Eu e Harlan já fomos próximos. Já fomos. Antes dele se tornar essa pessoa repugnante, egoísta.
- Tá tudo bem? - ele me perguntava, enquanto minha única preocupação era como conseguir minha futura viagem.
- Mamãe brigou comigo. - Falava entre os soluços, tentando ao máximo engolir o nó na garganta.
- O que você fez?
- Deixei o prato cair.
- Amanhã nós iremos comprar outro. Tudo bem?
Concordei com a cabeça e ficamos ali, abraçados até adormecermos.
A porta estava trancada, bati várias vezes, ninguém me respondia. Talvez eles estivessem muito cansados, pensei. Me encostei na porta e me permiti deslizar até o chão, escondendo meu rosto entre minhas pernas que estavam sendo abraçadas por meus braços.
No dia seguinte me levantei rapidamente. Eu havia adormecido sem perceber. A porta continuava trancada. Estranhei meus pais dormirem tanto, nós tínhamos uma viagem pra fazer.
Bati na porta na esperança de acordá-los, pensando que eles tinham perdido o horário. O despertador tinha dado problema, e não seria a primeira vez.
- Mamãe? Papai? Vocês estão atrasados.
Novamente não obtive respostas, não pensei em fazer nada. Provavelmente deviam estar cansados. Procurei por Harlan na casa inteira, até na casinha do Bob. Ele não estava lá.
A campainha tocou. Corri até o portão, talvez meus pais tenham passado a noite fora. Mil idéias passavam por minha cabeça, mas elas se foram assim que vi Juditte, nossa empregada.
- Emma! Vocês não foram viajar?
- Não.
-Onde está Harlan? - Ela perguntava enquanto preparava o almoço.
- Não sei.
- Como não?
- Acordei e ele não estava mais aqui.
- E seus pais?
- Acho que não dormiram em casa, o quarto deles está trancado.
- Como assim trancado?- Sua expressão era confusa, mas logo se transformou em uma totalmente patética quando ouviu minha resposta óbvia.
- A porta não abre.
- Sim, disso eu sei. Eles não deixaram nenhum bilhete nem nada?
- Acho que não.
- Você pode pegar a chave reserva pra mim?
- Sim.
Andei até um suposto "esconderijo" que todos nós havíamos criado para esconder as chaves caso fôssemos viajar e peguei a chave do quarto dos meus pais, entregando a Juditte. Ela abriu o quarto e sua expressão logo ficou apavorada, não entendi.
Tentei abrir mais a porta pra poder ver, só que ela não deixou.
- O que foi? - Disse enquanto Juditte me carregava pra fora de casa.
Ela não disse nada, apenas me levou para o seu carro que estava estacionado na frente de casa.
- Hei, o que aconteceu? O que tinha lá? - Perguntei, assim que ela ligou o carro.
- Nada, nós apenas vamos para a minha casa.
- Eu não quero ir para a sua casa.
Pouco antes de dar partida, abri a porta e corri pra dentro novamente, indo em direção ao quarto. Abri a porta rapidamente. O que estava lá simplesmente acabou comigo. A imagem dos meus pais... jogados na cama como meros objetos encharcados com seu próprio sangue. Pensei ser uma brincadeira de mal gosto de todos eles. Andei até a cama, eles estavam frios. Aí eu percebi que era real. Me desesperei, sentindo ânsia, sentindo meus olhos arderem com as lágrimas e me recusando a acreditar no que estava vendo. Ao perceber que estava pisando no sangue, me afastei. Aquilo não era real.
Juditte tentou tampar meus olhos, mas era tarde demais. Ela me levou para o carro novamente, dessa vez eu apenas fui. Meu pensamento estava apenas em Harlan.
E quanto mais o tempo passou, mais meu ódio por ele aumentou.
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Quem é você?
RandomEmma é uma garota que, como todo mundo, enfrenta problemas na vida. Quando menor, seus pais foram mortos por seu irmão Harlan. Ela teve que morar com sua tia Lucy desde os 6 anos da qual sofria abusos tanto físico quanto verbal. Apesar de tudo, ela...