Prendi meu cabelo pro alto e o enrolei no rabicó para fazer o afropuff. Consegui acordar duas horas após o último plantão e já me arrumando para sair. Iria passar o feriado com meus pais em Volta Redonda e aproveitar um pouco antes da minha mãe entrar em trabalho de parto.
Esqueci de contar um pouco do que aconteceu depois daquele verão em Angra. Já sou formada em Enfermagem e atualmente trabalho na área da pediatria de um hospital aqui no Rio mesmo. Assim que eu entrei na facul, meu pai me ajudou a financiar um apartamento no Rio e comecei a morar sozinha. Foi tudo muito intenso pra mim e lógico que meus pais fizeram um drama histórico.
- Mas filha quem vai te trazer jujuba quando você estiver de tpm e mal humorada? - sim, meu pai estava me chantageando com o meu período menstrual.
- Pai, você vai me mandar mensagem ou me ligar para eu lembrar disto, tá bom.?! - sentei do seu lado na cama e o abracei colocando minha cabeça no seu ombro.Esse foi o dia em que nós fizemos a mudança. Minha mãe já tinha ficado nervosa no carro e acabamos nos desentendendo. Era normal e o jeito dela, e eu entendia que eles haviam dedicado a vida pra mim e agora tudo iria mudar.
E com isso, a partir da minha saída de casa, meus pais resolveram ter outro filho. Eu amei a ideia pois na maior parte da infância não tive ninguém para brincar e cuidar. É óbvio que agora, na vida adulta, eu iria cuidar e amar meu irmão ou irmã tanto quanto meus pais.
Mas como nem tudo é tão simples. Minha mãe descobriu alguns cistos nos ovários e no útero. Ainda bem que nós tínhamos condição o suficiente para o tratamento que foi árduo e difícil.
Consultas, exames, remédios e outras rotinas hospitalares foi a vida dos meus pais nos últimos 3 anos. E para piorar minha mãe desenvolveu ansiedade crônica e tudo ia de mal a piorar no casamento deles.
Houve um tempo em que eu mesma pensei em trancar o curso e voltar pra casa. Mas meus pais não permitiram isso de jeito algum. Foi um período bem caótico pra eles e eu fui atingida pelos respingos.
Era só faculdade, estágio e casa. Praticamente vivia dentro dos livros. Sempre preocupada e centrada. Não me permiti nem ao menos fazer algo diferente ou tentar descansar e me desligar de tudo.
- amiga, eu sei que a sua família é tudo pra você, mas você precisa se cuidar e renovar as forças - conversar com a Ju, mesmo que fosse a milhares de km, naquele momento era fundamental pra mim. Nós duas chorávamos, ríamos, brigávamos e até orávamos através de uma tela.
Quando o tratamento de 23 meses da minha mãe estava na reta final, foi como se um peso saísse das minhas costas. Ela ainda teve de ser internada por conta da ansiedade e isso complicou o tratamento logo no finzinho. Não teve jeito, apresentei os papéis de internação e comprovantes da situação atual da minha mãe na faculdade e voltei no mesmo dia pra casa.
Minha mãe diz que eu fui a luz que voltou pra vida dela. Mesmo internada ela já dava sinais ótimos de melhora e assim nossa vida começou a se encaminhar para o certo.
Voltei pra minha rotina das aulas depois de um mês. Minha mãe conseguiu finalizar o tratamento e saiu do hospital. E agora iria iniciar terapia para cuidar de sua ansiedade. Voltei pro Rio um pouco aliviada com tudo mas havia notado que o relacionamento dos meus pais não estava como antes.
Os dois chegaram a dormir em quartos separados e minha mãe queria que meu pai seguisse a vida dele e não se prendesse a ela. Meu pai como um apaixonado, disse que iria ficar ao lado dela em todo processo da terapia. E aos poucos os dois foram se conquistando novamente.
Confesso que foi muito triste no início. Os dois pareciam dois estranhos. Mas ao longo de tudo, virou uma fofura só.
- Letícia, deixa eu te perguntar uma coisa... - minha mãe sussurrou na ligação enquanto eu almoçava e conversava com ela.
- Fala mamis.
- É normal o homem ou cara que você fica, hum... aí, como vou te dizer isso - ela suspirou tentando encontrar as palavras. Eu ri internamente e comecei a prestar atenção nas suas palavras.
- Ai - ela falou alto - é normal você se sentir nervosa quando está na presença de alguém que você gosta?
Não aguentei e soltei uma gargalhada enorme. Eles estavam se apaixonando novamente, depois de uma filha adulta, crises enormes e anos depois. Era lindo demais e eu fui observadora de tudo isso.No final da minha faculdade, eles já estavam juntos novamente e foi quando minha mãe decidiu começar a tentar engravidar.
Levou dois anos pra isso acontecer pois como tinha o histórico de cistos e os remédios da ansiedade, ela teve um pouco de dificuldade biológica. Mas nada que fosse impossível.
Agora ela está com 8 meses completos e carregando meu irmão, Benício, que já é nosso xodó.
Nunca pensei que fosse ficar tão apegada em crianças mas depois da descoberta da gravidez da minha mãe, virei a louca por crianças. Imaginava nossa família se completando de um novo jeito com uma pessoinha nova e maravilhosa. E isso ainda me deu mais incentivo de investir na área da pediatria hospitalar. Fiz alguns cursos complementares e em aprofundei nesta área linda e tão preciosa.
Minha profissão é tão necessária quanto a medicina. Ser enfermeira era tudo que eu sempre quis e sou muito grata por isso. Faz alguns meses que eu trabalho aqui no hospital, e já ganhei muitas experiências necessárias.
E a vida seguiu tão diferente daquilo que eu imaginava, mas algumas coisas sempre permaneciam inatas... Agora tenho um irmão, minha melhor amiga está do outro lado do mundo e infelizmente eu ainda penso no Reinier.
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Amado
RomanceDesde de criança Letícia sempre foi apaixonada por Reinier, e esse sentimento evoluiu com ela. Com o futuro á espera, Letícia e Reinier descobrirão o amor e suas consequências, boas e/ou ruins. ''Como pode ser gostar de alguém, e esse tal alguém n...