Capítulo Vinte e Sete

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Capítulo Vinte e sete

O Troll e seu filhote

Ela acordou de repente e deu um salto caindo da cama, demorou alguns segundos para reconhecer onde estava. Seu quarto estava empoeirado, as cortinas fechadas e tudo coberto por lençóis brancos. Meio tonta se levantou encarando tudo por mais tempo do que precisava, caminhou até a janela a abriu deixando a luz de o sol entrar. Não sabia como chegou ali ou quem a levou. Recordava-se das emoções do outro dia, de como fora seqüestrada e levada até Lorenzo e como ele retirou suas memórias, aquilo lhe causava uma sensação horrível como uma palavra na ponta da língua que não podia ser dita. Toda vez que o rosto de Liam vinha em sua mente, por mais que forçasse, não conseguia lembrar-se o que ele estava dizendo. Estava despedaçada por dentro, arrependida e desnorteada.

Era a primeira vez naquele apartamento desde a morte de seus pais, estava tudo coberto e escuro. Com gestos com as mãos ela retirava os lençóis, abria as cortinas e ligava as luzes. Um aceno ao aspirador e ele começou a limpar a casa junto aos outros utensílios de limpeza. Ela conseguia lembrar-se de todas as vezes que precisou arrumar aquela casa manualmente, seu pai nunca contratou uma empregada, para ele era obrigação de Nina e Davina que a casa estivesse sempre limpa e arrumada.

De repente uma emoção a invadiu, uma tristeza profunda e um desespero, ela notou que estava só. Começou a chorar e se lançou ao chão, o único som naquela casa era dos utensílios encantados, ao lado de fora uma guerra sangrenta que ela não sabia em qual lado estava. Ezra nunca sequer elevou a voz para ela, Lorenzo por outro lado a sequestrou e roubou suas memórias, que direito ele tinha? Ela se perguntava.

Os dias seguintes foram piores do que aquele primeiro, ela não se importava em pentear seus cabelos longos ou se vestir, estava apenas de blusa e roupa intima sentada no sofá olhando a chuva forte que caia e as gotas que escorriam nas longas janelas de vidro que davam uma ótima vista da cidade. Ouviu-se a campainha, ela se apressou para atender sem se preocupar. Ao abrir a portava estava um homem de meia idade, um funcionário uniformizado, o gerente. Ele olhou primeiro para suas pernas e subiu até os olhos.

—Olá, preciso que assine esse papeis, as pessoas que a trouxessem no outro dia disseram que iria retornar para assinar... — ele encarava agora a casa vazia. —Posso entrar?

Ela puxou a porta para si a fechando mais.

Não! — falou enojada. —É uma ordem de despejo?— perguntou tomando a prancheta de sua mão e assinando sem sequer ler.

Ele riu com sua fala.

—Não querida, as pessoas que a trouxeram pagaram doze meses de aluguel para você. Esses são os seus recibos! — entregou um envelope nas mãos dela aproveitando para alisar sua mão.

Ela abriu a porta com força e chutou o homem no peito, ele bateu forte na porta a frente, ela olhou para o número 310, era a casa dele.

Está maluca?! O homem gritou.

Eu te mato a próxima vez que se aproximar de mim. — Jurou ela entrando e deixando que a porta se fechasse sozinha, sem se importar se ele sabia ou não da magia.

Perguntava-se se eles sabiam que seu pai não havia lhe deixado nada, ou se acharam que o dinheiro do Torneio já havia acabado, ou simplesmente queriam aplacar suas atitudes, seja como for ela não pensou muito nos motivos. Ao se sentar outra vez no sofá começou a lembrar da porta que viu brevemente, por vezes esperava o menino passar ali, o olhava chegar do C.E.M, nunca soube como ele não descobriu sobre sua natureza mágica. Pensou tanto nele que nem percebeu que havia se levantado saído de seu apartamento se lançado ao chão do corredor e agora encarava o número 310. Sentiu uma presença e logo viu no corredor uma figura, uma mulher de calça jeans, jaqueta, cabelos volumosos e cacheados, se aproximava com as mãos nos bolsos de trás. Ela não sentiu a mesma raiva que sentiu da última vez que viu Rose, não sabia explicar o porquê.

TABULEIRO VERMELHOOnde histórias criam vida. Descubra agora