Michael respirou fundo. Que porra ele tinha feito? O olhar idêntico de crueldade dos garotos lhe causava calafrios. Eles estavam paralisados, mas não havia garantia de que continuariam imóveis até que Max Hunter aparecesse. E será que estavam mesmo sozinhos? Michael olhava pelos vidros sujos das janelas a todo instante. Ele teria de fugir, Vengeance o mataria sem misericórdia se o encontrasse. Por que não pensou antes de ligar para Max?
"Sonya, já acabou? Quando Max chegar temos que sair imediatamente." Sonya, na cozinha, não respondeu. Ela estava velha, se seu cheiro não ajudasse a despistar a valeriana, Michael já teria se livrado dela.
"Sonya!" Michael se dirigiu a cozinha. Ficar olhando aqueles meninos malvados o deixava nervoso.
Entrou na pequena cozinha e não viu Sonya. Onde aquela velha estaria? Se dirigiu a área de serviço e ela também não estava lá. A porta da cozinha se fechou e ele soube. Eles não estavam sozinhos.
Mãos fortes lhe envolveram o pescoço e Michael sentiu o ar lhe abandonar. Era isso, seu fim.
"Eu poderia acabar com sua vida agora, bastaria torcer esse seu pescoço fino de bicha. Mas não sou um assassino. Meu tio Vengeance, porém..."
Michael não podia ver quem era, mas não precisava, não importava. Devia ser um dos irmãos dos pestinhas, grande e forte como o pai deles.
O aperto continuou e Michel sentiu sua consciência o abandonar. Pelo menos não deu o antídoto que eles vieram buscar. Eles não saberiam onde ele guardava seus frascos, ou qual frasco seria.Ao recuperar a consciência, Michael não abriu os olhos de imediato. Continuou imóvel, tentando descobrir algo que pudesse usar para fugir. Ele inspirou levemente e notou que não estava em seu esconderijo.
"Sua respiração mudou doutor, sabemos que você já acordou." Não era a voz que pensou que ouviria. O suspiro de alívio, porém ficou preso na garganta, pois o cheiro que sentia indicava que estava em algum lugar no meio do mato. Na Reserva?
"Sabe, meu irmão nos surpreendeu. Pensávamos que você levaria a melhor, mas aqui está você ao nosso dispôr."
Uma dor aguda e insuportável partindo de sua nuca o fez ver estrelas. Deviam estar lhe perfurando o nervo do ombro.
"Isso é só o começo, doutor, meu tio não vai demorar a aparecer e aí, quando contarmos que você tentou trocar o antídoto pelos netos dele..."
Ele tentou se erguer, mas estava algemado numa cama. Os trigêmeos sorriam com suas carinhas adoráveis pra ele. Michael respirou fundo. Eles gostavam de ter o poder, talvez pudesse ir por aí. Colocar um contra o outro não seria possível, eles não competiam entre si, eram uma força unida.
"Então chamaram Vengeance? Não são capazes de lidar comigo sozinho? Precisam do titio?" Um deles franziu o narizinho, eles eram crianças tão bonitas!
"Talvez nós..."
"Cale a boca, vamos esperar nosso tio."
"Podemos conseguir o que quisermos com ele, por que esperar?"
Michael reprimiu um sorriso. Eram crianças afinal.
"Não sei... Nunca tivemos a oportunidade de torturar ninguém, quando vamos ter alguém assim, que ninguém se importaria se arrancassemos as unhas?" Michael suou frio. Eles não fariam, só não podia demonstrar medo.
"Podemos cegá-lo derramando óleo quente nos olhos dele, seria um bom castigo, acho que nosso tio não contaria pro nosso pai."
Michael sorriu. Estavam brincando com ele, não tinham coragem de fazer nada dessas coisas.
"Ou podemos arrancar as bolas dele. São tantas opções..." Eles falavam com expressões e vozes idênticas, Michael estava ficando tonto ao olhar para um ou para outro.
"Medo. Existe cheiro mais fedido que este? Mas pra nós é como perfume." Eles inspiraram fundo e sorriram. Os olhos dourados eram frios, calculistas e cruéis. Michael teve certeza de que não estavam brincando. Quase preferia não ter tentado manipulá-los.
