalar com elas já ganha um afilhado de brinde." Dusky disse e riu alto. Ele era lindo, inteligente e tinha um ótimo censo de humor.
"Eu agradeço por me desvendar esse mistério, Dusky. Não entendia porque sou tão diferente."
"De nada. Mas há outra coisa que você precisa saber e esse é o motivo de Blue não deixar Torrent vir, e foi por isso que seu pai pediu que eu te contasse."
Grace sentiu uma indisposição. Não devia ser algo bom.
"Nós somos muito suscetíveis a essas drogas, pois fomos expostos a elas muito novos. Você vai continuar ligada sexualmente a Torrent, Grace. A luxúria agora está entranhada em você. Se não lutar contra isso, os efeitos nocivos vão te dominar e você se tornará viciada em sexo. Essa foi a última droga que testaram em mim. Era uma versão diferente da sua, mas teve o mesmo efeito. A minha sorte foi que eu tenho predileção por machos, isso me ajudou a me controlar uma vez que a droga é reprodutiva, então só age em relações heterossexuais. Mas eu ainda sinto os sintomas quando uma fêmea se aproxima."
Grace não conseguiu desviar o olhar da virilha dele, e viu assustada o culto de uma grande ereção, mesmo que ele a prendesse com as pernas. Ela ficou vermelha, sentiu seu rosto queimar.
"Me desculpe."
"Não tem problema, querida. Eu e Blue encaramos a realidade como ela se apresenta. É uma reação física e só isso." Ela olhou para Blue e os olhos calmos dele a acalmaram.
"Mas eu devia ficar excitada então por qualquer um, mas eu só quero Torrent, só ele." Era verdade. Pensar em qualquer outro a tocando lhe causava até náuseas.
"É uma droga diferente, meu bem. E temos de colocar sua mente poderosa na equação também. Seu coração, seu amor, seus filhotes, tudo ajuda a te focar. Mas tenha cuidado. Você é atraente, e a droga sempre vai potencializar isso. Torrent é possessivo, seja sempre franca e tenha cuidado com outros machos, ok?"
Ela se levantou. Tinha de pensar, processar todas essas informações.
"Eu já vou indo, tenho de buscar meus bebês na casa de Silent."
"Vamos, então. Vou buscar o jipe. Sua gravidez não era de risco? Por que o imbecil do seu companheiro a trouxe andando?"
"Eu e ele gostamos de caminhar por aqui. E eu já tive alta da doutora, posso fazer longas caminhadas sem problema. Meus bebês também gostam de andar."
Ela deixou de dizer que ela e Torrent gostavam de transar no meio das árvores.
Blue ligou o jipe e ela ia subindo, quando os trigêmeos apareceram vestidos como os sobrinhos do pato Donald: Simple de vermelho, Candid de azul e Honest de verde.
"Olá, Grace!" Eles disseram ao mesmo tempo.
"Oi! Que pena que estou de partida, vejo vocês depois."
Simple sorriu maldosamente.
"Podemos ir comer pizza na sua casa mais tarde, o que acha?" Grace se arrepiou toda. Não era um pedido.
"É claro!"
"Então, até mais tarde." Candid disse com o mesmo sorriso maldoso nos lábios.
Blue deu partida, quando estavam longe, Grace perguntou:
"Eles não fingem diante de vocês, não é?"
"Não, graças a Dusky. Seus sentidos são tão impressionantes quanto os deles, e eles entendem isso."
"Vocês sabem porque eles são assim?"
"É claro!" Blue disse, mas não falou mais nada até chegarem na casa de Silent. Lá dentro uma música infantil soava alta e seus gêmeos, Sunny, Emma, Silent e até Torrent cantavam junto.
"Você vem?" Ela desceu. Sentia uma saudade absurda de Torrent e de seus filhos.
"Não, obrigado. Eu e Dusky somos o equivalente a velhos rabugentos aqui."
Ele sorriu e deu partida.

TORRENTOnde histórias criam vida. Descubra agora