Spring Day

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   No primeiro dia após o enterro de MianMian, WangJi se viu afogar em seus próprios sentimentos, que se assemelhavam a um oceano escuro, com alguma força invisível o puxando cada vez mais para o fundo. Porém, ele estava deixando que aquela força o puxasse, não tinha forças para lutar e, mesmo que tivesse, não tinha vontade de lutar. Sempre após a sensação de estar se afogando, vinha a sensação de que estava planando em um intenso vazio. O vazio era, na verdade, representado pela falta de sentimentos que o atingia em alguns momentos. Mesmo sabendo que aquilo não era bom, WangJi preferia não sentir nada do que sentir demais.

   Wuxian havia tentado por diversas vezes fazer ele desabafar sobre o que estava sentindo, mas WangJi simplesmente não conseguia. Sabia bem o que estava sentindo e por qual estágio do luto estava passando, porém não tinha a menor ideia de como descrever aquilo com palavras e em voz alta. Toda as vezes que tentava abrir a boca para contar o que estava sentindo, parecia que alguém havia simplesmente levado sua voz embora. Então, muitas vezes optou somente por permanecer em silêncio ou dizer que não estava pronto para falar sobre aquilo e voltava a se fechar. 

   WangJi sabia que estava deixando muita gente preocupada, mas, pelo menos naquele dia, não estava em condições de colocar sua máscara de intocável. Havia momentos em que só queria ficar sozinho com seus próprios pensamentos, mas não era sempre que conseguia. Wuxian foi checar como ele estava pelo menos umas cinco vezes em menos de uma hora. Na última vez em que ele apareceu no quarto, WangJi finalmente cedeu e pediu para que o médico apenas deitasse consigo, que a presença dele já o deixaria um pouco melhor.

   Aquele foi um dos poucos momentos em que se permitiu pensar com clareza sobre tudo, sobre todas as pessoas que havia perdido e todas as dificuldades que teve e ainda teria que enfrentar sem elas. A verdade era que WangJi estava exausto daquela vida e das consequências que ela trazia para si e para as pessoas a sua volta. Olhando de fora era uma vida gloriosa com carros, mansões, jatinhos e muito dinheiro. Porém, para quem estava olhando de dentro era algo no mínimo sufocante. Nenhum deles havia escolhido entrar e nenhum deles tinha a opção de sair, a não ser que quisesse ser morto. Sobreviver e viver naquele mundo eram duas coisas completamente diferentes e os Lan passaram a maior parte de suas vidas sobrevivendo. Aquilo era no mínimo desgastante.

   Após um bom tempo com seus pensamentos o perturbando, WangJi pegou no sono pela primeira vez nos dois dias que haviam se passado desde a morte de MianMian. O primeiro sonho que teve foi mais como uma memória de quando ele, XiChen e MianMian eram adolescentes, antes de terem que se envolver diretamente com a organização. Os três tinham o costume de que quem acordasse primeiro ia acordar os outros dois, mas nunca era da forma convencional e aquilo deixava as empregadas malucas, já que o método mais eficaz era pular em cima do outro ou usar o infalível balde de água fria. Eles eram felizes naquela época, sem nem ao menos imaginarem o que teriam que enfrentar nos anos seguintes.

   No segundo sonho WangJi se viu caindo no que parecia ser um poço sem fim, mas em um certo ponto, alguém agarrou seu braço e o puxou para cima. De repente, a cena mudou e WangJi se viu sentado no jardim da casa da Sra. Lan, com MianMian a sua frente aparentemente estudando para alguma prova. Ele também tinha um caderno apoiado em uma das pernas, mas estava apenas desenhando na borda, não conseguia se concentrar. 

   —O que você tem? – MianMian perguntou, estranhando o comportamento dele.

   —Não sei... – WangJi franziu o cenho, sentindo seu peito se apertar ao olhar para ela. – Parece que tem alguma coisa errada... 

   —Como o que? 

   —Você estar aqui. 

   MianMian riu. 

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