Stay A While

Assassins

   WangJi observou XiChen desabar na cadeira com uma expressão de completo choque. MianMian havia acabado de explicar aos dois o motivo de Wuxian ter aparecido daquele jeito, completamente transtornado. Ela contou sobre o que havia acontecido para aquela foto ir parar nas mãos do policial, sobre como a pessoa por trás daquilo poderia facilmente chegar até Jiang Cheng utilizando apenas o número dele e sobre ter certeza que o objetivo de tudo aquilo era separar os dois. Objetivo esse que quase foi concluído com sucesso.

   —Aquilo pegou Wanyin desprevenido, por isso ele não te atendeu ou retornou suas mensagens.

   —Ele sabe que eu nunca o machucaria... – XiChen encarou os dois com um olhar afetado.

   —Sim, mas é difícil pensar nisso quando você vê uma foto da pessoa que você ama beijando outra pessoa. – Disse MianMian. – Você tem que entender que sua aparência não mudou muita coisa nos últimos anos, não tinha como ele saber que era antiga.

   XiChen escondeu o rosto nas mãos e respirou fundo. WangJi se sentia um tanto mal por ele, principalmente por saber o quanto o mais velho andava feliz ultimamente mesmo em meio a toda a confusão. Talvez fosse realmente esse o motivo de seja lá quem for ter tentado separá-los. Os dois estariam sensíveis e provavelmente teriam uma briga e tanto, o que poderia terminar de duas maneiras. Primeira, Jiang Cheng entregando o Lan mais velho para a polícia. Mesmo acreditando que ele não faria aquilo, sabia bem o quanto o rapaz era impulsivo. Segunda, Lan XiChen parcialmente enfraquecido. Mesmo que não contasse a ele, WangJi sabia bem em quem seu irmão se apoiava na maior parte do tempo.

   Em um estalo, Lan WangJi teve uma ideia de quem se beneficiaria com aquela situação e até pensou em comentar, mas preferiu se manter em silêncio ao imaginar a possível confusão que o assunto originaria. Não queria iniciar uma guerra entre XiChen e MianMian naquele momento.

   —Tem uma coisa que eu preciso falar com vocês. – Disse ele, ao se lembrar da notícia que havia recebido na noite anterior. Após ter a atenção dos dois, continuou. – Ontem um conhecido meu...

   O toque de um celular soou pela sala, fazendo MianMian e WangJi checarem seus aparelhos.

   —Por que você só liga na hora errada? – A garota perguntou, revirando os olhos após atender a ligação. Porém, seu rosto logo adquiriu uma expressão séria. – Como assim?... Eu já vou... Sim, sim, vou rastrear o Ning. 

   —O que foi? – WangJi perguntou, ao vê-la se levantar um tanto transtornada.

   —Lembra que eu disse que poderiam rastrear o Wanyin? – MianMian perguntou, parando com a mão na maçaneta da porta. – Então, fizeram isso. A pessoa que enviou as fotos está mandando alguém para a casa dele neste momento.

   Os irmãos arregalaram os olhos e seguiram a garota para fora do escritório praticamente correndo. WangJi sabia que Wuxian ainda estava na casa dos irmãos e, mesmo que soubesse que o médico conseguia se defender, ficou extremamente preocupado.

   Durante o caminho até o bairro em que os Jiang moravam, MianMian passou por uma série de sinais vermelhos e pegou mais atalhos desconhecidos pelos dois rapazes do que poderia contar. Estacionou o carro uma rua acima de onde ficava a casa deles e desceu praticamente correndo. Foi somente após saírem do carro que os três notaram que estava começando a chover.

   —Eles ainda estão na casa. – Disse ela, abrindo o porta malas e tirando um grande bolsa preta. – Pulem o muro daquela casa e vão estar no fundo da deles. Ajudem o Wen Ning a tirá-los de lá.

   Lan XiChen assentiu e correu na frente, pulando o portão da casa ao lado com facilidade. Lan WangJi ficou um pouco para trás, querendo perguntar o que MianMian iria fazer, mas logo se convenceu de que não havia tempo para perguntas e saiu correndo atrás de seu irmão. Assim que chegaram em frente ao muro, WangJi bateu os pés na parede da casa, se impulsionando o suficiente para que suas mãos se agarrassem na parte de cima do concreto e pulou para o outro lado, aterrissando no chão com certo cuidado para não fraturar os tornozelos. Lan XiChen pulou logo em seguida e os dois seguiram até a porta dos fundos da casa, porém, antes que pudessem bater, alguém a abriu.

   —Hanguang-Jun? ZeWu-Jun? – Wen Ning olhou para os dois um tanto surpreso. – A-Yang mandou vocês?

