𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟹

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Terminei de contar pela milésima vez a quantidade de coisas necessárias que eu levaria. Fiz até uma listinha, juro, não me perdoaria se faltasse algo e só me ligasse quando chegasse lá. Estava contando as horas pro meu pai ir me levar até Búzios. Ontem ele chegou e eu já grudei nele pra pedir com carinho a sua autorização e óbvio que ele deixou, me encheu de sermões do tipo ''se cuida, não sai sozinha, usa camisinha'' nesse último comentário eu juro que queria esconder meu rosto dentro de um buraco, minha mãe só ria da minha cara e eu vermelha. Escutei tudo quietinha como uma boa menina e confirmei tudo com a Jú que se ofereceu pra vir me buscar, claro que recusei e pedi pro meu pai mesmo, logo que ele iria tirar dois dias de folga poderia me levar e voltar pra casa. Chegaria lá pelo fim da tarde, Júlia e o Rei já estariam lá. Parece que iriam fazer uma resenha com Dj e tudo. Iria chegar no meio do furdunço mesmo...Júlia me disse que os pais dela iriam chegar lá na segunda já que o tio precisaria ficar até sábado no Rio.

Peguei minha bolsa principal que tinha meus cartões e documentos. Ok. Não sei porque estava tão nervosa assim, afinal, eu conheço a Júlia a vida inteira né?!

Sim amada, conhece, só que ela não sabe que você já fui cunhada dela e perdeu o BV com o irmão mais velho dela. Que merda de subconsciente, porém fada sensata pois só disse verdades na minha cabecinha avoada.

Olha vou te contar, Reinier me intriga muito até hoje, não sei porque mas eu sempre quis suprir a frustração que ele deixou em mim, tudo bem que eu era criança, mas porra EU SENTI! E o meu medo é que tudo tenha sido intenso demais só pra mim...

Afastei esses pensamentos de mim e fui me olhar no espelho. Deixei meus crespos soltos e com volume, não passei maquiagem já que não gostava muito. Tinha decidido ir com um vestido soltinho e havaianas. Peguei as duas malas e sai do quarto para irmos de uma vez, praiou.


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- Pai, pelo amor de Deus, abaixa esse volume – pedi praticamente gritando já que ele ouvia o cd do Raça Negra no último volume possível. Ele me olhou e continuou cantando, mereço.

Continuei mexendo no celular e catando os status das pessoas. Uma ex colega da escola estava em Paris, amei, muito plena. Em compensação uma outra postou lomotif semi nua e duas horas depois postava indireta pro ex, eu hein, Deus me livre.

Fico triste com uma coisa dessas, tu namorar e amar a pessoa e depois do término ficar se odiando e desejando o mal. E isso era tão comum que eu morria de medo de acontecer um dia comigo... Nunca namorei e espero que seja com alguém especial e maduro. Por mais que eu seja nova e tenha a cabeça aberta, relacionamentos de hoje em dia não me ganham, não consigo entender algumas pessoas que só se relacionam com outras por conta de likes e/ou medo de ficar sozinho. Graças á Deus eu tenho exemplo de um casamento maravilhoso dentro de casa. Os dois se conhecem á muito tempo, sempre foram parceiros e sinceros um com o outro. Sou apaixonada por eles.

A viagem foi bem tranqüila, passei a maior parte do tempo rindo das besteiras do meu pai e da sua super proteção. Quando estávamos quase chegando em Búzios ele começou com o drama e no celular era minha mãe mandando emojis de tristeza. Fiquei com o coração apertadinho quando meu pai disse que ficaria com saudades de mim e que a casa ficaria silenciosa sem os meus surtos diários. Eu também sentiria falta deles, então combinamos de fazer FaceTime dia sim e dia não. Ele adorou né.

Entramos em uma estrada de terra que tinha pasto e árvores dos dois lados e algumas casinhas simples. O por do sol ficou bem avermelhado na nossa frente deixando aos poucos o azul do céu, roxinho.

- Acho que é ali...- meu pai falou quando viu uma cerca eletrônica e uma guarita pequena no lado direito. Já tinha mandado mensagem pra Júlia e a mesma disse que liberou nossa entrada.

