𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟽

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Já faziam sete dias que eu estava quase pirando naquela casa. A tal namorada do Reinier era insuportável, todo dia tinha festa (não passei vergonha mais) e SEMPRE no outro dia a Jú e o Rei brigavam feito cão e gato. Por mais que ela se abra comigo, nunca me fala os motivos das brigas mas chora muito depois. Já tentei falar com ela pra todo mundo ir embora, sendo que não estava legal aquele clima, mas a mesma disse que precisava de mim e do Noga por perto.

'' – Letícia, você não entende... o Rei, ele não é mais o mesmo... – minha amiga apertou mais o abraço, molhando meu ombro com as suas lágrimas – eu tô perdendo ele, Leti. Pra sempre.''

Tentei conversar com o Reinier mas ele só me ignorou e ainda por cima a Duda se meteu e discutimos.

- Ninguém tem que se meter na sua relação com a Júlia, Rei. - ela falou em tom de deboche olhando pra mim. Juro que senti meu rosto queimar na hora. Reinier já me olhou de soslaio vendo que eu iria explodir a qualquer momento.

- Qual seu nome mesmo, menina? - perguntei colocando uma mão na cintura vendo ela erguer as sobrancelhas com o meu ''menina''. Reinier tentou abraçá-la pela cintura e ela me respondeu ácida.

- Eduarda, olh...- a interrompi.

- Fique você sabendo que eu não sou ''ninguém'', e sim faço parte desta família... Não cheguei na fase boa viu, Duda. - cuspi as palavras na cara dos dois e me retirei dali feito um foguete.

Um caramba que eu iria aceitar desaforo de uma namoradinha do Reinier que só sabe se aproveitar e dar opinião onde não é chamada. Reinier é outro também, não reconheço o menino puro e maravilhoso que eu conheci na infância. Agora só vejo uma pessoa dependente de lúxuria e dinheiro. Poxa cara, nunca via o Rei tratar a Jú mal ou até mesmo brigar com ela. Quando éramos crianças ele sempre a protegia na escola, batia em quem implicasse com ela, e não desgrudava da irmã... Isso me dói muito, ver minha amiga e o menino que eu mais marcou minha vida, nessa situação dolorosa.

Resolvi ligar pros meus pais, o clima na casa não estava nos melhores e eu sempre absorvia mais que os outros. Quando meus pais brigavam, e quando brigavam, eu sentia como se fosse comigo. Situações deste tipo carregavam a minha energia negativamente, e me faziam mal. Não irei me surpreender se enxaquecas começarem a me atormentar.

- Meu benzinho, tô sentindo a sua voz tão baixinha, tá tudo bem? – meu pai perguntou com o seu tom de voz carinhoso. Que saudade deste homem. Tentei disfarçar um pouco e ri fraco da sua pergunta.

- Não, pai... só estou cansada da praia mesmo - suspirei olhando pro céu azul.

- Volta pra casa então, pretinha – ele disse me fazendo rir – sua mãe ta disfarçando mas também está morrendo de saudades. – ouvi minha mãe resmungando no fundo a ligação, ela sempre queria demonstrar força quando estávamos separadas, dizia que era por mim.


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Fiquei sendo bajulada pelo meu pai por meia hora no telefone e terminei a ligação com lágrimas nos olhos. Eu iria resolver está situação, e era agora.


Adentrei o quarto desconhecido e sentei na cama arrumada. Estava ouvindo o chuveiro ligado, então, ele estava aqui.

Ok, Leti, respira. Vai dar certo. Só seja você mesmo e fala com jeitinho.

Sai da minha transe com a visão do garoto moreno com uma toalha enrolada na cintura.

CONCENTRA!

- Reinier...- vacilei ao falar o nome dele, burra do caramba, ele me olhou com as sobrancelhas arqueadas e riu quando percebeu meu olhar demorar no seu corpo.

- Esse é meu nome, como você sabe? – falou debochado indo até o cômodo em frente onde eu me encontrava sentada e babando. Como que pode?

Me lembrei do meu propósito de estar ali e comecei me levantando como se isso fosse impor algum tipo de autoridade.

- Rei...nier. Vou perguntar somente uma vez – ele me olhou curioso se encostando e cruzando os braços – você ama a sua irmã? – questionei o vendo revirar os olhos e bufar impaciente. Em seguida, indaguei novamente – Ou melhor, você ama a sua FAMÍLIA? – suspirei soltando o ar.

O vi se remexer desconfortável, pronto pra me mandar cuidar da minha vida e sair dali. Eu era assim, não desistiria tão fácil, e ele me conhecia. Reinier ficou me olhando duro, como se me desprezasse. Ignorei-o e segui com a minha fala.

- Eu sei que passei muito tempo longe, não te conheço mais... Não sei o que se passa na sua vida, o que te motiva... mas eu conheço a Júlia, e ela está sofrendo. – olhei suplicante pro garoto que prestava atenção nas minhas palavras – Deve ser muito difícil pra você carregar tanta coisa, com pouca idade. Queria te dizer que você é muito mais que a promessa do Flamengo, que você vale muito mais que uma taça, Rei. Não que isso seja ruim, mas eu só vejo seus olhos tristes e vazios. Isso me dói, te afeta e afeta a Jú... – eu amaciei minha voz lembrando dele criança contando, pra todos na escola, que um dia seria um dos melhores jogadores do mundo – e eu te admiro, muito mesmo, eu sinto a tua resiliência Rei. Eu te sinto – o vi engolir a saliva e logo senti meus olhos inundarem, conexão da porra –anh... cuida da Júlia, ok? Ela precisa de você, e eu preciso dela. Obrigada.

Virei as costas sem olhar nos seus olhos e me vi chorando enquanto entrava no quarto. 

AmadoOnde histórias criam vida. Descubra agora