𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟿

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Bati a porta do quarto com a visão embaçada das lágrimas que caiam sem parar. Sempre foi assim, nunca precisei forçar choro ou alguma situação triste. Porra de intensidade!

- Le? Abra a porta – levei um susto ao ouvir Reinier bater na minha porta.

Respirei fundo e enxuguei um pouco meu rosto, que obviamente já deve estar vermelho e inchado, e abri a porta o vendo, agora vestido com uma camiseta cinza e calção, apoiado no batente.

- A gente pode conversar? – ele quase sussurrou assim que terminou de suspirar olhando meu rosto com atenção. Assenti com a cabeça e dei espaço deixando ele entrar. No mesmo momento que ele passou por mim, já consegui sentir seu perfume, e juro, quase fiquei tonta.

- Tava chorando? – perguntou me olhando enquanto eu sentava na cama.

- O que você quer, Reinier? – consegui olhar nos seus olhos que se encontravam opacos e baixos. Não muito diferente dos meus.

Ele continuou me olhando como se pensasse em dizer algo e logo desistisse. Fiquei desconfortável com o seu olhar, por um momento me senti nua. Reinier sentou na minha frente e pôs seus cotovelos nos joelhos, uniu as duas mãos, e disse:

- Tem uma série de coisas complicadas acontecendo na minha vida, Le. – ele continuou fitando o chão e eu o ouvia atentamente. – e eu não sei como lidar com tudo isso.

Reinier terminou a frase me olhando e pude ver o desespero no seu rosto. Congelei, pois eu não tinha entendido nada. Como assim? Pra mim a vida dele é perfeita e ele é um dos caras mais sortudos do mundo, mas na verdade eu olhava nos olhos de um menino que precisava de ajuda e afeto.

Engoli seco e tentei formular alguma frase que faria sentido mas na verdade nada daquilo tinha sentido na minha cabeça.

- Você quer...conversar? – vacilei um pouco e me aproximei um pouco dele. O meu gesto fez ele me encarar e piscar os olhos algumas vezes. E isso fez meu rosto esquentar.

- A Júlia te contou da minha proposta? – ele perguntou, franzi a testa tentando me recordar de algumas das minhas conversas com a sua irmã mas foi em vão.

- Não – o olhei tentando saber o porquê – Por que Rei? – questionei por fim vendo Reinier suspirar pesado e bagunçar o cabelo, quase numa tentativa de aliviar algo.

Senti meu estômago afundar o vendo deste jeito. Eu não o reconhecia. Não pode ser o mesmo garoto que havia me tratado de forma arrogante à 10 minutos atrás.

- Eu vou ser vendido pro Real Madrid. Vou pra Europa em março, Le – ele soltou tudo isso e a minha mente se transformou numa bola de neve compreendendo o que estava acontecendo.

''Eu tô perdendo ele, Leti.''

As palavras da minha amiga nunca fizeram tanto sentido. Entendia as brigas deles. Óbvio que eles iriam se afastar, e isso era quase anormal quando o assunto eram eles. O amor que a Jú nutria pelo irmão dela, era uma das coisas mais lindas que eu já havia visto na vida. Os dois eram feito unha e carne, não os via separado e muito menos longe. Eu só não entendi essa dor que o Rei estava expressando, já que isso era algo tão maravilhoso e bem visto na sua profissão... Ele iria alcançar o mundo, praticamente.

- Rei, eu entendo a dor da Jú... mas a sua... – eu não terminei de falar e o peguei de surpresa com a minha fala, pois o mesmo arregalou levemente os olhos e por um milésimo de segundos, segui seus olhos mirando a minha boca. Ele notou e continuou a conversa.

- É complicado, eu não queria ir embora. Não agora... porra, é complicado. Não é ingratidão mas o momento não era esse, você entende? – me fitou com os olhos apertadinhos e quase me rendi.

AmadoOnde histórias criam vida. Descubra agora