Stay A While

War

   Wuxian mal havia acordado quando Lorenzo apareceu avisando da explosão. Toda a angústia de mais cedo se transformou em raiva e ele insistiu em ser levado até o hospital, independente do que tinham planejado para ele aquela noite. O próprio Enzo se ofereceu para levá-lo, mas somente porque estava preocupado com um incidente tão repentino como aquele dentro da área comandada por ele. O caminho até o hospital foi em silêncio, o que tornava mais difícil a tarefa de não pensar no interrogatório mais cedo. Nada tirava de sua cabeça que, se o pessoal do Enzo descobriu, faltava pouco para os assassinos e os Lan também descobrirem. 

   Eles a matarão, com certeza a matarão. Não importava o quanto Wuxian tivesse tentado sumir com os rastros, os Lan iriam atrás dela assim que estivessem livres e seu relacionamento com WangJi, que mal havia começado de novo, chegaria ao fim.

   —Você está calado demais. – Comentou Enzo. – Isso não é normal. 

   —Cabeça cheia. – Wuxian respondeu dando de ombros. 

   —É pelo que te falei ontem?

   O médico assentiu em resposta.

   —Achei que já tivesse se dado conta de que nem tudo que mostrei é verdade. – Enzo olhou rapidamente para ele antes de voltar a atenção para a rua. – Desde quando tem câmera em quarto de hospital? Isso é violar a privacidade do paciente. E nós te conhecemos agora, por que diabos estaríamos te vigiando na época?

   Wuxian o encarou confuso. 

   —Mas eu lembro... As imagens...

   —Algumas eram edição e você "acha" que lembra porque eu induzi sua mente a criar essas imagens. Tive ajuda do veneno.

   —Você me envenenou? – Wei nunca esteve tão indignado com a audácia de alguém em toda sua vida. – Tá falando sério?

   —Ou você começa a fazer mitridização logo, ou vai morrer com um simples veneninho. – Enzo rebateu, tentando justificar o injustificável. – O efeito colateral do que eu te dei é confusão mental. O susto com os cães fez seu sangue correr mais rápido e o veneno fazer efeito. Considerando que você desmaiou acho que dei um pouquinho mais do que deveria... 

   Lorenzo lançou um sorriso cínico em direção a ele e Wuxian sentiu as mãos formigarem de vontade de enfiar um belo murro na cara dele. Só não atendeu o próprio desejo porque o criminoso metido a besta estava dirigindo.

   —Mas... nem tudo que eu falei era mentira.

   Ele tinha razão. As imagens do bar e de dentro do quarto poderiam ser falsas, mas o resto não era. Para entender o que tinha feito o estado da Sra. Lan piorar de uma hora para outra era só juntar A + B e Wuxian havia se dado conta disso há muito tempo.

   —Eu não sabia que aquilo tinha acontecido, mas desconfiava. – Admitiu sentindo um peso enorme no peito. – As câmeras no corredor mostraram a Sra. Yu entrando no quarto dela, mas eu achei que fosse interrogá-la ou sei lá. Eu tive que sair por umas horas naquele dia e quando voltei descobri que ocorreu uma piora repentina no quadro... – Sua mente ainda parecia um pouco confusa, mas os eventos estavam começando a voltar com um pouco mais de clareza. – A ligação... Eu me lembro mais ou menos dela, estava bêbado, mas não em um bar. Estava no meu apartamento, próximo ao hospital. – Ele ergueu a cabeça para encarar a paisagem do lado de fora. – E sim, esse foi um dos motivos pelo qual eu não voltei. Talvez o verdadeiro motivo...

   —Eu sei. Sabe por que toquei na ferida? – Enzo olhou rapidamente pra ele. – Porque é um dos seus pontos fracos. Você a escondeu, a enterrou fundo dentro de você, simplesmente a cobriu para que não a visse. Não é porque você não vê que não está lá, doutor. Eu trouxe isso a tona porque você precisa deixar essa ferida cicatrizar de uma vez por todas, senão vai estar nas mãos de qualquer um que tenha acesso a ela. E, acredite, gente como nós revira cada segredo dos nossos inimigos para usarmos contra eles. Se nós descobrimos isso, outros também descobririam. O segredo é estar em paz consigo mesmo, com seus demônios. Ter controle sobre eles e não permitir que eles tenham controle sobre você.