Reencontro-2

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Ouço alguém batendo na porta, me levanto da cadeira quase agradecido por ser interrompido. É quando me deparo com ele. Short jeans, blusa regata preta, tênis e é só isso que ele precisa pra me derrubar. Percebo melhor do que da última vez que nos vimos, que ele mudou, ele deve ter uns centímetros a mais do que eu, os ombros mais largos, uma barba rala, cabelo castanho claro bagunçado, e olhos que só parecem diminuir ao longo dos anos. E como é bonito.
  E simplesmente não sei o que falar, não sei se é porque é ele, ou o momento mesmo que não pede palavras. Só nos encararmos, ele parece bem, mas nervoso, os olhos entreabertos por causa do sol, os pés dele parecem incomodando, não param. Decido que é hora de falar, o momento já mudou, e agora ele pede palavras.
-Eduardo... Ele me interrompe, ele também deve saber que o momento pede palavras, e decidiu tirar o peso das minhas costas.
-Você sabe como é difícil pra mim, passando tanto tempo desde que eu te disse que não queria te ver mais, vir aqui na sua casa, só porque não consigo parar de pensar de como a minha vida poderia ter sido diferente se eu tivesse resolvido me assumir e ficar com você, se eu tivesse ligado para o que você sentia, se eu tivesse te impedido de sair lá de casa sem esclarecer a porra das nossas duvidas.
Percebo que nesse momento não fui o único a pensar nas outras possibilidades se talvez tivéssemos tomado outras decisões, não fui o único a me sentir abandonado, ele também sentia isso, com esse pensamento até senti um pouco de culpa.
- Por que você não insistiu? Era só isso que eu precisava. Precisava sentir que você não tava arrependido, e gostava de mim. Mas você simplesmente desistiu, não me procurou, não me impediu, você não fez nada, só seguiu como se nada tivesse acontecido.
- É isso? Você relativamente me diz que não quer me ver mais, mas na verdade só queria que eu te provasse que também sentia alguma coisa? Você já imaginou pelo o que eu passei todo esse tempo? Eu não tive escolha se não me afastar de você, porque pensei que você não precisava de mim, que a sua vida poderia ser normal se eu esquecesse de tudo. E agora você me diz, que o real motivo foi a merda do seu orgulho.
- Não, não Lucas, não foi a merda do meu orgulho, foi a merda do meu medo e insegurança.
Ele abaixa a cabeça, e eu noto que tinha uma visão muito fechada sobre ele, sempre imaginei ele como superior a tudo, alegre sempre, que ele não tinha problemas como qualquer outra pessoa. Ele sofre, sente medo tanto quanto eu de não ser aceito, de não ser visto. E agora eu sei como ele conseguiu ultrapassar a barreira no meu sonho que impedia que eu fosse notado, ele também se sente da mesma forma.
- Desculpa, e-eu realmente não tinha ideia Eduardo. Falo e gaguejo pra ele.
- Tudo bem, já passou.
- Entra, o sol não deve estar ajudando.
Ele aceita o convite e entra, meio desconfiado, nervoso. Me direciono para a geladeira, para pegar alguma coisa pra ele beber. Ele me surpreende me puxando pelo braço direito, passa as mãos em torno da minha cintura, e la estamos nós, parados, agarrados nos olhando. Levo a mão ao rosto dele, ele inclina a cabeça em direção dela. E é tão bom que eu poderia passar o resto da minha vida assim. O calor dele, o cheiro amadeirado, esses lábios vermelhos. Escorrego a mão para trás da cabeça dele e puxo para um beijo. E eu posso sentir o gosto doce que ele tem. Vasculho cada canto dessa boca que agora só é minha.  Ele geme baixo e começa a me beijar ferozmente, um beijo apaixonado, beijo de viajante de quando volta para casa, para os braços da sua paixão. Ele me aperta forte e eu correspondo, não vou deixar ele ir, nosso lugar é aqui, perto um do outro.
Relutante tive que nos separar, sem fôlego diga-se de passagem. Levei ele para o sofá da sala e lá nos sentamos, conversamos muito, cada um contando o que se deu após a despedida. Eu todo momento tocava nele, no cabelo na mão, na roupa, me perdia olhando para ele. Escutando ele falar, as vezes não entedia, só escutava, igual se faz quando você escuta uma música em inglês, você não entende, mas ouvi como se nada fosse melhor. Ele estava inquieto, animado e eu não ficava atrás.
Pouco depois ouvimos a porta da frente bater. Era meu pai, tinha me esquecido completamente que ele chegaria cedo em casa. O Eduardo muda de posição e me olha aflito, eu gesticulo com a boca um "tudo bem", ele parece ficar mais calmo.
- Pai?
- Lucas, ta em casa filho?
- To, tava fazendo uma atividade - Ele para diate de nós. - Esse é um amigo meu. Eduardo.
- Senhor - Ele se cumprimentam com um gesto de cabeça - Lucas eu tenho que ir, falei pra Rita que ira na casa dela mais tarde, mais tarde a gente se fala, ta?
Rita? Merda.
- É, te passo uma mensagem.
Ele se levanta e saí. E não sei porque mais o clima ficou pesado.
- Até mais senhor - Ele se despede do meu pai e vai embora.

Crônicas de um orgasmoOnde histórias criam vida. Descubra agora