Quando o carro chegou perto da entrada o portão já se abria, e vi um moço fazendo sinal de positivo, meu pai buzinou como resposta.

O lugar era lindo real, tinha até quiosque e óbvio um campinho de futebol NE... Porquê será.

Estacionamos o carro do lado do campinho que já dava pra ver a casa enorme que ficava de frente pra piscina quadrada.

- Que lugar lindo hein, Reinier deve ta ganhando muito no Flamengo – soltei um ''pai'' em sinal de repreensão, ele só deu risada enquanto descíamos do carro para retirar as bagagens.

Pior que era verdade, puta de um lugar lindo e caro, óbvio. Piscina, quiosque, campinho, lugar pra churrasco e mais a casa que era enorme. Eu já estava acostumada com o luxo da minha vida, mas meus pais nunca gostaram de esbanjar e eu fui criada assim. Não que houvesse problema, mas esses exageros explícitos ainda me deixavam sem reação.

Depois de colocar as malas no gramado do local, vi a Júlia chegando junto com um menino e um labrador amarelo, coisa mais linda. Fui correndo ao seu encontro, cara que saudades dessa baixinha.

- Amor da minha vida todinha – eu falava abraçando ela que era um pouco menor que eu e ria com o meu entusiasmo.

- Nem acredito que você tá aqui comigo, menina – ela me disse depois de ser muito abraçada – chegaram bem? Ahh... oi, tio, tudo bem? – ela foi em direção ao meu pai que brincava com ela dizendo que se lembrava dela pequeninha. Logo a Jú me apresentou ao seu amigo que se chamava Gabriel, muito simpático até.

Ficamos uns minutos conversando com o meu pai e logo ele se despediu para tentar chegar o quanto antes em Volta Redonda.

- Tá muito cansada? – Jú me perguntou enquanto íamos em direção á casa.

- Nem tanto amiga, a viagem foi bem tranqüila – queria saber o que ela  já estava aprontando, a mesma me olhou com um sorriso e continuou.

- Ótimo, geral vai começar a chegar mais tarde, ai a gente tem tempo de se arrumar pra festa – eita, já ia ter festa no primeiro dia, só concordei com tudo enquanto ela me levava até o quarto. Descemos até a sala pra ficar mais a vontade.

- Júlia, teu irmão disse que ta indo buscar os crias lá na rodoviária – Gabriel falou pra Jú se sentando no lado dela no sofá onde estávamos.

-  O Thuler né, Noga... porque o Rei nem dirige ainda... – Júlia riu e eu fiquei pensativa. Qual seria a reação do Rei ao me ver? Ai que droga, de novo esses pensamentos de criança. Pra me distrair comecei a engatar um assunto no outro com a Jú e o Noga. Ri muito das coisas que ela me contava, que quase brigou na escola porque uma menina tava afim do Rei, Júlia sempre foi ciumenta com esse irmão, nunca vi.

- E tu hein mulher, que corpo é esse? – Ela falou brincando e eu já senti meu rosto vermelho, porra de garota exagerada. Ri sem graça.

- Nada ver Jú, sou magra e baixinha

- Com esse bundão e essa barriguinha tu é perfeita isso sim – ela me cutucou com o cotovelo toda se rindo – vou ter que tirar os crias de cima de ti, né Noga – ele tirou os olhos do celular e concordou falando

- Reinier já deixou todo mundo ciente que não é pra chegar perto de ti... – ele falou rindo baixo deixando eu e a Júlia cheias de dúvidas. Meu coração chegou a parar um pouquinho, mal cheguei e aquele garoto já ta me deixando assim, vou tirar essa história á limpo.

- Ué como assim? – perguntei, já que Noga só tinha me dito isso.

- Sério, o Rei disse que pra nenhum dos crias chegarem perto de você... disse que você era amiga de infância e pa mas ninguém acreditou – fez uma pausa nos olhando – você e o Rei já tiveram algo Leti? – ele questionou desconfiado, e agora quem me olhava cheia de dúvidas, era a Júlia.

Puta que pariu!

AmadoOnde histórias criam vida. Descubra agora