CAPÍTULO 26

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"De novo!" Storm e Tempest disseram ao mesmo tempo. Torrent sorriu, mas se arrependeu de ter cedido e comprado uma tv. Eles já estavam assistindo aquele filme pela quarta vez. E o pior eram as músicas!
Uma delas era particularmente irritante:
"Moverei montanhas
Pra te alcançar
E o mar do tempo
Pra não te deixar
Quando houver flores
No teu jardim
Olhe pra luz
Lembre de mim."
Doía. Porque ele era um idiota e ainda a queria. Tudo foi muito estranho, ele não entendeu direito.
Ele a desejava por causa da substância? Desde o princípio?
Mas uma coisa era certa. Ela usou novamente, na intenção de prendê-lo. E eles poderiam ter morrido se os trigêmeos não tivessem achado o antídoto entre os frascos que ela roubou.
Ele tinha de admitir que Simple ter exigido e tomado os frascos dela tinha sido uma manobra inteligente.
Falando em Simple:
"Oi, Torrent, as florzinhas estão de castigo, então viemos no lugar delas." Os trigêmeos entraram em sua cabana. Simple ficou de pé com sua expressão solene. Candid se sentou ao lado de Tempest e seu filhote o cheirou. Ele o abraçou. Candid era um menino muito doce.
Honest começou a dançar e cantar e seus filhotes pularam do sofá para dançar com ele.
Torrent olhou para Simple, ele apenas ergueu uma das sobrancelhas.
"Não tem vontade de ser criança? Pular, dançar, correr?" Torrent perguntou. Simple sorriu cansado e Torrent sentiu pena do que viu: um adulto com o mundo nas costas.
Torrent inclusive teve sua vida salva por ele.
"Eu corro, danço e tudo o mais, Torrent, sou uma criança, afinal. Quer ver? " Ele sorriu e começou a cantar também:
"Agora eu sei
A muito que aprender
A vida é pra viver
Sem medo de perder"
Tempest pulou no colo de Torrent e Storm o imitou.
"Canta, papai!" Nem pensar! Torrent pensou. O olhar dos filhotes esperando, todavia o convenceu, e Torrent se viu cantando também:
"Se o coração pedir
A parte de mim esquecida
Me chama de volta que eu
Vou
Vou
Contigo eu vou."
Ele teve que fechar os olhos. Ele era um imbecil que iria onde ela quisesse. Bom que ela não sabia disso. E continuaram:
"Mais do que amigos nos seremos
E sempre unidos estaremos
Você me mostrou a luz que posso..." O cheiro dela chegou a ele, Torrent abriu os olhos.
Grace o olhava da porta, a boca aberta. E não estava sozinha, Peter e Vengeance também o olhavam paralisados.
"Mamãe!" Tempest pulou no chão e saltou sobre ela. Como não conseguiu aguentar o peso dele, Grace caiu de bunda no chão.
Vengeance tirou o filhote de cima dela. O coração de Torrent parou uma batida enquanto Peter a ajudava a se levantar com cuidado. Ele ficou em pânico, sem saber por que, mas ficou.
"Desculpa, mamãe!" Torrent mal ouviu o filhote dizer, seu nariz captava cheiro de sangue, sangue de Grace!
"Tudo bem, Bebê. Você está muito pesado." Ela disse num fio de voz.
"Vamos levá-la ao hospital. Torrent, você terá que ficar mais um tempo com seus filhotes." Vengeance disse pegando Grace no colo.
"Mamãe!" Os filhotes começaram a chorar assustados e só então Torrent agiu.
Pegou Tempest e Storm, um em cada braço, eles o abraçaram.
"Calma, a mamãe está bem." Ele estava meio trêmulo, olhando Vengeance sair da cabana carregando Grace, entrar no jipe e sair a toda velocidade cantando pneus.
"Quem quer sorvete?" Candid perguntou. Devia estar tentando distrair os filhotes.
"Eu quero a mamãe!" Storm chorou mais alto, Tempest o seguiu.
Torrent ficou paralisado, com seus filhotes chorando alto, sem saber o que fazer.
Ele sentiu cheiro de sangue e de alguma coisa mais. Uma coisa que complicaria ainda mais a relação deles. Ou a não-relação, pra ser mais exato.
O choro dos filhotes começou a machucar os ouvidos dele e ele se preocupou. O primeiro conselho que ouviu foi que bebês filhotes não podiam chorar muito, pois os ouvidos deles eram muito sensíveis.
"Tempest, Storm, Durmam!" A voz de comando de Simple o fez fechar os olhos também, quase que ele desmontou no chão com os filhotes.
