- Bem, acho que isso é tudo. Alguma dúvida? – sem resposta, tomou as expressões vazias de quem passou por 6 horas quase ininterruptas de aulas como um "não" – Terminamos bem cedo hoje. Se não fizerem bagunça, podem ficar tranquilos até o final da aula, ok?
Dessa vez, a resposta foi um grito silencioso de alegria. Alguns professores lhe criticavam por esse tipo de coisa, por dar certas "liberdades" para as crianças, mas já esteve do outro lado do cárcere e sabia como pode ser horrível sentir-se preso, e não desejava aquilo para ninguém.
- Professor? – Sarah ergueu a mão, chamando sua atenção. Encarou a menina, arqueando a sobrancelha direita, seu gesto para "pode falar" – O senhor ficou sabendo do cara sequestrando crianças aqui no bairro? A TV tá chamando ele de "homem do saco".
- Também vi essa fita – disse Caio, ao lado de Sarah – Imagina, um doido andando por aí com um saco pegando criança? É foda.
- Caio! Cuidado com a língua – Caio mostrou sua língua, e resmungou "tô tomando, fessô", arrancando gargalhadas da sala inteira. Revirou os olhos, mesmo que não estivesse realmente irritado com o aluno – Sim gente, eu vi sim. Vocês precisam tomar bastante cuidado e aquela ladainha toda sobre não aceitarem doce nem carona de estranhos – os estudantes riram, sabendo que aquele era o discurso óbvio que qualquer adolescente da idade deles já deveria saber. O que não sabiam é que ainda assim era necessário falar e ser claro. Às vezes o óbvio precisa ser dito.
- O senhor conhece a lenda do Homem do Saco, professor? – perguntou Sarah. Ponderou por alguns instantes, considerando a pergunta da garota. Sim, conhecia, mas não considerava adequada para um público menor de 18 anos.
Acho que é só censurar algumas partes que tá tranquilo.
- É, eu conheço sim – puxou a manga da blusa, verificando as horas – Ainda temos 20 minutos de aula, acho que consigo contar. O que acham? – a sala respondeu com um vibrante "conta sim" em uníssono – Bem, é uma história que aconteceu mais ou menos nos anos 90, com um grupo de 3 amigos...
31 de outubro, 1993
Por mais que a ideia tivesse sido de Marcos, ele nunca chegou a realmente aprová-la. Foi só uma besteira que disse por estar na posição de ser a criança que dá as ideias para poderem brincar.
Quando disse "por que não procuramos as crianças que desapareceram?", não pretendia ser realmente levado a sério. Mesmo assim, cá estava ele agora, com sua magrela junto de seus amigos procurando pelo Homem do Saco.
Douglinhas que era o corajoso. Ficou a semana inteira falando sobre o tal do homem que estava abduzindo crianças no bairro, e como queria que esse cara tentasse pegar ele para que pudesse desferir uns golpes de karatê que tinha aprendido com o seu sensei.
O que confortava Marcos ao menos um pouco, é que mesmo temeroso, ele ainda estava melhor do que Mino, que vomitou quando ele propôs a ideia. Claro que a culpa não foi dele, Mino era intolerante à lactose, e naquela manhã tinha bebido leite acreditando ser suco de caixinha sabor coco.
Dos três, com certeza Guilhermino era o que mais tinha chances de se borrar inteiro caso encontrassem o tal do Homem do Saco.
Coisa que definitivamente não aconteceria.
- Eu tô vendo – Douglinhas tirou as duas mãos do guidão da bicicleta para apontar a casa abandonada onde ele jurava ter visto um mendigo entrando. Quando Marcos questionou por que ele achava aquilo misterioso, o garoto apenas respondeu "É um mendigo entrando em uma casa. Não é óbvio?"
- Vamos chegar mais perto – Marcos acelerou a bicicleta, ansioso para terminar logo com aquilo. Douglinhas o acompanhou, seguido por um Mino que protestava sobre o quão irresponsável era aquilo tudo.
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Contos Embaixo da Cama [Em Revisão]
TerrorVerdade seja dita, é muito difícil assustar ou chocar um brasileiro. Com tudo que vivemos na pele todos os dias, um demônio espreitando sua cama durante a noite é nada mais que um leve incômodo. Portanto, se está procurando por um livro de terror na...