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Meus dedos batem freneticamente sobre o vidro morno e pegajoso da mesa de uma lanchonete em um bairro próximo ao meu. O que eu vim fazer aqui?
O cheiro do óleo velho das batatas fritas e quantidade de gente ao meu redor me enjoa. As pessoas ao meu redor me enjoam mais que o óleo.
Esse movimento todo de cabelo na minha frente essas risadinhas patéticas, essa língua cínica que molha o lábio inferior em três em três minutos. Essa é a Helena trabalhando, ela sempre foi tão baixa assim? Não, não, eu nunca teria me tornado amigo dela se fosse assim. Não gosto de gente assim. São nojentas, falsas, toscas e violativas.
Talvez não tenha percebido esse lado dela porque o charme que ela joga pra conquistar não fora para uma pessoa que eu estivesse loucamente apaixonado. E ele? Da espaço claro. Deixa ela pegar na mão dele, deixa ela acariciar o seu ombro, essa passividade me dá nos nervos. Viado. Safado. Ainda amo ele. Ainda amo ela, e isso é o que me impede de jogar a Coca-Cola na cara deles dois e sair por aí. Esquecer que eles entraram na minha vida.
Os assuntos deles são idiotas, sem nenhum conteúdo, superficiais de mais.
Minha participação se mescla entre um sorriso forçado e gestos de cabeça.
- Vamo andar?!
A Helena ta eufórica de mais, alguém coloco maconha no refrigerante?
- Você não vem Lucas?
O Eduardo percebeu que eu estava ali pela primeira vez na noite.
- Vou sim.
As palavras saem da minha boca com um tom ríspido internacional. Mas ele finge não notar e se vira para a Helena com aquele sorriso que diz: " Da pra entender esse cara? ".
A gente anda pela calçada, mais movimentada do que o costume, o que faz os dois pombinhos terem que se enroscar para dar espaço para as pessoas passarem, eu viro o rosto e fico com mais raiva por saber que to com ciúme.
Ah que vão se fuder, os dois!
Corro entre as pessoas afim de deixá-los em sua bolha, eu não vou ser o espinho para estourar ela. Não é do meu feitio ser o intruso, na maioria das vezes não dou espaço nem para as possíveis chances disso acontecer.
Sei muito bem que amanhã vou me arrepender amargamente por ser o ator principal dessa cena dramática patética. Mais é melhor as minhas pernas esrourarem em uma maratona do que minha cabeça explodir com a merdas desses dois.
Corro e corro, só quero ficar longe dessa porra toda. Sinto uma mão me segurar pelo braço com força, não queria pensar nisso, mas penso, que um deles tenha se arrempedido por ter feito o que fez, e correu atrás de mim para pedir desculpas.
- Calma ai gracinha!
Mas que porra é...
- Aonde pensa que vai, me diz? Vai me dizer que ta fugindo da mamãe?
Essas mãos suadas e grudentas me apertão com força, e penso que vou ser rasgado em dois se continuar. Esse bafo podre me da uma ânsia de vômito.
- Me solta caralho!
- Uhh, a mocinha tem língua, e que língua suja essa em?
Aonde ta todo mundo dessa merda? Acho que corri de mais, fui parar em lugar mais escuro e estranho da cidade. Estou exausto, não consigo me mexer.
- Vamo, parei de brincadeira, passa a grana vai!
- Vai se ferrar seu desgraçado!
Ele me acerta forte na barriga e me dobro de dor.
- Vai logo moleque, não brica comigo!
- Me solta, eu não tenho dinheiro!
- Passa o celular então, vai!
Escuto uma pancada, e olho para o ladrão e vejo a expressão perdida dele.
- Mas que viadinho...
Ele desaba no chão feito um tronco de madeira podre.
Levanto o rosto, e sangue me foge do rosto. Foi a Helena. Ela segura um pedaço de ferro, e suspira pesado me encarando.
- Quem você pensa que é?
- Oi?
- Você sempre faz isso, sempre.
- Do que você ta falando? Ela coça a cabeça com o pedaço de metal exasperada.
- Esse seu maldito jeito de lidar com os problemas, sempre correndo do que te assusta, do que te faz ter que tomar atitude, de ter coragem.
- Que merda Helena! Para de falar besteira, eu vou embora. Cansei.
- Não!
Ela mira a ponta do metal na minha direção. - Você não sai antes que eu fale tudo, que eu tenho que falar.
Reviro os olhos, o que ela quer?
- Por que você não me contou? Por que você sempre se fecha nessa sua concha maldita?
- Do que você ta falando? - Do seu caso com o Eduardo.
Souto uma risada nervosa.