"Você não, Torrent." Ele disse no mesmo tom.
Torrent olhou para Tempest e para Storm dormindo placidamente em seus braços.
Ele olhou para Simple entre agradecido, preocupado e furioso.
"Se isso fizer mal a eles..." Torrent rosnou.
"Não vai. Nos dê eles. Vá para o hospital."
Torrent entregou Tempest para Candid e Storm para Honest. Engraçado como nunca viu Simple carregando seus filhotes. Ou nunca viu ele carregar nada.
Ir para o hospital? Ele devia mesmo ir?
"Simple, eu senti cheiro de sangue quando ela caiu, mas também senti outra coisa."
O filhote o olhou com desdém.
"O que pensou que aconteceria com vocês dois deixando até de comer, compartilhando sexo como se não houvesse nada mais para fazerem na vida? Honor e Pride tem apenas sete meses de diferença entre seus nascimentos."
Torrent baixou a cabeça. Outro filhote! Ou outros dois!
"Acha que ela me quer lá?"
Ela não tinha contado. Vengeance e Peter saíram sem nem olhar para ele, talvez fosse melhor ficar ali, esperando notícias.
Candid que tinha voltado do quarto depois de colocar Tempest na cama, sugeriu:
"Podemos ficar lá e de tempo em tempo te atualizar. Ou podemos perguntar a Grace se ela quer você lá. Você decide."
Torrent se sentia um covarde. Ela caiu, estando grávida, ele precisava estar lá, mesmo que do lado de fora.
"Eu vou. Por favor, cuidem de Tempest e Storm."
Eles acenaram, Torrent saiu correndo.
No hospital, ele parou na entrada e respirou fundo. O cheiro de Grace, já não continha o cheiro de sangue, mas de medicamentos. E o cheiro do bebê estava lá, incontestável. Torrent e Grace seriam pais de mais um filhote.
Entrou no hospital e ia se dirigindo ao quarto onde ela estava quando Slade apareceu vindo de outro corredor.
"Torrent! Fiquei sabendo que se precisar fazer uma serenata você é o cara certo a chamar!" Ele disse e começou a rir. Moon e Harley que vinham atrás dele riam também.
"Sou o cara certo pra quebrar sua cara. Quer ver?"
Eles pararam e cruzaram os braços. Eram grandes e fortes, mas Torrent viu em seus olhos que não queriam lutar. Moon chegou a tocar seu pescoço, ainda havia uma marca da mordida de Torrent.
"Torrent?" A voz dela estava baixa, Torrent continuou seu caminho, ignorando os três.
Ele abriu a porta, ela estava deitada segurando a mão de Vengeance que se sentava numa cadeira ao lado da cama. O macho deu um leve beijo nos lábios dela e ia saindo, mas parou em frente a Torrent na porta:
"Não a canse. Ela teve um pequeno sangramento devido a queda. Essa gravidez não será como a outra, pois ela engravidou sob o efeito daquela substância maldita. Não sabemos o que pode causar à filhote de vocês."
"Certo." Vengeance saiu. Torrent nunca teve medo de nenhum macho, mas dessa vez o olhar frio de Vengeance lhe despertou  receio. Ele e Grace pareciam ter se acertado, então pobre de quem causasse a mínima inquietação a ela. E Torrent, no momento, era o alvo dos olhos gelados.
"Como está?" Ele se sentou na cadeira que o pai dela desocupou.
"Dolorida. O sangramento parou, mas a doutora me aconselhou a não me mexer, pelo menos por uma ou duas horas."
Ela falou sem olhar nos olhos dele, com os olhos fixos na parede.
"Grace, eu sinto muito. Sei que a última coisa que você queria seria engravidar de novo."
Ela fechou os olhos.
"Poupe-me dessa merda, Torrent. Você é que está chateado por ser pai de novo, não eu. Dois filhotes ou três não fazem diferença. Se podemos criar os gêmeos, poderemos criar Harmony também."
"Harmony?" Uma fêmea?
"Sim, meu pai viu uma menina."
Torrent ficou feliz, uma filhotinha! E ele amou o nome: Harmony.
"Foi você que escolheu o nome?"
Ela finalmente abriu os olhos.
"Sim, você não gostou? Pode ser outro nome. O que importa, Torrent, é que daqui a pouco teremos três filhos, para cuidar e amar, precisamos fazer isso direto, não podemos fazê-los sofrer."
"Eu gostei de Harmony. Eu não faria meus filhotes sofrerem, eu daria a minha vida por eles."
Ela sorriu, mas estava triste. Torrent entendeu que ela lamentava a situação em que estavam.
"Eu sei."

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