   Os irmãos assentiram.

   —Tudo bem, nós temos que sair daqui. Agora.

   Por cima do ombro do hacker, WangJi conseguiu ver uma movimentação na cozinha e logo os irmãos Jiang, Wuxian e um outro rapaz apareceram na porta.

   —Qual rota de fuga você pretende usar? – XiChen quis saber, parecendo se conter para não olhar para Jiang Cheng.

   —Três que levam ao mesmo lugar. – Respondeu Wen Ning. – Precisamos chegar até o prédio dos assassinos. Vai ter um deles esperando na metade de cada rota.

   —Está me dizendo que nós vamos nos separar? – O rapaz que WangJi desconhecia perguntou.

   —Sim, em grupos com pelo menos uma pessoa que conheça as rotas.

   Wen Ning os separou rapidamente em duas duplas e um trio e o grupo finalmente se separou, cada um seguindo uma rota diferente. WangJi e Wuxian ficaram juntos e deixaram a casa pelo mesmo caminho que o Lan havia feito para entrar.

   —Espera. – Wuxian parou de repente, tentando inutilmente secar o rosto encharcado pela chuva. – Eu quero ver quem está vindo atrás do meu irmão.

   —Wei Ying, é arriscado demais. – WangJi argumentou, mesmo sabendo que não o convenceria. – Nós temos que encontrar os outros.

   —Lan Zhan, nós temos que ao menos ter uma ideia de contra quem estamos lutando. 

   Aquela parada que os dois haviam feito no meio da rua estava deixando WangJi um tanto afobado. Então, mesmo a contragosto, ele acabou cedendo e deixando que Wuxian o arrastasse para o outro lado da rua, em direção a um prédio. Com o porteiro dormindo sobre o balcão, os dois passaram despercebidos até o elevador, onde o médico apertou o botão para o último andar. Assim que as portas do elevador se abriram, Wuxian o puxou pela mão até uma porta verde de metal, que possivelmente daria na cobertura do prédio.

   Assim que passaram pela porta, WangJi sentiu as gotas geladas da chuva se chocarem contra seu rosto e voltarem a encharcar suas roupas. Normalmente até gostava de tomar um banho de chuva, mas não naquelas circunstâncias. Principalmente quando estavam consideravelmente próximos a um para-raios.

   —Vem cá. – Wuxian o puxou pela mão até a lateral da cobertura e os dois se abaixaram ali.

   Da altura em que estavam dava para ter uma visão quase que completamente limpa da casa dos irmãos Jiang, apenas uma árvore ficava na frente, mas nada que os impedisse de enxergar o que queriam. Passaram-se longos minutos de puro silêncio, somente com o barulho da chuva ecoando por todo lado, até que houve a primeira movimentação em frente ao portão da casa.

   Um carro preto estacionou do outro lado da rua e quatro pessoas usando máscaras desceram, olhando em volta como se quisessem garantir que não havia ninguém os observando. Pelo canto do olho, WangJi notou outras pessoas passando pelo fundos da casa com armas em punho. Claramente os dois grupos não estavam ali para conversar.

   —O que diabos são essas pessoas? – Wuxian perguntou, observando o primeiro grupo pular o portão.

   WangJi não respondeu, estava completamente concentrado na análise que fazia de cada uma daquelas pessoas. No total eram oito, todos vestidos com roupas casuais e usando máscaras comuns, porém havia algo neles que estava prendendo sua atenção. A primeira coisa que o Lan mais novo reparou foram os sinais com as mãos, mesmo de longe dava para reconhecer aqueles sinais perfeitamente. MianMian havia ensinado alguns para ele quando ainda eram crianças, somente o suficiente para que pudessem se comunicar "em campo" ou para que WangJi pudesse reconhecer as ações dos assassinos.

   Todos os assassinos haviam sido treinados de formas praticamente idênticas e, mesmo que os assassinos que ele conhecia quebrassem esse código a maior parte do tempo, WangJi sabia que eles não deveriam falar durante uma operação de execução. Por isso os sinais. E também era assim que se identificava quando era realmente uma operação de execução ou de apreensão, na segunda eles podiam falar.

   —São assassinos. – WangJi respondeu, os observando se comunicarem por sinais. – Quem quer que tenha mandado eles, mandou para matar o seu irmão.

   Wuxian o encarou com uma expressão indecifrável e voltou a olhar para frente. WangJi fez o mesmo, mas assim que viu uma pessoa adentrar a parte dos fundos e se reunir com o segundo grupo, seus olhos se arregalaram.

   —MianMian?