Quem é você?

Capítulo 10

  - Você mora aqui, agora? - disse quando cheguei em casa e vi Lucas.
  - Sim.
  - Legal.
  Joguei a mochila no chão e senti um belo de um alívio. Nunca pude fazer uma coisa dessa, agora posso.
  - Nós vamos sair. - ele disse, assim que me sentei ao seu lado.
  - Não estou disposta.
  - Só nós vamos sair. Eu e você.
  - Por quê?
  - Porque sim.
  - Onde nós vamos?
  - Você vai ver.
  Subi e troquei de roupa preguiçosamente, eu realmente estava cansada.
  - Vamos, senhor misterioso?
  - Não acho que você se vestiu adequadamente para a ocasião, senhorita.
  - Algum problema com as minhas botas? Você não disse para onde nós vamos, não tem como eu adivinhar.
  - Não é uma balada.
  Subi as escadas novamente.
  - Está ótima. - ele disse assim que me viu com um vestido qualquer.
  Sorri. Ultimamente sorrir era como uma porta de escape. Se você não entendeu o que uma pessoa te falou, sorria e torça para não ser uma pergunta. Se ela te xingou, você está evitando uma bela discussão. Ou se está em um momento embaraçoso e não sabe o que falar, sorria.
  -Não acredito que você me trouxe aqui.- disse assim que chegamos.
  O local era repleto por flores, árvores, grama e luzes. Um rio cortava o parque de fora a fora, tendo sobre si uma ponte de madeira. Era ali onde eu e Lucas sempre nos encontrávamos quando crianças. Foi ali onde nós demos o nosso primeiro beijo. Selinho, mas para crianças era considerado beijo.
  -Aqui é muito importante pra mim. - ele disse olhando ao redor.
  -Eu sei. Mas por que você me trouxe aqui?
  -Você é muito especial para mim, por isso quero te apresentar a uma pessoa.
  - Quem?
  - Já volto.
  Ele sumiu no meio das pessoas. Me apoiei em uma das madeiras da ponte e observei os galhos e folhas sendo levados pelo rio. Quando havia uma pedra, seu caminho era apenas interrompido. Porém era apenas questão de tempo até o pequeno graveto desviar e continuar seguindo o caminho pelo qual o rio o levava. Alguns ficavam presos, outros conseguiam seguir seu percurso. E a vida é assim, há pessoas que não conseguem superar os problemas que a vida lhes impõem e existem as que lutam para mudar seu destino. Cada um escolhe o caminho que quer.
  -Emma? Você está ai?
  - Sim.
  - Essa é Bárbara. Bárbara, essa é Emma, minha quase irmã.
  - Muito prazer. - ela estendeu a mão para mim. Estendi de volta. Olhei para Lucas e esperei uma explicação, eu realmente não estava entendendo o que estava acontecendo ali.
  - Lembra de quando a gente foi no Ever Over e pouco antes da sua tia ligar eu falei que gostava de uma garota? Então. Nós estamos namorando.
  Aquilo não podia estar acontecendo. Para Lucas eu era apenas uma "quase irmã", segundo ele. A garota era realmente bonita, competir com ela era quase que impossível. Me surpreendi que o estilo de garota para ele seja assim, era uma completa... Seu perfume era tão doce que me dava enjoo.
   Esperei o nó na minha garganta descer e a vontade de chorar passar. Foram longos segundos em silêncio, com os dois me encarando. Eles estavam de mãos dadas. Ela estava de mãos dadas com o Lucas. Eu queria arrancar o cabelo loiro e sedoso dela. Mas ela dava duas de mim, então a imagem de arrancar o cabelo dela por enquanto era o suficiente apenas imaginando.
  -Felicidade a vocês dois.
  Foi só o que eu consegui falar. Felicidade a vocês dois. Sabe aquela sensação de peso na consciência? Aquela sensação de se sentir nojenta, de vergonha, de querer sumir. Era tudo o que sentia.
  -Obrigada. - ela disse. O pior de tudo é que ela era legal, muito legal. Não tinha arrogância no olhar, não parecia ser o tipo de garota que zoava a nerd da sala, mas sim a que faz de tudo para ajudar os outros.
   Eles começaram a se beijar e esqueceram da minha existência. Foi a cena mais nojenta que eu já presenciei na minha vida. Apenas saí dali, já que notei que não faria falta. O pior de tudo foi ele ter escolhido o nosso lugar para apresenta-lá a mim. Ainda fazia muito frio. Aquele estava sendo o pior ano da minha vida.