Um deles pegou sua mão, Michael se contorceu, mas era como se tivesse prendido sua mão num torno. A unha do indicador começou a doer e Michel gritou. Como podia doer tanto?
"Vou tentar também, parece legal." O outro disse como se falasse sobre experimentar um brinquedo. E agarrou a outra mão de Michael. Ele urrava agora, o primeiro já tinha arrancado a unha do indicador, agora estava no dedo médio.
"Por favor, por favor, parem com isso!" Onde estava Vengeance? Qualquer um era melhor que aqueles meninos.
Michael gritava, eles não pararam. O outro ficou ao pé da cama observando.
"Nosso tio vem vindo, parem." Michael estava rouco de tanto gritar, suas mãos queimando de dor.
Vengeance entrou no lugar e seus olhos cristalinos o miraram sem demonstrar surpresa ou algum outro sentimento.
"Por que ele está tão fedido?"
"Ele armou pra nós, iria nos entregar para Max Hunter. Estamos mostrando que ele nunca devia ter se metido com a gente."
Um brilho de orgulho passou pelos olhos azuis gelados. Michael sentiu toda a esperança de sair vivo dali virar fumaça.
"Bom. Arrancaram as unhas? Só?"
"Sim. Não somos tão maus, tio. Pensamos que você poderia não gostar se a gente fizesse alguma coisa ruim."
Coisa ruim? Ele ficaria sem poder fazer nada com as mãos por muito tempo, a dor era insuportável.
"Vocês são apenas crianças, leãozinhos. Deixem que um adulto mostre a esse merda que não se deve mexer com os Novas Espécies."
Ele se ajoelhou e eles o rodearam, o abraçando e cheirando seus cabelos. Ele beijou cada um na testa e eles se foram. Michael sentiu um alívio momentâneo.
"Incríveis, não é? E ainda vão fazer seis anos, já imaginou quando forem adultos?"
Michael suspirou. Taí uma coisa que poderia dizer que talvez tivesse algum valor:
"Eles talvez se matem quando crescerem. Por mais que dividam tudo agora, em algum momento vão se voltar um contra o outro. Não será bonito de se ver."
Vengeance acenou. Ele sabia disso, é claro.
"Talvez eu possa ajudar, tratá-los, mostrar que podem ter uma vida melhor se cada um tiver interesses diferentes dos outros dois"
Vengeance sorriu, cansado.
"Já temos uma terapeuta, Michael, uma muito boa. Você não devia ter ameaçado meus netos."
"Se me matar, não terá o antídoto. Grace e o seu amigo vão acabar se matando. Vocês não sabem qual frasco é."
"Gabriel sempre dizia que tinha te ensinado a não fazer anotações, mas que você era muito burro pra isso. E ainda num arquivo! James disse que se soubesse que seria tão fácil, teria mandado Honor fazer. E olha que Honor odeia computadores." Ele sorriu, simpático. Michael já estava cansado do tom amigável deles.
"Me mate, então." A dor era terrível e eles nem tinham arrancado todas as unhas.
"Preciso de informações, não vou matar você agora. Os leãozinhos deixaram algumas unhas pra mim, mas acho que eles vão preferir arrancar eles mesmos. Tenho que ver como Grace e Torrent estão, volto amanhã." Ele saiu. Michael se contorceu na cama até que a dor nas mãos e o cansaço o esgotaram. Não iria dormir, sentia dor demais. Eles lhe enfiaram alguma coisa pontuda no nervo do ombro também. Michael sabia que não perderia os sentidos e a dor não daria trégua.
Era isso. Diria qualquer coisa que Vengeance ou, Deus o livrasse, os meninos cruéis quisessem saber.
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TORRENT
FanfictionTorrent tinha tudo que um macho poderia querer. Morava num lugar bonito, calmo e tranquilo na Zona Selvagem, longe do caos que era a área familiar. Ajudava Leo com seus animais, curtia o melhor de ser celibatário: não ter que lidar com as frescuras...