- Para de ser louca Helena, eu e o Eduardo somos amigos, só isso, não se preocupa não vou ficar no seu caminho. Eu não sou gay.
- Você pensa que eu sou alguma demente por acaso? Eu vi o jeito que vocês se olhavam naquele dia na praça, eu também vi essa sua crise de ciúme. E você continua, e continua a mentir pra mim como se eu fosse ninguém.
Ela esta chorando, eu tento forçar uma lágrima voltar, mas ela corre solta pelo meu rosto.
- Isso não é verdade, você ta doida.
Minha voz saí mais baixa do que eu queria.
- É sim, porque se não fosse ele não estaria desesperado te procurando. Ele gosta de você droga. Por que você acha que eu agir como uma vadia na lanchonete? Eu queria que você tomasse uma atitude, me dado um tapa na cara e mandace ficar longe do seu homem, mas não, você tem medo de felicidade, tem medo de ser quem você é, e sabe como eu sei - Ela limpa o nariz com as costas da mão - porque eu te amo, seu merda, amo você por quem você é.
- Desculpa...
Eu me desmancho em lágrimas e soluços. Ela me surpreende e me abraça apertado. Afaga meus cabelos revoltos.
- Da uma chance a ele, a única razão dele ter me dado espaço é que ele esta de saco cheio de ter que ser corajoso por vocês dois. Só isso.
- Hmm... Merda.
- E vamo logo, antes que o seu amiguinho ai acorde.
- Cala a boca e anda logo, vai!
Saimos apressados daquele lugar escuro, onde esta o Eduardo? Será que ele ta bem? Fiz merda.
- Você liga pro Eduardo?
Ela fecha o senho em sinal de desaprovação.
- Para de ser medroso seu amarelo!
- Sério. Eu não tenho cara pra poder falar com ele.
Seguimos de mãos dadas até um local mais movimentado. Ela para. Sua boca se contrae e balança a cabeça em negativa.
- Ta, mas você vai ter que conversar com ele.
Meu estômago da uma volta e eu tenho vontade de chorar. Como eu pude ser tão ridículo?
Ela tira o celular do bolso apertado do seu short jeans.
- Você tem o núnero?
- Ue, pensei que vocês já fossem íntimos o suficiente pra trocar contatos.
Ela me tasca um beliscão no mamilo.
- Lucas não brinca! Passa logo a porra do número antes que eu desista de vez.
- Calma Helena tava brincando!
Massageio meu mamilo dolorido.
- Isso dá câncer sabia? Toma.
Entrego o meu celular com o contato dele avista. Ela digita o número rápido e faz a ligação.
Pouco depois ele atende, escuto sua voz nervosa pelo telefone.
- Calma, calma. Achei a donzela fujona.
Dou um tapa na nuca dela. Que negra mais safada.
- Ai! Saí daqui!
Ela me chuta no meio das pernas. Grito de dor e seguro minha genitália, as pessoas ao nosso redor se divertem com a cena.
- Eu to aqui na praça do centro. Vem logo!
Ela desliga. Ele vai chegar logor. O que eu vou falar? Por que eu estou com medo? Droga de vida!
A Helena me agarra pelo braço e me leva até um banco. As pessoas já desistiram de assistir o show e pararam de nos olhar.
- Relaxa. Ele tava aqui perto. Vai chegar logo.
Uns sente minutos depois ele aparece, suado e com um sorriso de quem estava em pânico minutos atrás.
A primeira coisa que eu faço e pedir desculpa, ele abaixa a cabeça e eceita as desculpas.
Ele está constrangido, não sei porque, mas está.
- Eu vou ali, se vocês não se importam.
A Helena saí antes que eu a puxe pelos cabelos. Ela me abandonou.
- Senta aí.
Ele senta.
- Desculpa de novo não sei onde eu tava com a cabeça.
- Relaxa Lucas, a culpa foi minha. Eu fui um idiota em tentar te fazer ciúmes. Sei lá, você as vezes é frio, e isso me deixa com raiva. Você se fecha nessa cápsula e pronto. Tinha que ver sua cara no restaurante, parecia que nem ligava. Você liga, não liga?
Suspiro eu quero correr de novo. Droga.
- Ligo, ligo muito.
Eu encaro esses olhos pequenos e marejados. Quero beijar eles.
Ele abre um sorriso tímido, tem medo, duvida tudo no mesmo sorriso branco.
- Vem.
Me levanto.
- Vamo esquecer isso. Nós dois fomos uns dois idiotas a noite inteira. Vem vamo procurar aquela maluca.
Tenho vontade de segurar a mão dele e sair por aí. Mas o medo de ser julgado é maior e só sorrio pra ele.

Crônicas de um orgasmoOnde histórias criam vida. Descubra agora